Boa noite. O meu nome internáutico é Glacio e acabei por me juntar à comunidade... confesso que ainda estou um bocado confusa mas o facto é que sempre achei que teria que haver uma explicação para, em 22 anos de vida e mesmo tendo namorados, nunca ter sentido atracção sexual por nenhum... não que não os amasse (e aqui é que sempre me senti incompreendida). Eu amava-os; mas não os desejava sexualmente. Com o tempo fui desistindo de dar esta justificação, porque apercebi-me que a maior parte das pessoas não compreende como é possível sentir uma parte e não a outra e só levava, quando muito, a discursos condescendentes. Até aos meus 17 anos as pessoas diziam "é da idade". Mas quando o facto se manteve por mais 5 anos, numa idade em que socialmente se espera que o indivíduo seja sexualmente activo, comecei a lidar com a confusão dos outros e, sobretudo, minha... Que teria eu de errado? Nas raras saídas com amigas ouvia frequentemente o quão desejáveis os rapazes eram, olha aquele ao fundo, não é um pão? O máximo que eu conseguia era confirmar friamente (segundo as pessoas) que sim, era "esteticamente agradável"... mas não entendia o entusiasmo. Eventualmente tive as minhas primeiras experiências a assistir pornografia, que não passaram de 4, uma vez que não achei fascinante ou estimulante... Poder-se-ia pensar (e é isto que sucede frequentemente) que sou uma pessoa puritana. Mas tal não é verdade. A minha falta de atracção sexual nunca foi repressão direccionada contra mim mesma... aliás, nunca houve sequer repressão. Pelo contrário, que eu saiba não tenho nenhum tabu sexual, mas isso deve-se ao facto de eu sempre ter encarado a questão sexual de forma analítica (talvez consequência da minha falta de desejo). A dada altura passei por lésbica, o que foi bastante engraçado (para o senso comum, a rapariga que não morre de desejo por estar nos braços de um homem é lésbica e vice-versa). Pelo que no final... sempre vivi o assunto da minha sexualidade de forma muito confusa.
A ideia de que talvez eu fosse assexual surgiu há 3 anos quando li um livro sobre orientações sexuais (cujo título não recordo, pois foi-me emprestado por uma amiga minha pertencente à comunidade LGBT na tentativa de me ajudar a esclarecer). Muito mais curto que os outros havia, a certa altura, um capítulo direccionado à assexualidade... e por uns segundos fez-se luz no meu íntimo. "Poderá ser?". Mas mesmo assim, a ideia (nova para mim) parecia-me também demasiado estranha. Mas lá está: a ideia, não a realidade. Porque a realidade parecia ser a minha e essa não me era estranha.
Nos últimos tempos decidi encarar o facto de frente (também devido a pressão do meu namorado actual que, ao fim de 10 meses, obviamente que tem "necessidades" e eu tenho deitado areia para os olhos e adiado) e procurar informar-me mais sobre o assunto. Contudo também sei que a orientação sexual não é estanque e que pode mudar ao longo da vida: talvez as pessoas "estejam" assexuais e não necessariamente "sejam"? (temos a felicidade de falar uma língua que diferencia o estar do ser, o mutável do permanente).
Desculpem o testamento mas, pela primeira vez, vi-me livre de escrever algo semelhante sem esperar ouvir/ler comentários condescendentes, creio. De qualquer forma, àqueles que tiveram paciência, agradeço o tempo dispensado nestas divagações que, seguramente, não acrescentam nada de novo.
Um bem haja,
Glacio