Boa noite pessoal! Apesar do teor do título, não vou me apresentar como se a minha recém descoberta sobre a assexualidade tivesse afundado a minha vida. Pelo contrário, me ver dessa forma está me dando mais respostas do que perguntas, o que é uma exceção (e extremamente rara) na minha vida

Tenho já meus 30 anos, e sou nascido e crescido em uma cidade minúscula (cerca de 30 mil habitantes) e cercada de fazendas de cana. Sem surpresas que cresci não apenas sofrendo pressão pra alimentar a heterossexualidade, como o ambiente era beeeeem LGBTfóbico num geral. Ou seja: sem chance que eu ia sequer ouvir falar sobre a assexualidade e suas nuances.

Eu sou atualmente casado com uma mulher que se declara pansexual. No começo do relacionamento eu ainda me pressionava a ser heterossexual, e fazíamos sexo com muita frequência. Atualmente, se fazemos uma vez ao mês é muito. Mas o que me fez questionar a minha sexualidade foram duas coisas: recentemente, comecei a me convencer de que o ato sexual é superestimado e acreditar que a masturbação é muito melhor (opinião pessoal, gente! É o que EU penso...); E refletindo sobre todos meus relacionamentos, percebi que sempre racionalizei minhas emoções, buscando encontrar uma definição de "amor" que me servisse e não fosse igual ao que a sociedade costuma dizer que é.

Basicamente, notei que eu sempre me enganei sobre o que é o amor, e que sempre tentei racionalizar um sentimento que, honestamente, nunca senti. A parte mais difícil nisso foi aceitar que eu passei minha vida mentindo pra mim mesmo, e sempre repetindo a mentira pra que eu acreditasse cada vez mais. Hoje vejo que simplesmente não consigo sentir amor por outra pessoa, mas nenhum amor MESMO. Só pra contextualizar vocês, meus pais são narcisistas, e minha vida toda sempre ignoraram ou reprimiram minhas emoções, então eu cresci sem saber o que é ser amado ou respeitado, mesmo pelos pais. Pra vocês terem noção do caco emocional que sou, minhas referências pra amadurecer durante a adolescência foram animes, especialmente no meu caso Naruto e Bleach.

Enfim...lendo sobre a assexualidade, me descobri cupiossexual! E, é claro, arromântico estrito. Quando li sobre a cupiossexualidade, finalmente pude entender porque sinto tanta atração por figuras femininas, mas não sinto nenhuma vontade de praticar sexo. E isso também está me ajudando a entender o buraco onde meu casamento está agora: apesar de sentir tesão olhando pro corpo da minha esposa, não sinto realmente vontade de fazer sexo. E quando fazemos sexo, o corpo dela me estimula, mas saber quem é a pessoa que está ali me desestimula ao mesmo tempo. E fico me sentindo confuso, ao mesmo tempo que culpado com isso. Todo conselho é bem vindo, porque pra mim já não existe mais casamento nem afeto e só quero acabar com isso com o mínimo sofrimento possível.

E essa é minha história, e quem sou! Espero poder compartilhar de tudo com vocês, e quem sabe encontrar aqui uma rede de apoio, que neste momento não tenho. Conto com o apoio de vocês, e espero ajudar no que puder também

Primeira pergunta minha: sua esposa está a par dessa situação? Caso ela ainda não saiba, acredito que a partir da primeira conversa com ela, tudo pode ser resolvido, porque ela terá a escolha de ficar ou partir....

Oi Luna! Excelente ponto...

Infelizmente ela não sabe ainda. Tivemos mais uma discussão hoje, e eu estava me preparando pra contar. Mas vendo a forma agressiva como ela reagiu ao desabafar sobre outra coisa que me incomodava, acabei desistindo. Sendo bem honesto, vejo o casamento acabando por outros motivos, antes de me sentir seguro pra contar sobre minha assexualidade...

Então Ricardo. Dentro dos meus 52 anos de existência, 2 casamentos e alguns namoros frustrados, digo a você que se for esperar o momento exato para falar, esse momento pode não chegar, porque coisas boas ou ruins acontecem todos os dias. Uma hora a situação vai ficar insustentável para ambos e tenho certeza de que você não quer manter sua infelicidade por muito mais tempo, nem deseja também a infelicidade para ela. Então, vista-se com o seu "melhor eu" e encare a conversa. O sofrimento vai acontecer? Sim, ambos vão sofrer, mas vai passar... Pessoas infelizes sofrem muito, tudo vira motivo para brigas, tudo vira motivo para agressões verbais (que ao meu ver machucam mais)... Estou na torcida por vocês!

Fuja desse relacionamento eu tb estou tentando sair de um por total incompatibilidade.

Boa noite.
Olha Ricardo.
Acredito que a agressividade dela se deve ao fato de tudo que está passando na cabeça dela, justamente por não saber o que está acontecendo com vc, eu pode passar que vc tem outro pessoa, que não a ama, que é gay e muito mais.
Seja sincero com ela. Explique o que vc está sentindo.
Vc vai precisa esperar o momento certo ou não saber como dizer, não é errado a sua postura.
Não se sinta culpado.
E não escolha as palavras certas, pq não existe palavra certa.
Não faça rodeios, vá direto ao assunto.
Diga para ela que não tem problema algum com vcs e que não existe outra pessoa, diga que é cupiossexual e explique o que é isso.
Ela vai decidir. Eu vi um vídeo em que o casal relata que a conversa sincera salvou o casamento deles, no caso a mulher era assexual e o marido não.
Boa sorte.

Olá Ricardo,

Duas coisas me chamaram a atenção no seu relato. A primeira foi a forma como vc se apresentou ("frustrado, infeliz"), uma vez que essa costuma ser uma das coisas que diferencia alguém que não é ace de alguém que é. Alguém que não é ace, quando está em conflito com a sua sexualidade, costuma se sentir assim mesmo... Frustrado e infeliz. Já, para a pessoa assexual, essa frustração e infelicidade por conta da sua sexualidade não existe, pois essa é, de fato, a sua verdadeira orientação sexual.
A segunda foi o fato de vc ter dito que sente atração sexual pelo corpo da sua mulher, só não deseja fazer sexo com ela. Isso é o exato oposto da cupiossexualidade. A pessoa cupiossexual não sente atração, mas quer fazer sexo assim mesmo.

Outra coisa importante que vc mencionou foi que seus pais são narcisistas. Então, existe uma enorme possibilidade da sua sexualidade ser o produto de um trauma de infância grave. Já ouviu falar de transtornos de estresse agudo e pós-traumático em crianças e adolescentes? Pode ser que vc seja um adulto sobrevivente, que venha a beneficiar se fizer terapia para tratar um problema de infância.

https://www.msdmanuals.com/pt-br/casa/problemas-de-sa%C3%BAde-infantil/dist%C3%BArbios-da-sa%C3%BAde-mental-em-crian%C3%A7as-e-adolescentes/transtornos-de-estresse-agudo-e-p%C3%B3s-traum%C3%A1tico-em-crian%C3%A7as-e-adolescentes

Tem também um canal do YouTube de aconselhamento e apoio relacional para pessoas adultas, sobreviventes desse transtorno, que é muito bom, mas está em inglês. Se vc entende inglês, vale a pena checar:

https://www.youtube.com/@CrappyChildhoodFairy

Claro que isso não impede vc de se identificar como ace ou como quiser, mas talvez as causas da sua frustração e infelicidade sejam outras. Vale a pena investigar, pois é da sua vida que se trata. Boa sorte!

Olha demiaceinlisbon, ótimo ponto! Pra ser honesto, quanto mais leio sobre a cupiossexualidade mais em dúvida eu fico kkkkkkk

O que eu entendi, até agora pelo menos, é que cupiossexuais podem sentir o desejo de fazer sexo (famoso tesão), mas não sentem a atração pra praticar, de fato, com outras pessoas. E quando eu disse que me sinto atraído pelo corpo feminino, a intenção foi de dizer que não tenho vontade de fazer sexo com outras pessoas, apesar do corpo delas me excitar. E ainda assim, não fico tãão excitado assim. E não é à toa que a masturbação é a forma de alívio da tensão sexual que sempre foi mais efetiva pra mim. Foi juntando essas pontas que me fez identificar com a cupiossexualidade: sinto a vontade de fazer sexo com as pessoas, mas por causa dos seus corpos e não pela pessoa em si. Até por isso me imaginava cupio-ginossexual.

Sobre o frustrado e infeliz, tem muito a ver com olhar pra trás e pra agora, e ver o quanto não me descobrir antes me trouxe infelicidades. Não apenas isso, tem muito a ver com o quanto da minha vida abri mão, pra me encaixar em relacionamentos que, no fundo, eu não queria mas me enganava dizendo o contrário. E você tem razão: tem traumas de infância aí no meio, e toda semana falo disso com minha psicóloga.  

Mas agora fiquei na dúvida: eu me identifiquei mais com a cupiossexualidade depois de ler sobre as diferentes nuances da assexualidade (e me convenço a cada dia que ainda não li sobre todas kkkkkk). Mas se eu não sou cupiossexual, qual nuance você acha que me descreve melhor?