Olá, pessoal!

Adianto meu pedido de desculpa caso eu cometa algum deslize nesse texto, ainda estou aprendendo a usar algumas nomenclaturas e inclusive estou em um constante processo de me redescobrir.

A pergunta que dá título ao tópico tem crescido dentro de mim depois que comecei a me aproximar ainda mais de grupos LGBTIA+, inclusive organizações. Bom, sempre me identifiquei com um homem gay. Porém nunca me identifiquei com uma certa "hipersexualização" que permeia as relações dentro da comunidade LGBTI+. Talvez o termo não seja exatamente esse, mas procurei um que me ajudasse a dar conta de tentar explicar algo que sempre me incomodou mas que eu não conseguia expressar. Agora, conhecendo mais a comunidade ACE, e me conhecendo melhor, percebo que talvez isso esteja ligado com a minha existência e a forma com a qual eu percebo e lido com o campo da (a)sexualidade.

Agora, para instigar mais ainda a reflexão compartilho um ocorrido:

Recentemente participei de uma atividade organizada por um grupo LGBTI+, um encontro que foi muito produtivo e de suma importância.  
Contudo, em um certo momento do encontro a discussão passou pelo o uso do termo/sufixo "ssexualidade" (homossexualidade, transsexualidade) como formar de marcar uma identidade em oposição a ideia de "homossexualismo", ou seja, de uma patologia/doença. Esse ponto me incomodou bastante pois acabei me sentindo quase que um peixe fora d'água (e eu ainda não levei a questão da minha possível assexualidade pra lá, até porque eu mesmo ainda estou me permitindo me descobrir). Me peguei pensando que comumente os alos tendem a centralizar a sexualidade em suas pautas, assim como em suas relações. Aqui uma observação, isso é tão verdade que eu só fui conhecer o termo homorromântico há pouco tempo.

Bom, com base nisso tudo que apresentei gostaria de repetir a pergunta do título:
Como vocês se relacionam com a comunidade LGBTI+ (aqui não falo só de amigos, mas de organizações ou grupos. ex: militância)?
Já passaram por algum episódio marcante? Possuem uma boa relação?

Faço esse questionamento, para promover a discussão, pois apesar de estar começando a me identificar mais como ACE, ou GREY-A/Homorromântico, ainda me identifico com pautas que são defendidas pela comunidade/militancia LGBTI+, e em especial pelos homossexuais, pois também estou suscetível a sofrer homofobia por estar se relacionando romanticamente com outro homem. Certo?

Fico por aqui com meus questionamentos e aguardo ansiosamente por comentários.
Inté, pessoal  

Minha opinião sobre a militância LGBT (ou seja lá qual for a sigla que estejam usando agora; no "meu tempo" a sigla era essa) já é conhecida aqui. Não vejo com bons olhos este movimento, pois às vezes parece que o que eles querem é apenas promover uma "guerra entre sexualidades", jogando pessoas não-heterossexuais contra heterossexuais, ao invés de combater o preconceito. Além disso, o movimento LGBT sempre teve uma profunda ligação com a Esquerda política, e eu não sou de Esquerda (mas também não consigo me identificar como sendo de Direita). Sou a favor do casamento gay e da adoção de crianças por gays, mas não consigo compactuar com algumas atitudes dessa militância.

Eu não me sinto representado na comunidade LBGT+. Já vi por aí LGBTs falando atrocidades e tentando desmerecer assexuais por supostamente "sofrerem menos que eles", ou dizendo que "não existe assexualidade, nos chamando de doentes", ou "mesmo por haver entre nós heteros e por isso nós não merecemos estar na comunidade". Sei que isso não representa o pensamento da comunidade como um todo e que existem pessoas maravilhosas também, mas o problema é que somos invisibilizados até mesmo dentro da comunidade que deveria nos acolher.

E o que vc falou sobre a hipersexualidade é bem real, eu percebi isso também, não parece um ambiente muito confortável para assexuais quando eles dão um valor alto ao sexo. Eu consigo compreender porque a assexualidade foi inserida dentro da comunidade, mas se a gente pensar nas particularidades somos bem diferentes deles, e fator sexual - assexual faz uma diferença bem grande.

Tiago escreveu:

Eu não me sinto representado na comunidade LBGT+. Já vi por aí LGBTs falando atrocidades e tentando desmerecer assexuais por supostamente "sofrerem menos que eles", ou dizendo que "não existe assexualidade, nos chamando de doentes", ou "mesmo por haver entre nós heteros e por isso nós não merecemos estar na comunidade". Sei que isso não representa o pensamento da comunidade como um todo e que existem pessoas maravilhosas também, mas o problema é que somos invisibilizados até mesmo dentro da comunidade que deveria nos acolher.

E o que vc falou sobre a  hipersexualidade é bem real, eu percebi isso também, não parece um ambiente muito confortável para assexuais quando eles dão um valor alto ao sexo. Eu consigo compreender porque a assexualidade foi inserida dentro da comunidade, mas se a gente pensar nas particularidades somos bem diferentes deles, e fator sexual - assexual faz uma diferença bem grande.

Concordo com tudo que vc falou! Inclusive às vezes para mim parece que dentro da comunidade LGBT há até mais hipersexualização do que fora dela. Hoje em dia a maior parte dos meus amigos são lgbt, minha família tbm (irmã trans), e inclusive pesquiso Gênero e Sexualidade na Residencia Pedagógica que faço na faculdade e ainda assim, nos meus 6 anos que me conheço como ace, não houve um momento que de fato me senti acolhida na comunidade. Eu tenho amigos gays que não tem ideia do movimento ace e mesmo conhecendo à mim nunca se interessaram a perguntar. (E o engraçado é que um amigo hétero allo já haha).
Às vezes a comunidade lgbt praticamente nos impõe regras para lutar e buscar um espaço dentro da sociedade, mas pra mim ainda não faz sentido a gente ter que lutar por um espaço dentro na própria comunidade que "supostamente deveria nos acolher".
Meus próprios amigos gays que entram em app como Grindr falam que a maioria busca somente sexo em primeiros encontros já.
Na comunidade hétero há muito tabus ainda sobre gravidez e doença o que faz com que geralmente tarde ao menos uns 2 a 3 encontros antes de diretamente ter uma relação sexual. Mas na comunidade lgbt+ é quase que exclusivamente sobre sexo (e a cultura sexual). Eu, apesar de me considerar panrromantica, nunca consegui ficar com uma garota ou com alguém da comunidade (trans/meninos bi) pq na maioria das vezes, por mais contraditório que pareça, não conseguem compreender a assexualidade.

Acho o movimento lgbt muito importante e realmente eles conquistaram muitos direitos. Gosto da diversidade de gênero e sexualidade que hoje entendemos em nossa sociedade. Mas quando a gente pensa nos eventos principais (como a parada), representatividade em séries (que geralmente ao meu ver são horríveis) ou até mesmo o conhecimento sobre a nossa existência, não me vejo sendo representada no meio.

Sou homoafetivo e nunca tive afinidade com o comportamento da maioria dos homossexuais, por isso nunca consegui me aproximar da comunidade. Tentei frequentar igrejas inclusivas, mas também não me senti à vontade ou feliz no meio deles. Sempre tentei fazer amizades saudáveis com homossexuais, mas nunca consegui. Minha esperança é que, agora que eu finalmente entendi e comprovei que sou assexual, eu possa focar em interagir com pessoas assexuais ou simpatizantes à assexualidade, e nunca mais ser perturbado pela outra energia.

Nunca consegui me sentir representada ou ter algum algum grau de proximidade com o movimento LGBT por identificar muito apelo sexual até nas mínimas coisas e acho que tem se agravado ainda mais ao longo dos anos com toda essa união com a política o que muitas vezes acaba obrigando as pessoas a aceitarem algo que elas nem tem muita ideia do que é, mas que ao mesmo tempo se você não se mostrar conivente você é tido como preconceituoso. E de uma forma geral não vejo isso como algo positivo para as minorias, mais contribui para segregar do que unir.

Nossa! É incrivel encontrar pessoas que descrevem exatamente como eu me sinto faz muito tempo. :,)

Eu nunca entrei em contato, nem participei, nem pretendo, de alguma comunidade LGBTQI+. Antes de eu ter me descoberto Ace, eu já tinha algumas coisas contra, após a descoberta e ter pesquisado bem mais a fundo, surgiram outras coisas para acrescentar na lista. A militância e a hiperssexualização com certa são fatores que me incomodam, mas não são os únicos.

As vezes é difícil separar onde acaba um grupo de pessoas que querem se ajudar e começa um movimento político. O primeiro eu tenho interesse, o ultimo nem um pouco. Acompanhei, de longe, um grupo que apoiava muito os transexuais, de forma militante e severa, e, ironicamente, o grupo não possuía nenhuma pessoa trans (pelo menos não ativa). Quando conversei com uma pessoa trans a respeito, ela disse que nunca participaria de lá, pois o ambiente era muito hostil e ela se sentiria desconfortável.

A relação do resto do pessoal LGBT conosco é rochosa de vez em quando, a fobia vem de todos os lados e deles as vezes mais ainda!

Sendo sincero, na maioria das vezes eu sequer me sinto parte da comunidade. Desde antes de entender melhor minha assexualidade, eu já havia percebido como certas identidades da sigla sempre tinham (e têm) mais visibilidade e, até me arrisco a dizer, mais importância também. O processo de se descobrir e se entender assexual/arromântico já é solitário e difícil por si só, e a comunidade LGBTQ+ não torna isso nem um pouco mais fácil... Muitas vezes é o contrário, na verdade.

Concordo com vc

Não tenho preconceito nenhum, só digo isto, mas não me sinto confortável incluírem assexuais nesta sigla, sinceramente tenho ate vergonha de ter assexuais nesta mistura.
Explicando em outras palavras, por ser uma pessoa que vivo sozinho já tem gente, inclusive da minha família, que acha que sou gay, e mesmo não tendo preconceitos me sinto ofendido ao ser confundindo com gays, ai algum bocó vem, desculpe pelo bocó, e incluem o A de assexual no meio da historia.

Acredito que os assexuais não deveriam mesmo estar nessa bandeira, de algum modo parece que gays e lésbicas não legitimam e aceitam abertamente que existam assexuais, dado que tudo é muito hiper sexual para eles. É uma comunidade deles que se refere sempre ao sexo. Não vejo inclusão de assexuais nem respeito com nós mesmos, porque vi na faculdade que estudei que homens jovens gays sempre se gabando do quando transavam como se fosse achar ouro.