De certa forma, no momento em que entendi e aceitei quem eu sou, me senti livre pela primeira vez. Como se um peso enorme que me colocava pra baixo tivesse sido tirado das minhas costas, mas junto do sentimento de liberdade eu também percebi um certo... Vazio.

Durante toda a minha vida eu sempre imaginei que seria como qualquer outra pessoa. Que eu venceria a minha natureza introvertida e me soltaria mais um pouco, que estudaria e teria um emprego decente, que encontraria uma mulher que chamasse minha atenção, me casaria e teríamos alguns filhos, até que eu finalmente envelheceria e deixaria esse mundo deixando para trás um legado que seria mantido por todas as pessoas com quem me relacionei.

No entanto, eu não consigo me distanciar do pensamento de que agora que eu sei que não me encaixo nas normas sociais aceitáveis, eu talvez esteja fadado a deixar tudo isso para trás como um simples objetivo não realizado. E o vazio aumentou se um jeito que eu não conseguia deixar pra lá.

Com isso, eu finalmente encontrei algo que me fazia esquecer de todas essas preocupações, por um momento: Adrenalina.

Confesso que meu psicológico e minha auto estima realmente aumentaram bastante desde que percebi isso. Não é atoa que escolhi uma das profissões mais perigosas do nosso país (polícia). Como passatempos agora eu sempre busco elevar o meu corpo a máxima sensação de adrenalina. Esportes radicais, viajens para os lugares mais inusitados quanto possível, e isso sinceramente me deixa feliz. (Apesar de alguns dos meus conhecidos insistirem que isso se trata de comportamento autodestrutivo). Então... Essa é a minha forma de lidar com isso. A adrenalina de ter a sua vida por um fio é para mim, insubstituível. E vocês, como lidam com o vazio?

Gostei muito da pergunta, brother!!

Eu já tinha esse vazio existencial antes. De um modo ou de outro, sempre fui visto como um "desdichado" porque minha biografia tem um detalhe meio mórbido (o assassinato da minha mãe  etc.). Então as pessoas acabavam me vendo como um "menos" (e não estou me referindo àqueles bonecos do mangá Bleach).
Preenchi aquele vazio, com conhecimento. Mas não autoconhecimento. Então eu caí tipo numa armadilha, porque muito conhecimento nos torna chatos pra caramba. Então as pessoas tomaram mais distancia do que antes, quando eu era alvo de pena.
Depois eu conheci a (pesquisadora) Elisabete de Oliveira e foi muito interessante ter feito aquela entrevista com ela. Mas, assim como você, saber que sou ace não melhorou em nada a situação. Entretanto - e o final da história ainda não é feliz porque ela ainda não acabou - não desencanei e meti uma bala na cabeça (aí esse texto estaria sendo escrito por um médium kardecista) porque ainda tenho muita curiosidade, muita vontade de aprender.
É essa vontade (sobre a qual não tenho controle) que me leva adiante. É meio que um otimismo, eu acho.

Apesar de nossas situações serem diferentes eu com certeza me identifico com a parte de ser deixado de lado como o "anormal". E assim como você, é algo que acontecia mesmo antes de me identificar como Ace.

Também achei interessante a sua busca por conhecimento. De fato, o mundo é um lugar imenso e com muito a se descobrir. Entendo porque usou isso como maneira de lidar com a sua crise existencial...

Dias Crowley escreveu:

De certa forma, no momento em que entendi e aceitei quem eu sou, me senti livre pela primeira vez. Como se um peso enorme que me colocava pra baixo tivesse sido tirado das minhas costas, mas junto do sentimento de liberdade eu também percebi um certo... Vazio.

Bom saber que se sentiu livre com a autoaceitação. Quanto ao tal Vazio, pelo que descreveu, encontrou uma forma de preenchê-lo... e talvez venha a encontrar outras maneiras.

Dias Crowley escreveu:

Durante toda a minha vida eu sempre imaginei que seria como qualquer outra pessoa. Que eu venceria a minha natureza introvertida e me soltaria mais um pouco, que estudaria e teria um emprego decente, que encontraria uma mulher que chamasse minha atenção, me casaria e teríamos alguns filhos, até que eu finalmente envelheceria e deixaria esse mundo deixando para trás um legado que seria mantido por todas as pessoas com quem me relacionei.
No entanto, eu não consigo me distanciar do pensamento de que agora que eu sei que não me encaixo nas normas sociais aceitáveis, eu talvez esteja fadado a deixar tudo isso para trás como um simples objetivo não realizado. E o vazio aumentou se um jeito que eu não conseguia deixar pra lá.

Você pode deixar um legado sem precisar se casar e ter filhos...

Dias Crowley escreveu:

Com isso, eu finalmente encontrei algo que me fazia esquecer de todas essas preocupações, por um momento: Adrenalina.
Confesso que meu psicológico e minha auto estima realmente aumentaram bastante desde que percebi isso. Não é atoa que escolhi uma das profissões mais perigosas do nosso país (polícia). Como passatempos agora eu sempre busco elevar o meu corpo a máxima sensação de adrenalina. Esportes radicais, viajens para os lugares mais inusitados quanto possível, e isso sinceramente me deixa feliz.

Fiz algumas viagens (para outras cidades, Estados, países), quando mais novo, mas de modo geral me considero bem caseiro. E ao contrário de você, evito situações em que minha vida possa ser colocada em perigo. Mas se a adrenalina lhe faz bem, quem sou eu para condená-lo?

Dias Crowley escreveu:

(Apesar de alguns dos meus conhecidos insistirem que isso se trata de comportamento autodestrutivo). Então... Essa é a minha forma de lidar com isso. A adrenalina de ter a sua vida por um fio é para mim, insubstituível.

Já conversou com um(a) psicólogo(a) a respeito disso? Talvez o ajude no processo de autoconhecimento, assim como os tópicos do fórum (sugiro que comece pelos Tópicos Selecionados, na parte inferior da barra lateral direita).

Dias Crowley escreveu:

E vocês, como lidam com o vazio?

Procuro praticar atividades das quais gosto... é algo que me ajuda bastante.
Ler, ouvir músicas, cantar, ver vídeos (Youtube), ajudar pessoas (ajudando-as a encontrar emprego, ensinando o básico sobre finanças, dando dicas sobre concursos públicos, entre outras coisas), passear com minhas cadelas, ir a eventos diversos, etc. Voltar a namorar seria interessante, mas como é algo que não depende só de mim, nem crio grandes expectativas em relação a isso.

A muito tempo não aparecia uma pessoa que trouxesse seus questionamentos, muito obrigado por compartilhar. Com certeza vc deve ter outros, e, quando tiver traga-os para debater-mos.

Dias Crowley escreveu:

E vocês, como lidam com o vazio?

Quando me descobri ace, tive as mesmas sensações que vc, a diferença é que descobri na idade madura e não deixei que essa condição alterasse a minha personalidade ou a pessoa que eu já era.
Se tivesse descoberto bem mais cedo, eu teria feito outras escolhas, mas posso escolher melhor agora.
Sempre fui um cara mais na minha. Adoro ficar sozinho. As vezes sentia falta de pessoas para conversar assuntos da vida ou sobre o melhoramento do ser humano. Todavia, eu só encontrava pessoas que queriam falar mal de outras pessoas ou reclamar da vida e isso me aborrecia. Como eu não era namorador, eu preenchia meu tempo em aprender coisas como, pintura, lia muito, escrevia e compartilhava na internet meus questionamentos e visão da vida o que em algumas ocasiões tive a oportunidade de palestrar em reuniões filosóficas ou espíritas (nunca segui religião alguma), fazia dança de salão (faço até hoje), aprendia a tocar algum instrumento musical e viajava para cidades próximas para conhecer lugares e outros comportamentos. Claro que isso tudo não foi de uma unica vez.
Enfim, pela sua idade, acredito que a vida ainda lhe trará surpresas mesmo que vc nunca tenha pensado que veria em sua vida. E assim vamos seguindo.

Frank_Hase escreveu:

Eu já tinha esse vazio existencial antes.
Preenchi aquele vazio, com conhecimento. Mas não autoconhecimento. Então eu caí tipo numa armadilha, porque muito conhecimento nos torna chatos pra caramba. Então as pessoas tomaram mais distancia do que antes, quando eu era alvo de pena.

Passei pela mesma situação. Tb caí nessa armadilha. Na minha adolescência eu ficava muito sozinho e não me enturmava e nem me encaixava em nada, foi quando descobri o mundo dos livros. Meu pai tinha uma pequena biblioteca em casa com livros de todos os assuntos possíveis. Fora o horário da escola, eu não saía da bliblioteca explorando todos aqueles assuntos. Adorava Ler a Enciclopédia Barsa, e fui atraído pelos assuntos "exotéricos".
Muita coisa eu não entendia bulufas de nada, mas eu achava que saber daqueles assuntos me tornaria importante quando falasse com outras pessoas. Além que eu achava chic falar um português mais polido e difícil como nos livros de Machado de Assis.
Bem, na escola eu impressionava os colegas com assuntos de viagem astral e simpatias, rssss!!!! Eu comprava na banca de jornal, toda semana, uma revista de simpatia e decorava tudo, aí elas vinham fazer consultas comigo para atrair um carinha que elas gostavam. Era muito legal!!! kkkkk
Depois comecei a escrever poesias, escolhias as palavras mais difíceis que eu conseguia encontrar, e, ao inves de impressionar eu era totalmente incompreendido. Ninguém entendia minhas poesias ou minhas mensagens eu ficava muito frustrado. Mesmo eu explicando, parecia que nada fazia sentido para as pessoas.
Foi uma fase terrível. Cheguei até a lançar, por produção independente, dois livros com todo material que escrevi e vendi alguns e dei outros. Daí comecei a escrever para mim mesmo. Demorei muito tempo para deixar de ser "chato" para voltar a ser natural.

Frank_Hase escreveu:

porque ainda tenho muita curiosidade, muita vontade de aprender.

Sim, investir em autoconhecimento fez toda a diferença pra mim. Andei por muitas religiões, mas não encontrei uma que batesse com o meu sentir, daí optei por me tornar um livre pensador mesmo.
A forma para se conhecer ou o caminho não é importante, pois este processo já se inicia quando se começa a buscar. Costumo dizer que somente pelo conhecimento externo e de si mesmo é que iremos dissipar a névoa que nos cobre a consciência e que a ignorancia nos impede de enxergar. É assim que vamos moldando nossos conceitos, nosso caráter e quem nós somos. E é assim que vamos atraindo pessoas semelhantes para nosso convívio.
Como tb costumo dizer: A vida é bondosa e justa e jamais colocaria em seu caminho algo que fosse fatal pra vc perder... Como em uma escola, a vida só poe em seu caminho algo que ela sabe que precisa superar ou que já é capaz de passar da melhor forma, e quando age de forma não condizente com o que deveria, na hora vc se sente mal com vc mesmo. Esta é a beleza e a perfeição da vida!

Eu já nasci com um vazio existencial, nada que eu fazia me preenchia.
E mesmo tendo uma filha, que toma de certa forma seu tempo integral !
Me encontrei um pouco na fotografia uma forma de me
refugiar, uma válvula de escape...
mas a infelizmente muitas decepções e desilusões,que acabei me
afastando daquilo que me dava prazer.
Me pergunto se este vazio é consequência das minhas insegurança e da depressão.

Danyelhe escreveu:

Me pergunto se este vazio é consequência das minhas insegurança e da depressão.

O que percebi por experiencia propria é que insegurança, depressão e vazio é um estado de seu espírito, e, consequentemente, o mundo a sua volta fica sem graça, pois vc vê nele refletido o reflexo de sua alma.
Todavia, o sol nasce radiante todas as manhãs e não está nem aí para sua dor. E como a nossa vida é feita de escolhas, vc pode escolher como quer passar o seu dia: triste, pra baixo, emburrada ou alegre, pra cima e sorridente?
Então quando saio de casa para o trabalho, dou bom dia ao sol, bom dia ao céu e bom dia a vida! Agradeço por estar vivo e por estar tendo mais uma oportunidade de fazer diferente. Só com isso já chego ao trabalho com outra energia.
Tenho uma amiga que todas as manhãs, ao entrar no carro a caminho do trabalho, liga o som e vai cantando até o trabalho. E ainda filma com o celular pra compartilhar com os amigos sua performance. rsssss!!
A vida tem seus períodos de altos e baixos assim como nosso humor. E não é pq estamos na fase ruim que temos que lamentar. Quanto a isso não há o que fazer, a não ser esperar passar. Até lá sorria, cabeça erguida, peito pra fora e barriga pra dentro. Se assim o fizer se surpreenderá com os resultados.

Shipow escreveu:

..........
Depois comecei a escrever poesias, escolhias as palavras mais difíceis que eu conseguia encontrar, e, ao inves de impressionar eu era totalmente incompreendido. Ninguém entendia minhas poesias ou minhas mensagens  eu ficava muito frustrado. Mesmo eu explicando, parecia que nada fazia sentido para as pessoas.
Foi uma fase terrível. Cheguei até a lançar, por produção independente, dois livros com todo material que escrevi e vendi alguns e dei outros. Daí comecei a escrever para mim mesmo. Demorei muito tempo para deixar de ser "chato" para voltar a ser natural.

Pou cara! Deixa eu ler! Eu também escrevo literatura e tenho um monte de amigos (que não são ace) que escrevem. Já lecionei literatura também, por três anos. Enfim, eu gosto bastante de poemas também (Paul Celan, Fernando Pessoa, Thomas Eliot etc.)[/quote]

Respostas muito interessantes. Todas elas. Agradeço pela atenção. A verdade é que para pessoas como nós, uma relação de amizade e confiança mútua pode ser bem complicada... Pelo menos no meu caso. Fico feliz em poder compartilhar aqui.