Embora haja críticas negando que uma visão política sobre o assunto seja necessária ou conveniente e que a concepção de mais um "ismo" seja contraproducente, eu não posso deixar de escrever um pouco mais sobre isto, uma vez que é uma perspectiva com a qual me identifico, muito mais do que com o rótulo de "Assexual". Tolerem um pouquinho, não vou me demorar:

"O "ismo" é uma posição filosófica ou científica que sustenta algo sobre uma idéia, um fato, um sistema, uma política, um programa, uma circunstância etc. É uma idéia central a nortear o adepto perante o mundo ou em face de determinadas coisas. É um método ou conjunto de valores, é um principio ou conjunto de princípios explicativos sobre alguma coisa ou algum fato. É uma filosofia ou um modo de ver o mundo ou determinado problema. "
Januário Francisco Megale, in Alguns “ismos” das Ciências Sociais
http://www.culturabrasil.org/ismos.htm

Assexualismo, se não existe ainda, passa a existir em minha cabeça como sendo a filosofia política que pretende conhecer a realidade através da reavaliação do papel desempenhado pelos elementos de erotização na relação entre o homem e o mundo. Neste sentido, opõe-se frontalmente a outro "ismo", este bastante conhecido: o sexismo ( http://sexismoemisoginia.blogspot.com e http://bastadesexismo.blogspot.com ), que é uma prática hegemônica na orientação e formação de nossas subjetividades e sociedades e que ultrapassa o âmbito das questões de gênero.

O Assexualismo (poderia ser denominado assexismo, mas este termo acarretaria o distanciamento deste fenômeno novo que é figura do Assexual, que está ainda sendo definida, e que é muito relevante), não vê o assexual como um novo gênero ou um anti-gênero, que mereceria visibilidade e afirmação como uma mera alternativa no cenário das subjetividades sexualmente orientadas. O assexualismo toma como ponto de partida exatamente o problema das consequências da infiltração indevida ou desmedida da orientação sexual em todos os aspectos da realidade e da percepção de mundo e do homem.

(continua....)

(continuação)

Na visão assexualista, o Assexual seria qualquer indivíduo que, por seu discurso e comportamento, revelasse uma percepção do mundo e do homem libertada das concepções sexistas hegemônicas, qualquer que fossem as causas e razões que motivassem este modo de ser, pensar e sentir. Assim, assexual não é um novo gênero nem a negação de gênero, mas o pensamento além do gênero. Um assexual pode ser heterossexual, homossexual, bissexual ou indefinido quanto à sua orientação sexual, desde que seus valores e ideologias não se mostrassem indevidamente erotizadas. Neste sentido, assexual passa a ser sinônimo de assexista.

(continua...)

(continuação - que cara chato, vai ficar colocando posts após posts... por que não prepara um texto completo e publica de uma vez só?!)

As pessoas que são atraídas para sites como Aven (e o A2, também) são:
- aqueles que sofrem a pressão e a violência que o sexismo exerce sobre aqueles que tentam pensar e sentir de modo assexista (ou assexual);
- aqueles que procuram pessoas que pensam e sentem assim como eles, ou seja, de modo assexista (ou assexual), para formar um círculo de amizade.

Aqui parece ser assim, mas no caso de Aven, estas duas motivações complementares acabam entrando em conflito com uma terceira tendência, que é a de monopolizar a discussão e controlar a inserção social através da pesrpectiva reacionária de um certo eugenismo que busca selecionar os tipos de assexualidade aceitáveis - tal como no século XIX e começo do XX se faziam por medições de crânio.

(continua.... - ah, não!)

( e não é que o cara continua?!)

Eu considero que a Aven se equivoca ao colocar em evidência a questão da assexualidade associada a uma luta contra a "patologização" do fenômeno. A estratégia que a sociedade usava para combater o homossexualismo servindo-se da vinculação deste grupo a algum tipo de doença (genética ou mental) já foi suficientemente combatida pelo movimento GLS a ponto da discussão já estar em outros patamares, como em questões mais específicas de inserção efetiva no quadro dos direitos individuais e coletivos (inclusive comemorando agora, no Brasil, a legalização da união civil homoafetiva).

Já a questão da assexualidade, ao meu ver, passa longe da opressão típica do "vigiar e punir" camuflada como "curar e recuperar". Hoje em dia nenhum médico endocrinologista irá tentar manipular o complexo sistema endocrinológico de um jovem para acrescentar ou subtrair alguma libido, a pedido dos pais ou do próprio "paciente". Tampouco os psicoterapeutas irão insistir em qualquer abordagem que leve a isto. A questão de saúde passa um tanto longe do cerne da questão.

Não tanto quanto lutar contra a estigmatização da assexualidade como "doença", acho que a luta deve ser focada exatamente contra a cultura sexista e sua estratégia de vulgarizar toda a sexualidade e, portanto, vulgarizar também a situação de assexualidade deste ou daquele indivíduo.

(acho que continua....)

Sua visão é interessante, mas concordo apenas com alguns coisas. Talvez na realidade brasileira o problema da assexualidade vista como doença não existe como no exterior, então acho legal você mencionar isso, mas não podemos desconsiderá-la como realidade (ainda que em outros países). No Brasil talvez um problema maior a ser considerado seja justamente o aspecto de desconexão com o sexo. Bem sabemos que nosso cultura possui uma carga sexual extrema - para um asexual brasileiro isso é realmente pode ser um problema. No entanto, quanto a pensar nisso somente como uma "filosofia" é ignorar o aspecto, digamos, fisiológico de ser asexual. Uma pessoa que descondiera o sexo importante não necessariamente é asexual, apenas pode ser celibato (entre outras definições). Um asexual, por natureza, não sente atração sexual, o que o leva a ter uma orientação sexual diferente apenas (ou, no caso, uma orientação não-sexual, haha).

Você menciona, também, a assexualidade (ou assexualismo, embora isso soe mais como doença para mim, do que filosofia) como um novo gênero - isso eu não entendi. Gênero do quê? (Gênero, como feminino e masculino? Ou você fala de uma alguma categoria social, algum movimento?). De qualquer forma, ver a assexualidade como fênomeo social de reação ao "sexismo extresmo" não procede, pois muitos podem ter essa perspectiva e ainda sim se relacionarem de maneira sexual. A asexualidade pode ajudar sim em trazer uma perspectiva nova aos relacionamentos (de forma geral, não só os que contém sexo), por quebrar o padrão do que é tão comum e aceito em nosso sociedade (sexo por todos os cantos...), mas ser asexual não é filosófico, é apenas aquilo que caracteriza uma pessoa que não sente atração sexual - ainda sem isso, sexo pode ocorrer também.

Acho a forma de luta proposta por você interessante, mas não posso desconsiderar aquela referente à patologização, pois ainda percebo uma percepção social à assexualidade como doença. Grande parte das pessoas que conheço, incluindo meus pais, acreditam que eu tenho um problema que pode ser curado, e enquanto a sociedade não aceitar a assexualidade como orientação, como um comportamento natural, e não patológico, modificá-la em relação à cultura sexista será ainda mais difícil. E também acho a primeira opção, no momento, mais importante.
E tenho que concordar com Atropa belladonna, muitos homossexuais pedem para que nós deixemos de usar o termo "homossexualismo" por conotar doença, e, como queremos fugir deste lugar, acho melhor nem começar a trazer este sufixo para o tema.
Fora estes pontos de discordância, achei muito interessante o seu texto e a sua opinião.

Que tópico interessante! No entanto, não concordo com você.

Sinceramente, não me importa muito o que pensa ou diz a AVEN ou outros órgãos, se é que existem. Acredito que somos muito previlegiados em relação a nossos outros irmãos queer e essas questões políticas para assexuais não me importam tanto quanto às demais LGBT (sabendo que estamos incluindo neste grupo).

O que eu foco mesmo é em tentar desmistificar a assexualidade, mostrar que é algo mais comum que o que imaginam.

Não concordo quando você diz que um assexual pode ser homossexual, heterossexual ou bissexual. Para mim, seria como criar uma nova classificação que vai de assexual a pervertido sexual, e não é isso o que entendo por assexualidade.