Faz tempo que não interajo aqui. rs... Bom... eu gostei muito desse texto e resolvi compartilhar aqui no fórum. Espero que vocês gostem.
Quando o amor vira amizade...
:: Rosana Braga ::
Creio que todo casal, em algum momento da relação, já se perguntou: “será que eu realmente amo esta pessoa
ou estou com ela apenas porque já me acostumei?”. Ou seja, a dúvida parece reincidir sobre dois sentimentos
que aparentemente exigem posturas diferentes: amor e amizade.
Porém, creio que alguns conceitos necessitem de certa reflexão. Se podemos nos apaixonar por um amigo,
supomos que amizade e amor podem ter íntima correlação. Se podemos nos tornar amigos de quem amamos, a
afirmação continua valendo. Isto é, podemos acrescentar amor à amizade e amizade ao amor.
Mas por que, em muitos casos, quando uma pessoa se questiona sobre o fato do amor terse tornado amizade,
fica a impressão de que algo se perdeu? Fica a sensação de que falta alguma coisa, de que foi subtraído da
relação o mais importante? Será?
Claro que buscamos o despertar de sentimentos peculiares quando decidimos nos entregar a uma relação
amorosa. Paixão, excitação e palpitação não combinam com as relações que vivemos entre amigos. Esperase
que no ‘grande encontro’ haja mais do que a paz que pode ser encontrada num ombro companheiro. Esperase
que haja desejo.
Muito bem. Isso é verdade. Mas qual é o prazo de validade da paixão? Qual é a função desse fogo que parece nos
consumir e nos movimentar no auge de sua envolvência. Será possível viver nesta ardência por toda a vida? Será
construtivo?
O que quero dizer, na verdade, é que a base de uma relação de amor, especialmente com o tempo, a dedicação
e a construção de uma vida em comum, vai ganhando mais em amizade e permitindo que se apague, de forma
saudável e necessária, o fogo da paixão. E é absolutamente preciso que seja assim, acredite!
A paixão é maravilhosa, deliciosa, imperdível e desejável, mas como fogueira vai se apagando em seu devido
tempo. Fogo demais queima, machuca, dói, destrói. Fogo de menos faz falta, deixa frio, escuro, desconfortável.
É preciso acertar o tom, aceitar o ritmo, embriagarse de labaredas na medida certa... e depois, aprender a manter
acesas somente as brasas.
Mas as crenças e os romances nos enganam; deixam no ar a ilusão de que podemos estar constante e
ininterruptamente apaixonados, ardendo, como se o amor se resumisse a isso. E assim, nos perdemos em
desejos impossíveis. Acreditamos que falta algo nas relações duradouras. Simplesmente porque não aprendemos
a apreciar a sutileza do amor. Ficamos presos e condenados à aflição que nos causa a paixão.
E o fato é que ela acaba. Ela sempre acaba. É assim, não tem jeito. Mas a gente não aceita. Busca outra e outra,
nos remetendo a um vazio que nunca poderá ser preenchido senão com a delicadeza do amor. Precisamos nos
deixar apaziguar, mais cedo ou mais tarde. Geralmente, mais tarde. Algumas vezes, bem mais tarde! Noutras,
nunca, infelizmente.
Por isso, antes de pôr fim a uma relação que tem mais sutileza do que ardência, que lhe provoca mais paz do que
desejo, pense bem. Não se deixe cair numa armadilha ardilosa e extremamente perigosa.
Não estou, de forma alguma, subestimando a importância da paixão. Ela é necessária e imperdível. Contém em si
o impulso da provocação, a coragem para a entrega. Sem ela não há início, não há motivação para o nascimento
do amor.
A paixão rompe a terra para deixar nascer o amor, em forma de fruto.
Desejo assim, que todos nós tenhamos a oportunidade de nos envolver nas chamas da paixão. Se preciso for, até
arder, doer e aprender. Para depois, enfim, valorizar a calmaria do amor. Afinal, a paixão queima e machuca
enquanto que o amor aquece e acolhe... e que você descubra e usufrua do segredo contido na relação que tornase
mais parecida com amizade e menos com a angústia das paixões.
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