Olá pessoal,

Me chamo Luciana, sou do RJ e tenho 33 anos já, mas só agora estou tendo a coragem de entrar nesse fórum sobre assexualidade. Depois de muita autoreflexão, tomei vergonha na cara, olhei pra dentro de mim mesma e resolvi assumir o que sou. Se Deus quiser, sairei do armário em breve!

Vou contar um pouco sobre mim. Nunca tive interesse em fazer sexo e ter relacionamentos com ninguém. Li e leio sobre isso para ficar bem informada, não ser preconceituosa e entender os outros que transam e têm tesão o tempo todo e se apaixonam, mas eu mesma nunca senti nenhuma dessas coisas. Quando eu tinha 10 anos resolvi que não iria casar e me mantenho solteira, mas sempre vinham com a pressão para, pelo menos, arranjar um namorado ou ficante (isso eu já adolescente). Naquela época, eu dizia assim: "Vou me concentrar nos estudos agora e deixar isso pra depois" pq eu realmente achava que, com o tempo, as coisas aconteceriam naturalmente. Mas nessa época, e também aos 20's, eu também sofri muita pressão das mulheres na família e assédio de praticamente qualquer cara solteiro que me visse. Foi horrível e cresci com essa sensação de ter que me defender e me impor o tempo todo para poder ter o direito de fazer as coisas na época que eu achava certa! Aliás, sempre senti que as pessoas ao meu redor só queriam decidir como eu deveria usar o MEU corpo porque tinham a esperança de se aproveitar dele de alguma forma (até hoje me sinto assim, e agora que sei o significado de assexualidade, fico com raiva dessa gente e também não sei se estou certa em sentir essa raiva e como lidar com ela). Era como se eu fosse uma vagina gigante aos olhos deles, e não um ser humano sem os sentimentos esperados e com outros interesses na vida. Teve gente que até me acusou de ser insana e foram perguntar aos meus pais qual era meu "problema" que não ficava com ninguém. Não foram poucos os que acharam um absurdo eu ainda ser virgem. Eu recebi, e ainda recebo até hoje, os seguintes rótulos: metida, fresca, fria, azeda, difícil, esquisita, estranha, fechada, sem coração, chata e outros bem piores que não vou escrever aqui.

O tempo passou, estudei, trabalhei e nunca rolou nada com ninguém, nem homens e nem mulheres, e eu também jamais fiz o menor esforço de correr atrás dos outros/as. Eu simplesmente não tinha vontade de fazer nada com ninguém e nunca achei nenhum outro ser humano atraente (para ter romance e sexo) de nenhuma forma, física, intelectual, nada. Só gostava e gosto de ter amizades com as pessoas e pronto. Fico feliz em bater papo, passear com a pessoa e depois cada um ir para sua casa numa boa. Gosto muito da minha solidão e tô fazendo um grande esforço para entender os meus amigos que querem um relacionamento sério e não conseguem encontrar. É muito difícil dar apoio emocional quando não se está na pele do outro! Nem sei o que dizer nessas horas. Minha ficha caiu só quando fiz 29 e uma parente minha se sentiu ofendida porque eu não tinha ninguém. Eu já tava cansada de tanta gente se metendo na minha vida por esses anos todos e brigamos feio, bati boca mesmo. Daí quando ela foi embora é que eu pensei melhor e percebi que, se não aconteceu nada até aquele momento, então não iria acontecer nunca. Então pra que ficar me enganando e esperar por algo que nunca senti e que jamais viria? Por causa dessa revelação eu corri na web e descobri o termo assexual, mas naquele momento eu ainda não queria acreditar que me enquadrava na definição. Fiquei um tempo digerindo na minha cabeça. Achei esse fórum na época da pandemia, mas também não entrei antes por teimosia da minha parte em reconhecer a verdade dando tapas na minha cara.

Entrei hoje porque aconteceu outra situação de assédio e desrespeito à minha pessoa e eu fiquei com tanta raiva que pensei "chega!". Acho que tá na hora de me mostrar como sou e exigir o devido respeito dessas pessoas. Eles/elas têm que entender que só porque estou solteira, não significa que eu esteja à disposição e também não estou esperando o avanço de ninguém. Na verdade, eu não quero que ninguém me aborde desse jeito. Não quero flores, cantadas, bilhetinhos, ouvir comentários sobre meu corpo e assobios, não quero que perguntem meu estado civil, se vou ter filhos e nem que deixem despachos de amarração na porta da minha casa. Não quero convites para "sair" e já perdi a paciência com esse pessoal que fala em motel o tempo todo. Cansei! Quero viver a minha vida em paz e sozinha, como sempre vivi e ser respeitada nisso. O problema é que, agora que passei dos 30, as pressões aumentaram e estão me comparando com minhas boas amigas que casaram e tiveram seus filhos. Fico feliz pela felicidade delas, mas estou me sentindo muito ameaçada até na minha integridade física por ver tantas pessoas que conhecem minha família exigirem que eu faça o mesmo. Me sinto patrulhada e tenho muito medo de ser agredida e até violentada se eu sair do armário como ace.

Gente, desculpem essa apresentação longa, mas eu precisava muito tirar esses 33 anos de sentimentos acumulados no peito! Entrei nesse fórum para aprender mais coisas sobre essa orientação sexual, que hoje sei que é a minha, e em busca de apoio para lidar com todo esse assédio que sempre sofri, mas que piorou agora. É triste vivermos num mundo assim, onde quem não faz parte de um rebanho pode ser apedrejado até a morte. Sempre nos ensinam quando crianças a sermos nós mesmos, mas o que fazer quando a gente chega na fase adulta desmascarada e sem fingimentos e é atacada por isso? Ninguém nos ensina como lidar com a intolerância alheia.

Obrigada por me aceitarem nesse espaço e vamos nos falando! Qualquer conselho e orientações de vocês são muito bem vindas!

Beijos! 🥰

Bem vinda luciana!! Tó um bolo pra adoçar a sua vida

Eu também tenho a impressão de que todo mundo sempre ta pensando em sexo. E nunca entendi isso direito. Acho o sexo fascinante pra falar a verdade, por que é onde duas pessoas (alossexuais) firmam os laços que ja possuem. Mas só recentemente percebi que, apezar de amar e querer estar perto de alguem, nunca realmente quis fazer sexo. Até mesmo descobri que não gosto disso.

Algo que eu descobri lendo sobre a assexualidade foi que o mundo dos alossexuais (pessoas não assexuais). Meio que eu sou assexual então foi só "a, me identifico com isso" ou então "aah então aquilo tem um nome". Mas o mundo dos alossexuais é meio que um show a parte pra mim. Eu acho estranho, ate meio curioso esse anseio de o tempo todo estar buscando o sexo (sim, não é só você que tem essa impressão, muita gente por aqui acha isso). E quando eu reparei que isso não tava acontecendo comigo eu meio que fui dar uma perguntada por aí.

E eu percebi uma coisa: assim como eu não entendia direito essa gente, eles não me entendiam também. Então eu me empenhei e estudei bastante sobre a assexualidade pra poder explicar e passar o conhecimento \o/

Eu não sei se sofri algum tipo de assedio na minha vida por que sou venho de um contexto de igreja, então nunca tive esse tipo de pressão e nem essas pessoas ao meu redor. Mas ja tive gente que parou de falar comigo quando descobriu que eu era ace.

Enfim, tu com certeza não ta sozinha nessa. Se você for dar uma lida no fórum, vai se identificar com vários relatos de outros aces que ja passaram por aqui. Espero que essa busca por auto conhecimento te deixe mais a vontade com esse tema como me deixou. E torço de verdade pra que as pessoas entendam e não te encham mais o saco quando tu explicar.

Só um adendo, é que parece, quem sou eu pra dizer mas parece que você, além de assexual é arromântica também. Eu só fui entender que eu era assexual quando entendi que atração sexual é diferente de atração romântica. São coisas diferentes que podem ou não estarem juntas. E quando estão, podem se apresentar de formad diferentes. Uma pessoa pode, por exemplo, ser heterossexual e birromântica.

Boa noite Lú,
Sobre a parte que tu comentou sobre ter medo de ser agredida ou até mesmo violentada por ser assumidamente ace, eu não tinha me dado conta disso, mas sempre tive medo de abusos
Abuso no sentido de as pessoas virem investindo pra cima de mim e eu simplesmente não conseguir reagir, pelo menos não dá forma que eu gostaria. Eu sou o tipo de pessoa que numa festa, aceita beijar o outro só por não saber o que fazer ou responder quando investem... Digo, eu tô sempre tentando fazer oq acredito que esperam de mim, não consigo me dar a oportunidade de decepcionar, de fazer diferente, de ser autêntico, sabe?
Sempre corri muuuuuuito de qualquer iniciativa sexual, ao mesmo tempo que eu beijava alguém e achava completamente entediante e chato, via que o outro estava ofegante, excitado, caçando ar para continuar, sabe?
Eu sabia o que o outro queria depois daquilo, sempre soube, mas pelo menos nessas situações eu conseguia cortar e correr dali.
Sabe o clichê de sair, comer alguma coisa, chupar um sorvete, andar de carro pela cidade, etc? Eu queria isso, mas queria ir embora depois de andar pela cidade e ver o movimento, mas a outra pessoa queria sexo, resumidamente.
Corri tanto disso, desse cenário, morrendo de medo de me ver nessa situação e contexto dnovo, que não fiz mais oq eu queria e me deixava confortável, sair, comer, conversar, etc... Fiquei tão alerta e noiado que não fazia mais nada disso, pois tinha medo do cenário hipotético do sexo. De querer sumir da situação e a pessoa achar que estou fazendo charme, que estou fazendo um jogo ou me fazendo de difícil, então continuar investindo...

Enfim, desculpa me prolongar, mas queria falar que entendo, mesmo que minimamente, o seu medo e receio de ser abusada e agredida depois de se assumir.
Vivemos em 2022, grandes revoluções já ocorreram no mundo, mas continuamos num mundo com pressões e expectativas sociais, onde basicamente esperam que você seja o mais próximo possível de um gêmeo perdido (o mais igual possível a eles)

Gente valeu pelo apoio e as respostas! 🥰 Ainda tô aprendendo a mexer no fórum e vendo os relatos. É tão bom ter um nome para darmos a nossa situação e sabermos que têm mais gente no mesmo barco que nós!

Valeu pelo bolo, Alpiste! Assim como vc, eu tb acho o conceito de sexo (só o conceito) fascinante e acho que as pessoas devem ter a liberdade de fazer o que quiserem. Não sou carola nem moralista. Mas daí, quando se trata da minha liberdade de não querer nada com ninguém, tem gente que me ataca e se sente ofendido. Não é minha culpa se as pessoas criaram toda uma imagem sobre mim na cabeça delas! Valeu tb por me explicar sobre ser arromântica, acho que tb sou isso sim pq não quero ter nenhum cara a tiracolo do meu lado. E tb não entendo qual o propósito desses relacionamentos, mesmo tendo amigos que estão neles. Meu maior sonho é que todos parem de encher o meu saco e de tentar me impor coisas que nunca desejei e que só vão atrapalhar minha vida!

Oi Thomas Chatterton, tb me identifiquei com isso de fugir de situações sexuais, só que no meu caso, sou mulher e a macharada nunca respeitou meu não e sempre ficava insistindo no assédio e nas cantadas. Tb me vi forçada a evoluir cedo para perceber as segundas intenções dos outros para sobreviver, então nunca que eu podia beijar alguém numa festa para agradar pq sempre haveria o risco do cara usar a força física dele pra levar a coisa adiante contra minha vontade. Mas todo o resto do seu relato eu vivi tb. Vc vai num cinema ou num restaurante com um amigo ou colega de trabalho e o fulaninho já acha que é um encontro, ou então tenta transformar o passeio num encontro. E sempre querem mais coisas depois. Tb já passei por isso com mulheres, mas pelo menos elas aceitam melhor quando a gente diz que não tem interesse e que não vai rolar nada. Já os homens são isso mesmo que tu disse: ou ficam revoltados com a rejeição ou então continuam investindo pq acham que estamos "nos fazendo de difíceis". Isso só aumenta mais ainda a minha raiva em relação à quem faz isso e eu não sei quem foi o idiota quem falou que essa era a estratégia para conquistar pessoas. Acho meio deprimente que toda a sociabilidade gira em torno de caçar alguém pra transar e que tudo que a gente fizer, os lugares para onde convidarmos alguém e até nossos hobbies serão vistos como "jogo de sedução" e outras palhaçadas dessas. Daí a gente vira eremita e a galera reclama! Ué, parem de se comportar como bichos no cio que a gente volta a conviver. Mas vc tem razão sabe, não dá para entender mesmo e essa incompreensão mútua me deixa na dúvida se eles realmente vão entender quando eu sair do armário como ace. Acho que terei que explicar tudo do zero para eles pq não devem ter ouvido falar. Eu mesma não conhecia antes de buscar sobre minha situação na internet.

Valeu palas infos de vcs! Fiz de cada parágrafo uma resposta específica pq ainda não sei direito como citar a pessoa nas respostas.

Olá Luciana Mello, seja muito bem vinda ao Fórum.
Essa questão da pressão e do assédio é uma coisa que todas as mulheres vem sofrendo ultimamente. Não consigo mesmo entender sobre a forma dos homens reagirem a rejeição ou não aceitação do fim dos relacionamentos. As pessoas estão beeem perdidas. Já debatemos aqui sobre a questão da busca por um ideal idealizado pelas midias sociais, razão, pela qual, as pessoas entram em tantos relacionamentos nada a ver, e, o que sobra são pessoas frustradas, machucadas, trumatizadas ou que acabem optando por ficarem solteiras mesmo.
Achei interessante quando falou sobre sair do armário em ser ace...conheço pessoas que colocariam uma bandeira com as cores LGBT na porta de casa, rssss!!!! Nada contra.
Porém, nunca tive essa necessidade. Nunca contei para ninguem e nem pretendo. Tenho a minha forma de ser e gostem de mim quem quiser gostar. Nem Jesus agradou a todos, quem somos nós...
Aprendi a levar tudo na esportiva e até procuro me divertir com a situação.
Entenda: Paus e pedras quebram-te os ossos, palavras não poderao jamais ferir-te.
A opinião das pessoas só irão lhe atingir se vc deixar, e, o que irá lhe fazer sentir mal são os pensamentos ruins que deixou se instalar no solo fértil de suas preocupações.
Espero ter ajudado de alguma forma.
Tudo de bom aí!!!

Bem vinda ao fórum!
E espero que o caminho do autoconhecimento lhe seja agradável e proveitoso

E sobre esses assédios, acho que todo ace já passou por algo assim na vida, no mundo sexual que a gente vive, tudo é extremamente sexual e o povo não consegue enxergar outra realidade diferente da deles. Somos julgados e acusados de tudo em quanto só por sermos quem somos!
Espero que vc consiga se impor e se livrar desses assédios, sei que não é fácil. Mas acho que infelizmente precisamos fazer isso pra podermos viver em paz.

Thomas Chatterton escreveu:

Boa noite Lú,
Sobre a parte que tu comentou sobre ter medo de ser agredida ou até mesmo violentada por ser assumidamente ace, eu não tinha me dado conta disso, mas sempre tive medo de abusos
Abuso no sentido de as pessoas virem investindo pra cima de mim e eu simplesmente não conseguir reagir, pelo menos não dá forma que eu gostaria. Eu sou o tipo de pessoa que numa festa, aceita beijar o outro só por não saber o que fazer ou responder quando investem... Digo, eu tô sempre tentando fazer oq acredito que esperam de mim, não consigo me dar a oportunidade de decepcionar, de fazer diferente, de ser autêntico, sabe?
Sempre corri muuuuuuito de qualquer iniciativa sexual, ao mesmo tempo que eu beijava alguém e achava completamente entediante e chato, via que o outro estava ofegante, excitado, caçando ar para continuar, sabe?
Eu sabia o que o outro queria depois daquilo, sempre soube, mas pelo menos nessas situações eu conseguia cortar e correr dali.
Sabe o clichê de sair, comer alguma coisa, chupar um sorvete, andar de carro pela cidade, etc? Eu queria isso, mas queria ir embora depois de andar pela cidade e ver o movimento, mas a outra pessoa queria sexo, resumidamente.
Corri tanto disso, desse cenário, morrendo de medo de me ver nessa situação e contexto dnovo, que não fiz mais oq eu queria e me deixava confortável, sair, comer, conversar, etc... Fiquei tão alerta e noiado que não fazia mais nada disso, pois tinha medo do cenário hipotético do sexo. De querer sumir da situação e a pessoa achar que estou fazendo charme, que estou fazendo um jogo ou me fazendo de difícil, então continuar investindo...

Enfim, desculpa me prolongar, mas queria falar que entendo, mesmo que minimamente, o seu medo e receio de ser abusada e agredida depois de se assumir.
Vivemos em 2022, grandes revoluções já ocorreram no mundo, mas continuamos num mundo com pressões e expectativas sociais, onde basicamente esperam que você seja o mais próximo possível de um gêmeo perdido (o mais igual possível a eles)

Nossa já passei por algo semelhante! Eu era uma pessoa inocente e não entendia bem os jogos que os alos fazem com propósito de transar. Aí certa vez uma garota da faculdade chegou em mim e me chamou para ir na casa dela jogar vídeo game, eu mega inocente fui lá e...ela queria só sexo mesmo. Como eu não conseguia dizer não e me sentia pressionado acabei fazendo com ela, e foi uma das piores experiências da vida hoje em dia eu corro, dá não. Alos geralmente não querem nem conversar contigo, já vão na seca pensando em sexo. Muitas vezes nem perguntam o nosso nome, é muito estranho como eles funcionam. Pq pra mim isso é impossível de acontecer assim, preciso conhecer a pessoa, criar laço e daí somente depois vir a rolar sexo. Mas alos não entendem isso e é complicado de entender eles tbm

Ah gente, valeu pelos conselhos e acolhimento! 🥰

Shipow, vc colocou um ponto que eu não havia pensado antes: se vale a pena sair do armário como ace. Agora eu tô refletindo aqui se isso mudaria alguma coisa na forma que as pessoas me tratam. Realmente, as pessoas idealizam muito os romances e casamentos, como se fossem coisas necessárias e obrigatórias nas nossas vidas, talvez por isso seja difícil eles aceitarem que somos bem felizes sozinhos. Todo mundo acha que a gente cabe na mesma visão de mundo deles, mas se as pessoas usam roupas diferentes e em tamanhos variados, então pq forçar os demais a viver vidas iguais? E infelizmente, ninguém questiona essa imposição. E sim, seu post me ajudou sim, vou refletir muito sobre essas questões que vc colocou.

Poxa Tiago, sinto muito que vc tenha tido que transar por pressão! Pra vcs homens é até pior pq existe toda essa ideia de "pegar alguém" e sempre tomar a iniciativa. Às vezes eu me pergunto se essa macharada toda sente mesmo todo esse tesão que eles dizem ter ou se isso tudo é só encenação e a maioria nem queria sair por aí caçando a gente. E é complicado demais pq, como vc e outros já colocaram, o mundo é hipersexualizado e as pessoas que vivem nele agem como se fosse uma corrida do sexo. Kkkkk "Ganha" quem pegar mais gente, em menos tempo e com a melhor tática. É deprimente, até entre eles mesmos eles acham normal sair transando com a primeira pessoa que aparece, sem nem saber o nome dela. Acho difícil conviver com esse tipo de pessoas no cotidiano, pq são justamente elas que vêm perturbar pq vc não tá no mesmo estilo de vida. E tb tem o fato de que existe uma ideia pré concebida de que todo mundo vai entender as piadas de duplo sentido, os joguinhos e vai gostar dos "elogios" deles. É muito triste e cansativo tudo isso!

Gente, valeu mesmo pelos conselhos! Tá sendo libertador assumir para mim mesma que sou ace e tirar dos meus ombros a expectativa alheia de bater cartão e assinar folha de ponto na minha genitália. Rrrrrssss Mais para frente eu farei outros posts aqui compartilhando minhas experiências amargas lidando com gente preconceituosa e o assédio.

Luciana Mello escreveu:

Ah gente, valeu pelos conselhos e acolhimento! 🥰

Shipow, vc colocou um ponto que eu não havia pensado antes: se vale a pena sair do armário como ace. Agora eu tô refletindo aqui se isso mudaria alguma coisa na forma que as pessoas me tratam. Realmente, as pessoas idealizam muito os romances e casamentos, como se fossem coisas necessárias e obrigatórias nas nossas vidas, talvez por isso seja difícil eles aceitarem que somos bem felizes sozinhos. Todo mundo acha que a gente cabe na mesma visão de mundo deles, mas se as pessoas usam roupas diferentes e em tamanhos variados, então pq forçar os demais a viver vidas iguais? E infelizmente, ninguém questiona essa imposição. E sim, seu post me ajudou sim, vou refletir muito sobre essas questões que vc colocou.

Poxa Tiago, sinto muito que vc tenha tido que transar por pressão! Pra vcs homens é até pior pq existe toda essa ideia de "pegar alguém" e sempre tomar a iniciativa. Às vezes eu me pergunto se essa macharada toda sente mesmo todo esse tesão que eles dizem ter ou se isso tudo é só encenação e a maioria nem queria sair por aí caçando a gente. E é complicado demais pq, como vc e outros já colocaram, o mundo é hipersexualizado e as pessoas que vivem nele agem como se fosse uma corrida do sexo. Kkkkk "Ganha" quem pegar mais gente, em menos tempo e com a melhor tática. É deprimente, até entre eles mesmos eles acham normal sair transando com a primeira pessoa que aparece, sem nem saber o nome dela. Acho difícil conviver com esse tipo de pessoas no cotidiano, pq são justamente elas que vêm perturbar pq vc não tá no mesmo estilo de vida. E tb tem o fato de que existe uma ideia pré concebida de que todo mundo vai entender as piadas de duplo sentido, os joguinhos e vai gostar dos "elogios" deles. É muito triste e cansativo tudo isso!

Exatamente. Concordo com tudo que vc falou. Mas com relação a atração sexual e sobre sexo, acho que entre os alos deve haver níveis diferentes e necessidades diferentes, parece que alguns alos tem mais necessidade de sexo do que outros, e isso deve ter ligação com a libido mesmo.
Embora eu acho que deve acontecer isso aí tbm que vc falou (principalmente entre homens cis alos héteros) de que parece haver um status para o cara que é o pegador, eles meio que ficam disputando quem pega mais, quem pega as mais bonitas e etc...o que é uma coisa bem machista e escrota se a gente pensar bem. É como se eles tratassem as mulheres como troféus..
Agora o que eu acho chato é que a gente tem que fingir a maioria do tempo pra evitar ficar se explicando toda hora, pq esse estereótipo de pegador acaba recaindo sobre todos homens cis héteros, e se a gente age diferente, já nos julgam automaticamente como gays ou que não somos normais. Enfim, complicado demais viver num mundo hipersexualizado.

Só queríamos um pouco de paz né?

Tiago escreveu:

Exatamente. Concordo com tudo que vc falou. Mas com relação a atração sexual e sobre sexo, acho que entre os alos deve haver níveis diferentes e necessidades diferentes, parece que alguns alos tem mais necessidade de sexo do que outros, e isso deve ter ligação com a libido mesmo.

Amo que em alguns momentos as discuções aqui se voltam pra tentar entender a allossexualidade.

 Que espécime de Allo é esta?

Luciana Mello escreveu:

Olá pessoal,

Me chamo Luciana, sou do RJ e tenho 33 anos já, mas só agora estou tendo a coragem de entrar nesse fórum sobre assexualidade. Depois de muita autoreflexão, tomei vergonha na cara, olhei pra dentro de mim mesma e resolvi assumir o que sou. Se Deus quiser, sairei do armário em breve!

Vou contar um pouco sobre mim. Nunca tive interesse em fazer sexo e ter relacionamentos com ninguém. Li e leio sobre isso para ficar bem informada, não ser preconceituosa e entender os outros que transam e têm tesão o tempo todo e se apaixonam, mas eu mesma nunca senti nenhuma dessas coisas. Quando eu tinha 10 anos resolvi que não iria casar e me mantenho solteira, mas sempre vinham com a pressão para, pelo menos, arranjar um namorado ou ficante (isso eu já adolescente). Naquela época, eu dizia assim: "Vou me concentrar nos estudos agora e deixar isso pra depois" pq eu realmente achava que, com o tempo, as coisas aconteceriam naturalmente. Mas nessa época, e também aos 20's, eu também sofri muita pressão das mulheres na família e assédio de praticamente qualquer cara solteiro que me visse. Foi horrível e cresci com essa sensação de ter que me defender e me impor o tempo todo para poder ter o direito de fazer as coisas na época que eu achava certa! Aliás, sempre senti que as pessoas ao meu redor só queriam decidir como eu deveria usar o MEU corpo porque tinham a esperança de se aproveitar dele de alguma forma (até hoje me sinto assim, e agora que sei o significado de assexualidade, fico com raiva dessa gente e também não sei se estou certa em sentir essa raiva e como lidar com ela). Era como se eu fosse uma vagina gigante aos olhos deles, e não um ser humano sem os sentimentos esperados e com outros interesses na vida. Teve gente que até me acusou de ser insana e foram perguntar aos meus pais qual era meu "problema" que não ficava com ninguém. Não foram poucos os que acharam um absurdo eu ainda ser virgem. Eu recebi, e ainda recebo até hoje, os seguintes rótulos: metida, fresca, fria, azeda, difícil, esquisita, estranha, fechada, sem coração, chata e outros bem piores que não vou escrever aqui.

O tempo passou, estudei, trabalhei e nunca rolou nada com ninguém, nem homens e nem mulheres, e eu também jamais fiz o menor esforço de correr atrás dos outros/as. Eu simplesmente não tinha vontade de fazer nada com ninguém e nunca achei nenhum outro ser humano atraente (para ter romance e sexo) de nenhuma forma, física, intelectual, nada. Só gostava e gosto de ter amizades com as pessoas e pronto. Fico feliz em bater papo, passear com a pessoa e depois cada um ir para sua casa numa boa. Gosto muito da minha solidão e tô fazendo um grande esforço para entender os meus amigos que querem um relacionamento sério e não conseguem encontrar. É muito difícil dar apoio emocional quando não se está na pele do outro! Nem sei o que dizer nessas horas. Minha ficha caiu só quando fiz 29 e uma parente minha se sentiu ofendida porque eu não tinha ninguém. Eu já tava cansada de tanta gente se metendo na minha vida por esses anos todos e brigamos feio, bati boca mesmo. Daí quando ela foi embora é que eu pensei melhor e percebi que, se não aconteceu nada até aquele momento, então não iria acontecer nunca. Então pra que ficar me enganando e esperar por algo que nunca senti e que jamais viria? Por causa dessa revelação eu corri na web e descobri o termo assexual, mas naquele momento eu ainda não queria acreditar que me enquadrava na definição. Fiquei um tempo digerindo na minha cabeça. Achei esse fórum na época da pandemia, mas também não entrei antes por teimosia da minha parte em reconhecer a verdade dando tapas na minha cara.

Entrei hoje porque aconteceu outra situação de assédio e desrespeito à minha pessoa e eu fiquei com tanta raiva que pensei "chega!". Acho que tá na hora de me mostrar como sou e exigir o devido respeito dessas pessoas. Eles/elas têm que entender que só porque estou solteira, não significa que eu esteja à disposição e também não estou esperando o avanço de ninguém. Na verdade, eu não quero que ninguém me aborde desse jeito. Não quero flores, cantadas, bilhetinhos, ouvir comentários sobre meu corpo e assobios, não quero que perguntem meu estado civil, se vou ter filhos e nem que deixem despachos de amarração na porta da minha casa. Não quero convites para "sair" e já perdi a paciência com esse pessoal que fala em motel o tempo todo. Cansei! Quero viver a minha vida em paz e sozinha, como sempre vivi e ser respeitada nisso. O problema é que, agora que passei dos 30, as pressões aumentaram e estão me comparando com minhas boas amigas que casaram e tiveram seus filhos. Fico feliz pela felicidade delas, mas estou me sentindo muito ameaçada até na minha integridade física por ver tantas pessoas que conhecem minha família exigirem que eu faça o mesmo. Me sinto patrulhada e tenho muito medo de ser agredida e até violentada se eu sair do armário como ace.

Gente, desculpem essa apresentação longa, mas eu precisava muito tirar esses 33 anos de sentimentos acumulados no peito! Entrei nesse fórum para aprender mais coisas sobre essa orientação sexual, que hoje sei que é a minha, e em busca de apoio para lidar com todo esse assédio que sempre sofri, mas que piorou agora. É triste vivermos num mundo assim, onde quem não faz parte de um rebanho pode ser apedrejado até a morte. Sempre nos ensinam quando crianças a sermos nós mesmos, mas o que fazer quando a gente chega na fase adulta desmascarada e sem fingimentos e é atacada por isso? Ninguém nos ensina como lidar com a intolerância alheia.

Obrigada por me aceitarem nesse espaço e vamos nos falando! Qualquer conselho e orientações de vocês são muito bem vindas!

Beijos! 🥰

Seja bem-vinda, Luciana! Muito interessante o seu relato, certamente muitos se identificarão com o que relatou...
Espero que por meio do fórum faça boas amizades e possa se conhecer melhor.
[]'s

Gente, de verdade, obrigada pela acolhida e pelo apoio! 🥰 É tão bom finalmente encontrar pessoas que não vão te julgar e nem tentar de botar numa caixinha. Valeu mesmo pessoal!

Alpiste escreveu:

Tiago escreveu:

Exatamente. Concordo com tudo que vc falou. Mas com relação a atração sexual e sobre sexo, acho que entre os alos deve haver níveis diferentes e necessidades diferentes, parece que alguns alos tem mais necessidade de sexo do que outros, e isso deve ter ligação com a libido mesmo.

Amo que em alguns momentos as discuções aqui se voltam pra tentar entender a allossexualidade.

 Que espécime de Allo é esta?

pior que é tipo isso.
Da mesma forma que eles não nos entende, a gente não consegue entender eles kkkk meus amigos quase todos são allos e aí eu vejo que existe diferenças de atração sexual entre eles e isso é bem interessante e intrigante.
E não consigo entender como que pra eles muitas vezes basta olhar pra uma pessoa que já sentem coisas e isso é difícil demais de entender.

Primeiramente, seja muito bem vinda!! E...

Uau! Eu simplesmente Adorei seu relato! Me identifiquei muitíssimo. E também sou do RJ!!

Mesmo dentro da comunidade assexual há diversas classificações e formas de sentir, então é muito bom ler depoimentos de pessoas que se sentem exatamente como você. É como ler sobre mim mesma! É tão… confortável!

Eu me identifico como assexual arromantica (estrita). E sou assim desde que me entendo por gente.

Haha Céus, eu também! Eu sempre gostei de estudar essas coisas, sobre sexualidade para saber, para entender... (eu tenho uma fascinação por saber como as pessoas reais se apaixonam loucamente, eu penso que elas apenas estão enganando a si mesmas. Talvez por isso sempre me interessou estudar sobre sexualidade, tanto no ponto de vista histórico quanto no psicológico. Para tentar entender as pessoas, mas também para tentar entender eu mesma.)

E eu também quando tinha por aí também 9~12 anos decidi que “não iria casar”. Eu sempre falava isso, desde o dia que criei a mínima maturidade para compreender tais relacionamentos, e por muito tempo me descreveria assim antes de descobrir o termo assexual...

Durante a infância/adolescência eu tinha forte repulsa à romance e coisas que meninas nessa idade conversam ou gostavam de ver/ler. Confesso que isso me ajudou a entender minha sexualidade mais cedo. (Já que muitos Aces costumam demorar a perceber pois ficam confusos por gostarem de ficção romântica ou por sentirem atração romântica).

E conforme eu ia crescendo e observava tudo à minha volta, eu não entendia por que as pessoas  do meu colégio estavam entrando em relacionamentos românticos sendo tão novos, eu pensava que éramos todos tão jovens, éramos crianças, eu pensava que isso era algo para se fazer quando se é adulto, que era perda de tempo se preocupar com tais coisas, tínhamos tanto para aprender ainda… Não entendia o que tinha de tão legal nisso, e julgava-os falsos, porque os via fazer juras de amor eterno uma ora e em menos de 1 ano já estava tudo terminado, isso não entrava na minha cabeça. Eu via alguns sofrendo de depressão por causa dos términos do namoro. E pensava: qual o sentido nisso, qual a graça de brincar com os próprios sentimentos? Na minha mente isso era algo perigoso. E se o amor romântico é algo maior que a amizade como diziam então porque me parecia tão mais banal?

Antes quando pequena, eu não ligava para isso de orientação sexual, automaticamente me auto-denominei hétero, e então eu me identificava como “hetero que não namora/casa”...

Aos 16 comecei a ficar confusa, comecei a pensar que talvez hétero não fosse a bem a melhor palavra. Mas eu só conhecia homo e posteriormente bissexual. Mas homo tampouco parecia se encaixar, então talvez eu fosse Bi?? Mas como saber? Eu não pretendia experimentar coisa alguma. Até que encontrei o termo Panssexual, e amei sua definição ampla na época, parecia perfeito,  e então usei esse rótulo por um bom tempo! Era o rótulo que eu sentia que mais se aproximava. Então eu passei a ser “pan, mas a pan que não namora!” Hausha Até encontrar o rótulo correto, assexual, apesar de ficar muito confusa no começo com os rótulos e sub rótulos e o significado de atração romântica (até pouco tempo eu usava os dois rótulos pan e ace)... Eu descobri, eventualmente, que muitos Aces se sentiram confusos assim, pensando ser bi ou pan, porque  nenhuma atração por todos pode ser facilmente confundindo com baixa atração por todos... No fim compreendi que o que eu sentia não era no nível romântico ou sexual, mais algo estético ou emocional no máximo...

Então...

Também nunca procurei, nem corri atrás... Sobre a pressão, nunca tive muita, e nunca fui alguém que se deixava influenciar facilmente, principalmente em coisas que eu tinha forte convicção. Eu também nunca tive muitos amigos e familiares próximos.
E Quando os pretendentes começaram a surgir eu já tinha 15 por aí. Mas eu lembro de começar minhas amizades com esses meninos dizendo que queria apenas amizade, que eu era uma pessoa que "não namorava" kkk, sabe, mas hoje em dia como adulta já não posso fazer mais isso... kk
É bem como você disse. Sempre senti uma desconfiança quando alguém dizia que gostava ou me amava. Eu pensava “tão rápido? Impossível”, “amor ou apenas conveniência por eu ser uma menina bonitinha para eles e eles serem heteros?” No fim amor real é bem raro.
Essas pessoas sumiram tão rápido quanto traíram suas juras de amor por mim...
E eu sempre acabava (e ainda acabo) tendo mais amigos homens, e essa sensação de pisar em ovos em relação a não saber a real intenção do cara até que tudo "se esclarecer" é horrível. Eu nunca sei se é uma amizade pura ou a pessoa tem segunda intenções, nunca sei se quando me convidam para algo é com segundas intenções, então geralmente se é gente que não conheço bem, nunca vou. Se surge a oportunidade rara de falar sobre sentimentos e eu disser que sou assexual, ou que não namoro as pessoas não levam a sério, acham que que é mentira, medo, um fora, me fazendo de difícil, somem/param de falar comigo (? o que mais me chateia), e as vezes isso os encoraja a continuar/tentar convencer (o que mais me irrita). Eu tenho que prestar muita atenção para perceber sinais, infelizmente ninguém é direto, o que seria muito melhor, assim eu poderia rejeitar de uma vez em vez de alongar uma amizade sem futuro pois parece que muitas vezes uma amizade, principalmente entre homem e mulher, é um “namoro em construção”, e isso é tão irritante!

Por qual motivo as pessoas tiram conclusões precipitadas sobre minha sexualidade? Pela minha aparência? Por que elas não perguntam antes?!
Nunca me senti confortável em entrar nesse tipo de relacionamento. E me tirava do sério quando as pessoas não me levavam a sério! Eu lembro que me sentia tão frustrada, invalidada. Sabe? Toda a sua indignação eu senti, e ainda sinto, mas dependendo da situação aprendi a identificar a ironia e a levar na esportiva.
Mas a minha vida toda cresci com as pessoas dizendo-me: “você um dia vai casar sim, e eu vou no seu casamento (amiga de escola aos 15 anos cujo contato perdi), “Você apenas não se apaixonou ainda, só isso” (aos 18), “Você precisa se tratar no médico, não é normal”(aos 20), “Você ainda só não encontrou a pessoa certa!” (Aos 22). Toda vez que eu ouvia algo assim eu só sentia ainda mais forte que eu não queria aquilo! Eu não queria casar! Eu não queria me apaixonar! Eu não queria encontrar a “pessoa certa!” Isso é errado? É crime?! Preciso viver uma mentira?! E eu sentia raiva porque eu nunca encontrei, exceto uma vez, alguém que me aceitasse e me dissesse “Está tudo bem, cada um é de um jeito” Porque o que eu sentia era legítimo! Era real! E estranhos que muitas vezes nem me conheciam não podiam dar palpite sobre como eu me sentia! Isso é irritante e não corresponde à realidade, não a sua realidade, talvez a deles! Mas aí que está, as pessoas são OBCECADAS em julgar as outras medindo-as com a mesma régua que medem a si mesmas. Elas diziam “será que você não é gay?!” Estava tudo bem ser gay o grande enigma para elas era “mas ninguém vive/é feliz sozinho” hahahaha Mas porque tenho que entrar em um tipo de relacionamento qual não quero para “não estar sozinha?” Antes só do que mal acompanhada! Não estou sozinha, tenho amigos, parentes, irmã.
O que me impede de namorar alguém? Simples, eu Não quero! Mas o que me impede realmente de sair e beijar uma garota bonita ou um garoto? Simples! Eu NÃO quero! (Não vejo nenhum sentido!) Se eu fizesse isso eu deixaria de ser assexual? Provavelmente não. Nem mesmo se eu casasse provavelmente. Mas não, obrigada.

As pessoas acham que só porque você tem sei lá 16~18 anos você não sabe o que sente... Elas adoram te empurrar em um abismo....
Atualmente eu tenho 29 anos e 10 meses. E digo: Nada mudou. Nada em relação aos meus sentimentos mudou. Pelo contrário, aprender sobre assexualidade fez com que eu me compreendesse mais, me tranquilizou por não ser tão única, me deu uma jornada de auto conhecimento e reafirmou minha sexualidade.

Outro dia fui ler minhas antigas mensagens no falecido MSN e fiquei surpresa de ler mais violência verbal do que eu me recordava nas palavras de pessoas que eu muito estimei... Quase unânime. E naquela época eu tava começando a aprender sobre assexualidade, meus próprios amigos me mandavam as notícias sobre e eu ouvia coisas como: que era doença, que isso não existia, sobre mim: que eu era traumatizada...

Mas quanto mais eu pesquisava sobre assexualidade mais eu compreendia que era meu caso... E até os dias de hoje eu continuo aprendendo... Tipo, só 5 anos depois de ter começado a me identificar como assexual “oficialmente” (2017), por exemplo, comecei a pesquisar e a compreender mais sobre arromanticidade (arrumei tempo durante a pandemia kk)... Compreender que essa não necessidade de namorar que tenho vem da minha falta de atração romântica. Eu até aprendi a gostar de romance em um contexto de ficção, algo puro e idealizado, mas na Ficção. Esse tipo de amor sempre me pareceu mais real e melhor na ficção.

“Aliás, sempre senti que as pessoas ao meu redor só queriam decidir como eu deveria usar o MEU corpo porque tinham a esperança de se aproveitar dele de alguma forma (até hoje me sinto assim, e agora que sei o significado de assexualidade, fico com raiva dessa gente e também não sei se estou certa em sentir essa raiva e como lidar com ela).”

Suas colocações foram tão perfeitas, é exatamente como me sintia/sinto. Lembro de chegar a me sentir ofendida quando alguém vinha com “da uma chance para ele”... Pera, mas e meus sentimentos, não contam?!
Essa raiva, eu conheci, e uma frustração muito grande. Mas hoje como vivo isolada não tenho que lidar com isso. Além disso, como lidamos com isso desde cedo, tento ao máximo não me deixar afetar mais com comentários... Simplesmente não ligue, não vale a pena, se afaste de quem não te respeita... É aquela coisa “1% ação e 99,99% é como você reage”.
Muitos momentos em que me senti mais invalidada e altamente frustrada, seja por médico, mãe ou amigos eu recordo até hoje a situação....

Cheguei a conclusão que os meninos introvertidos que tem sua sexualidade hétero posta em cheque devem sentir uma frustração semelhante. Sabe? Alguém afirmando que você sente “isso” quando você na verdade sente profundamente “aquilo”.

E que claramente nosso sexo/gênero e expressão de gênero carrega expectativas erróneas de nossa orientação sexual... No meu caso, uma menina  feminina padrão, automaticamente se torna alguém que deve necessariamente se sentir atraída por homens... Só que... Não?

Ainda me lembro do rosto chocado dos meus coleguinhas de 10 anos do fundamental quando descobriram que eu era “bv”... Me pergunto qual seria a reação deles se souberem que isso não mudou em 19 anos?! Kkk enfim...

Por fim...

Essa é a segunda vez que encontro um assexual convicto desde criança, cujo relato afirmava dizer que desde criança não iria casar, a primeira vez foi uma pessoas no AVEN (o fórum americano, ano passado), mas não tive a oportunidade de interagir...

Eu também não entendo e nunca vou entender completamente o mundo dos allosexuais, eu só posso conjecturar, e fazer hipóteses, mas eu penso bem diferente, pois sinto bem diferente...

Bem, acho que acabei escrevendo demais... Me identifico tanto que acabo pensando em minhas próprias experiências e no fim vira um desabafo...  Mas se contribuí para algo, mesmo que mínimo, já fico feliz.
E Por favor não tens que pedir desculpas pelo relato longo, estamos aqui para debater.

Me vejo completamente em tudo que você escreveu seja no relato ou posteriormente, nas respostas! Vou amar ouvir mais sobre suas experiências!!!
Por fim, vou deixar algumas frases com as quais me identifico:

“Romantic love is a trap to expand the capitalist system.” Welcome to the NHK.

“Se há tantas cabeças quantas são as maneiras de pensar, também devem haver tantos tipos de amor quantos são os corações...” Leo Tolstoy.

Olá Luciana!

Espero que tenha se sentido muito bem nas suas semanas aqui. Me lembro de quando eu comecei a me envolver. É muita informação e gente diferente, o que é ao mesmo tempo incrível, reconfortante e um pouco confuso.

Eu nunca tive tanto rechaço das pessoas quanto à minha assexualidade, mesmo antes de eu entendê-la assim. Mas nós temos idades parecidas, e algumas coisas parecem similares - apesar de que a experiência feminina e a masculina costumam ter suas peculiaridades.

Eu me lembro muito bem de um amigo, por volta dos meus 17 anos, que me confrontou em relação a algo que eu havia dito uns cinco anos antes, na escola - portanto com uns 12 anos: que eu ''só iria namorar depois dos 18'', ou algo do tipo. Ele achou arrogante, como se eu estivesse condenando a atitude dos outros. Na época eu fiquei assustado com ele se lembrar disso, porque eu nunca achei que era algo importante. Eu compreendo a impressão dele, porque a minha forma de expressar não foi bem adequada (eu tinha, afinal, uns 12 anos, e ele também). Acho que na ocasião em que ele disse isso, depois do choque inicial, consegui explicar melhor.

Sem conhecer a assexualidade (aos meus 12 anos, a rigor, ela nem existia nos termos de hoje, porque a fundação da AVEN foi em 2001), eu estava procurando expressar o que sentia da maneira que podia. Assumia que as coisas poderiam mudar ("quando eu tivesse 18 anos"). No final, não mudaram, não até agora.

Seja bem-vinda, Luciana!

Que bom que você pôde desabafar, esse tipo de coisa faz bem pra gente.

Meu Deus, Yuki_14 querida, parece até que vc é minha gêmea perdida! 🥰 Tudo que vc falou bateu certinho com minhas experiências!

Olha, eu hoje até que tento ignorar as opiniões desse pessoal ignorante, mas é difícil demais! Assim como vc, eu tb nunca me interessei por essas bobagens de romances para garotas, mas tb não aguento a brutalidade do mundo masculino, então fico no limbo e tento não pensar muito nisso, até pq tem dias que até esqueço meu gênero. Rrrrrsss Mas essa angústia de ficar sempre vigilante com as segundas intenções dos outros estressa demais e não dá pra baixar a guarda pq não há outro modo de sobrevivermos no mundo de hoje. O que mais me chateia é exatamente isso que vc disse: todo mundo tem sempre um conselho não solicitado de como deveríamos viver nossas vidas, com que idade deveríamos transar e com quem, mas ninguém pergunta ou simplesmente não quer saber como nos sentimos ou se isso realmente fará bem para nós. Digo isso pq tenho amigos allos que foram vítimas de relacionamentos abusivos e os abusadores usaram justamente esse apego ao romance e ao sexo como armadilhas contra eles/elas. É incrível o que os seres humanos são capazes de fazerem uns com os outros só para terem orgasmo ou então para preencher uma ideia de que "pega geral". Ou então, são parte de um pessoal altamente possessivo que veem os namorados e namoradas como propriedades mesmo. As pessoas idealizam tanto essa esfera romântica e sexual e esquecem que até para elas não é tão maravilhoso assim. Só queria que acabasse essa hipocrisia de exigirem de nós algo que não podemos sentir e que se preocupassem em melhorar as próprias vidas sentimentais. E tb queria que as relações entre os humanos não se resumissem a uma corrida do sexo, pois como vc disse, não dá nem para ter amizades direito hoje pq as pessoas já ficam esperando uma oportunidade de catar da gente alguma migalha de romance e sexo. É triste e patético! Às vezes, eu penso que ninguém nos vê como seres humanos de fato. Acho que aos olhos dos outros devemos ser alguma mistura de robô do sexo com máquinas de parir, e se surpreendem com nossas escolhas pq ninguém espera opiniões de máquinas e objetos. Esses pensamentos me deixam triste, mas não consigo não perceber a realidade das coisas. No momento, eu tô em modo defensivo pq já sofri até bullying por ser assim e campanhas de difamação por dizer não. Tem gente que cresceu comigo e que hoje me odeia, e torce abertamente pelo meu fracasso, apenas pq não transei com eles ou com os amigos solteiros que tinham. Tb há pessoas que acham que sou "egoísta" só pq estou focada nos estudos e no trabalho, vivendo minha própria vida sem filhos, sendo que passei uma juventude inteira de privações e sacrifícios e parece que não tenho direito a finalmente ter um respiro e correr atrás dos meus sonhos e interesses. E, assim, ser atacada dessa forma a vida inteira meio que cria uma casca bem grossa muito difícil de tirar. Inclusive, já até ensaiei uma boa resposta para quando vier uma nova onda de cobranças nesse sentido e pretendo ser mais contundente dessa vez, pq já não sou mais a menininha do passado, que tentava convencer as pessoas, apesar da cara de criança.

Enfim, curti muito o seu relato e é muito bom ver que não sou a única me sentindo assim! Principalmente essa raiva, que pensei que fosse algo anormal. Vou tentar seguir seu conselho e não me importar tanto, mas vai ser difícil pq já tô condicionada a reagir à estas coisas. Mas estou me abrindo para minha família. Dias atrás eu disse a meus pais que não me casaria e que eles jamais teriam netos. Quando perguntaram o pq, eu confessei que não sentia desejo sexual algum (coloquei dessa forma) e nem vontade de transar e que era incapaz de me apaixonar. Que nunca aconteceu e que jamais acontecerá e que sou feliz assim, pois essas coisas não me fazem falta. Graças a Deus aceitaram bem! Mas eu tô preocupada com as pessoas que param eles na rua ou em outros lugares para perguntar do meu estado civil. Temo que possam fazer pressão neles a meu respeito, principalmente agora que descobri que há sim uns narcisistas vigiando meus recentes passos. Mas só em saber que tenho o apoio dos meus pais já me tira um grande fardo dos ombros! É sufocante viver num ambiente onde ninguém te apoia e vc é coagido a seguir um monte de regras não escritas, que ninguém sabe quem criou e segue mesmo assim.

Olha Yuki_14, muito obrigada mesmo pelas suas palavras de apoio! Tô feliz por vc estar se descobrindo tb e se aceitando como realmente é. Abraços apertados e muita força para ti! 🥰

Sam escreveu:

Seja bem-vinda, Luciana!

Que bom que você pôde desabafar, esse tipo de coisa faz bem pra gente.

De nada Sam! Eu que agradeço o acolhimento nesse espaço! Já fiquei tempo demais com as coisas presas dentro do peito e tb acreditando que um dia eu me adequaria ao estilo de vida dos outros. Agora chega! Quando a gente chega aos 30, devemos ser fiéis a nós mesmos e não viver para agradar todo mundo. Abraços!

BPBertolino escreveu:

Olá Luciana!

Espero que tenha se sentido muito bem nas suas semanas aqui. Me lembro de quando eu comecei a me envolver. É muita informação e gente diferente, o que é ao mesmo tempo incrível, reconfortante e um pouco confuso.

Eu nunca tive tanto rechaço das pessoas quanto à minha assexualidade, mesmo antes de eu entendê-la assim. Mas nós temos idades parecidas, e algumas coisas parecem similares - apesar de que a experiência feminina e a masculina costumam ter suas peculiaridades.

Eu me lembro muito bem de um amigo, por volta dos meus 17 anos, que me confrontou em relação a algo que eu havia dito uns cinco anos antes, na escola - portanto com uns 12 anos: que eu ''só iria namorar depois dos 18'', ou algo do tipo. Ele achou arrogante, como se eu estivesse condenando a atitude dos outros. Na época eu fiquei assustado com ele se lembrar disso, porque eu nunca achei que era algo importante. Eu compreendo a impressão dele, porque a minha forma de expressar não foi bem adequada (eu tinha, afinal, uns 12 anos, e ele também). Acho que na ocasião em que ele disse isso, depois do choque inicial, consegui explicar melhor.

Sem conhecer a assexualidade (aos meus 12 anos, a rigor, ela nem existia nos termos de hoje, porque a fundação da AVEN foi em 2001), eu estava procurando expressar o que sentia da maneira que podia. Assumia que as coisas poderiam mudar ("quando eu tivesse 18 anos"). No final, não mudaram, não até agora.

Eba!!! Aprendi como responder com citação!

Que bom que ninguém ficou te enchendo tanto o saco! Rrssss Mas incrível como as pessoas se sentem ofendidas só pq não inauguramos nossa genitália e nem botamos luz neon nela dizendo: "venha já para a Black Friday abaixo da cintura" kkkkkkkk. O garoto implicou por algo que vc disse ainda na infância!