Esse texto foi publicado originalmente por mim na grupo: https://www.facebook.com/groups/395428620526278/ em 23/072015

Ou, por que a cura gay é crime?

A história da sexualidade recente tem dois aspectos interessantes para explicar o que quero dizer aqui. Primeiro é a ideia de natureza sexual. Freud e Reich podem definir os paradigmas aqui. Freud do lado da natureza caótica, que precisa ser reprimida. Reich, do lado da natureza harmônica que precisa ser liberada. Esses dois paradigmas fazem parte do senso comum, com diferentes aplicativos, que chamarei de posição "conservadora".
A posição conservadora para a diversidade sexual é que tais anomalias, apesar de inconvenientes para a harmonia social, são parte da natureza humana. Gradualmente, como uma política de redução de danos, a mesma complacência que era dada a promiscuidade masculina e a "função social" dos bordeis como arrefecedores da lascívia, se estende às outras formas de comportamento sexual desviante.
As diversas teorias de "opressão estrutural" que ressurgiram no pós-guerra, suscitaram movimentos ideológicos/políticos que passaram a encontrar na defesa da "natureza" o dispositivo político de resistência dos oprimidos - apesar das óbvias contradições que isso suscita, como o próprio Foucault já falava.
Eventualmente, as "marcas" históricas, sociais e naturais de um indivíduo passaram a virar politicamente sua própria armadilha. Lutar contra sua própria natureza passa ser um sinal manifesto da opressão estrutural. Por isso, a primeira coisa que pensamos ao ouvir falar de indivíduos assexuais é que se trata, no fundo, de alguém reprimido. Mas, também, o jogo hermenêutico pode mudar: um indivíduo que não aceita suas próprias inclinações naturais também está sob efeito da opressão estrutural. Alguém que não se aceita como assexual (ou gay) não o faz por vontade própria, mas sim porque estruturalmente é coagido a tal.
Essas contradições me fizeram refletir sobre o tabu da trans-sexualidade, no sentido mais amplo da palavra. Mas não mais pensando o indivíduo como algum agente amorfo esmagado pela estrutura, mas um agente suficientemente ativo, interativo com essa estrutura. Sendo assim, a ideia de uma trans-sexualidade ampla e ativa me pareceu muito mais "natural" (maldita palavra polisemântica!).
Por muito tempo eu mesmo defendi que as pessoas não deveriam tentar deixar de ser assexuais ou mesmo "flexibilizar" sua sexualidade para lidar com situações sociais. Cheguei a acreditar que o tratamento médico/terapêutico deveria ser proibido, alguns livros de medicina rasgados e o desrespeito à assexualidade ser considerado crime. Hoje, não vejo nisso benefício algum. Na verdade, não consigo imaginar um único indivíduo que se beneficiaria plenamente por essas ideias. Ao contrário, diversas pessoas, algumas bem próximas, que aparentavam estar "resolvidas" assumindo o "orgulho assexual", eventualmente sucumbiram, mostrando a natureza muito mais complexa da nossa identidade.

A minha dúvida é, o que anda lendo? Rsrsrsrs....

Eu até te entendo, mas não dá para ter uma discussão no mesmo nível que você ... Seu discurso acima está carregado de conceitos que muitos aqui desconhecem, inclusive eu. Isso é sinal que anda estudando muitoooo!!! Haha!

Mas em algo eu concordo com você, somos complexos em tudo...Nada é preto no branco ou vice-versa... é por isso que eu gosto da assexualidade e eu acho que a bandeira assexual deveria ser totalmente cinza hehehe porque não existem conceitos suficientes que consigam abranger todos os aspectos da assexualidade e da nossa individualidade (a)sexual...

Enfim, mudei completamente de assunto, rá! Mas diz aí o que anda estudando....rsrs

Vejam isso que achei sobre cura gay
http://www.megacurioso.com.br/polemica/72863-voce-sabe-como-funciona-a-cura-gay.htm

eu li o primeiro livro da história da sexualidade o Foucalt; já as ideias de Freud eu não concordo com muitas delas, creio eu que algumas chegam a serem ridículas(com todo o respeito ao difunto, opa grande psicanalista), eu vou falar como ajo, antigamente quando não sabia que era assexual arromantico fingia muitas coisas, inclusive que gostava de mulheres, agora que descobri que é normal não finjo mais nada e quem não gostar que se lasque, eu não fiz nada de errado, simplesmente sou assim.

A pergunta que me faço é: a quem temos que agradar? a quem devemos responder por nossos sentimentos, ideias, desejos, anseios, sonhos?

Estamos sempre nos colocando dentro ou fora de condicionamentos criados por outrens, ideias geradas e geridas por uma sociedade, cultura, religião, filosofia seja la o que cada um acredita e segue, só sei que não importa quais sejam os condicionamentos; eles não passam de condicionamentos.
Somente qdo nos apercebemos que somos envolvidos por eles e que mtas das vezes nós mesmos os criamos, nunca seremos livres, nunca seremos entendidos ou aceitos, sempre existirão aqueles que tem outros condicionamentos cristalizados em seus seres, e aos quais nós não estaremos inscritos dentro deles e naturalmente seremos rejeitados. se esperamos aprovação destes ou daqueles nunca seremos realmente felizes e livres das amarras que nos colocaram e que nos mesmos por desconhecimento criamos alongo de nossas vidas.
Para sermos entendidos, aceitos, queridos, amados, livres precisamos fazer todas essas coisas conosco mesmo, dentro de nós, cada um consigo mesmo, ai começaremos que opiniões,são apenas opiniões, ideias são apenas ideias, ilusões são apenas ilusões, contradizendo Jornadas nas estrelas, "o desconhecido não está la fora", está dentro de nós mesmos, se nos compreendermos melhores pela lei de afinidades compreenderemos mto melhor nossos semelhantes.

abraços a todos.

Então Lara, nada específico... são leituras que fiz com o passar dos anos para estudar (as)sexualidade e de uma forma geral fazem parte da minha rotina porque estudo sociologia (ciências sociais, no caso). Falei de forma mais "compacta" para o texto não ficar exaustivamente grande.

Quem não entendeu o que eu disse aí, talvez seria interessante começar lendo os dois conceitos de liberdade de Isaiah Berlin.

Com todo o respeito ao OP e aos demais que postaram, todo esse 'debate' até agora está sendo nada mais que um circunlóquio. Falar demais para, no fim, o cerne da ideia não ficar claro.

Devo lembrá-los que excessivo academicismo, trazendo a baila nomes de intelectuais e autores, ainda mais se tratando de questões como sexualidade e gênero - que embora tenham repercussões visíveis na vida cotidiana comum, possuem sua raiz sobretudo nas experiências subjetivas individuais de cada pessoa - pode levar qualquer debate desse natureza a um rumo desumanizante, invalidando as experiências de várias pessoas potencialmente não contempladas pelos pilares e paradigmas de raciocínio postulados por tais indivíduos.

Nos foquemos no mais prático e lógico: qualquer tipo de 'tratamento' que vise a 'correção' de orientação sexual ou identidade de gênero é uma violência contra o indivíduo, ponto final. Ainda mais se estudadas e analisadas historicamente as razões do porquê de se acreditar que pessoas sexodiversas (LGBT+ ou como quiser chamar) devem ser 'curadas', percebe-se que só há uma razão: nossa sociedade possui uma matriz moral cissexista e heteronormativa, não há muito que se discutir aí.

Da mesma forma que muitas pessoas sexodiversas se submeteram a essas ilusórias 'curas', há inúmeras outras que voltaram ao seu 'estado' anterior a cura. A razão? Não há por quê se curar uma condição humana perfeitamente normal, ou pior, equipará-la a parafilias de natureza grotesca e potencialmente perigosa (como é o caso de necrofilia, zoofilia, pedofilia - esse chavão, aliás, é muito utilizado por fundamentalistas religiosos para desmoralizar identidades mais diversas).

Resumindo para quem quer pular o texto acima: A pessoa que busca 'cura' pra própria identidade está se enganando; quem promove 'curas' parte de pressupostos extremamente machistas, reacionários e retrógrados; minorias sexuais e de gênero devem ser protegidas e compreendidas sim; caso alguma pessoa que antes se identificava como LGBT+ ou assexual/arromântica perceba não ser nada disso, isso é uma questão de autodescoberta, não confere a ninguém intervir ou julgar.

Blair, primeiramente perdão pela hermeticidade do texto. Tratando-se de uma discussão histórica, deixar de mencionar autores e eventos tiraria todo sentido do que escrevi.

Bem, afinal, tudo que escrevi vai exatamente de contra o que você escreveu. É uma pena que você não tenha entendido.

Então o que você postula, Boss? Que sexualidades e identidades de gênero divergentes daquilo arbitrariamente imposto como padrão ideal (heterossexual e cisgênero) são condenáveis e nada mais passam de transtornos passíveis de intervenção?

Falar algo dessa natureza num fórum frequentado por inúmeras pessoas de orientações e gêneros distintos de tal padrão é, no mínimo, uma violência.

E saiba que inúmeros jovens e adolescentes se beneficiariam sim da proibição de tais práticas, sobretudo em países como o nosso, extramente intolerante e repressor.

BOSS, devo dizer que terminei seu texto sedento por algo mais. Adoraria ter acesso a um texto mais elaborado, você nunca pensou em escrever um artigo sobre esse assunto? Digo isso porque além de alimentar a mente dos que são fãs de uma boa leitura, os textos mais longos (não os repetitivos e cheios de enchimentos, mas os que expõem uma linha de raciocínio de forma lógica e transparente) tornam mais claras as posturas do autor e suas referências, facilitando a compreensão e o diálogo com os leitores.

Blair, acredito que o cerne não esteja tão evidente justamente por conta da brevidade do texto. São muitas ideias condensadas, e isso pode até dificultar o entendimento a depender do leitor.
Discordo totalmente de uma de suas posturas. Sim, nossa sociedade possui uma matriz moral cissexista e heteronormativa, mas não estamos nem mesmo perto de encerrar as discussões sobre esse assunto.

No mais, concordo que, por se tratar de uma discussão embasada em teorias de notável amplitude na sociedade, tanto em sua parte mais leiga quanto na fração mais instruída, deixar de utilizar certos termos e de mencionar certos autores faz com que o texto se torne menos expressivo em seu propósito, tendo um efeito oposto ao da praticidade que Blair sugeriu. Adiciono ainda que, se o intuito aqui é atingir uma maior parcela de leitores, e portanto uma maior abrangência de ideologias, quanto mais explicados e embasados os argumentos do autor mais fácil será o acesso a diferentes formas de pensar. Ou seja, dizer que "minorias sexuais e de gênero devem ser protegidas e compreendidas" e ponto final não vai mudar a mente dos que são contra, muito menos convencer os que são neutros (em cima do muro) de que essa é uma alternativa viável para a harmonia social.

Blair, eu sou o criador desse site. Você absolutamente não entendeu sobre o que se trata o texto.

Oliver, hoje eu não conseguiria lidar com a produção acadêmica ou mais "aberta" dessa discussão, por razões totalmente pessoais/emocionais mesmo. Minha área de pesquisa hoje é política. Talvez, um dia, eu consiga me dedicar a esse campo.

Pelo que foi deixado implícito anteriormente, através da sua afirmação de que minhas convicções opõem-se ao que postula o texto exposto, creio que tive certa capacidade de compreendê-lo ainda que não em sua totalidade. Caso contrário, eu solicitaria - não por mim, mas por potenciais outros leitores - uma exposição mais elucidativa do tema.

De forma a evitar potenciais mal-estares com quem quer que seja nesse tópico, prefiro me retirar da discussão. Seja lá sobre o que ela for, afinal.

BOSS escreveu:

Por muito tempo eu mesmo defendi que as pessoas não deveriam tentar deixar de ser assexuais ou mesmo "flexibilizar" sua sexualidade para lidar com situações sociais.

Isso é algo polêmico, porém... existem casos e casos.

BOSS escreveu:

Cheguei a acreditar que o tratamento médico/terapêutico deveria ser proibido,

Se a pessoa já fez exames, comprovando que está bem de saúde, com a parte hormonal ok, no mínimo é desnecessário o tratamento.

BOSS escreveu:

alguns livros de medicina rasgados e o desrespeito à assexualidade ser considerado crime. Hoje, não vejo nisso benefício algum.

O respeito às diferenças não é um benefício?
Ainda existe muito preconceito contra GLBTs, no entanto houve conquistas com a maior visibilidade.

BOSS escreveu:

Na verdade, não consigo imaginar um único indivíduo que se beneficiaria plenamente por essas ideias.

Respeito, mas discordo.

BOSS escreveu:

Ao contrário, diversas pessoas, algumas bem próximas, que aparentavam estar "resolvidas" assumindo o "orgulho assexual", eventualmente sucumbiram, mostrando a natureza muito mais complexa da nossa identidade.

Até concordo que a natureza humana é complexa, mas ainda que existam casos em que a pessoa se assume assexual e depois constate que não é, também há vários outros nos quais os tratamentos (hormonais, psicológicos etc) não surtem efeito, ou seja, casos em que a pessoa realmente não gosta de sexo e tal condição não mudará com o passar do tempo.