Gente, desculpem o tema. Não gosto de falar dessas coisas abertamente, mas preciso de ajuda, e, se aqui não for o lugar, não sei onde seria. Vamos lá:

Estou em um relacionamento sério com uma mulher há 9 anos. Nós nos damos muitoooo bem, mas existe um problema que ainda não discutimos abertamente, que é a minha assexualidade. Só recentemente é que me descobri assexual de vez (e não contei para ninguém), mas eu nunca gostei muito do ato. Gosto da sensação do ato, mas não quero fazer. Na minha cabeça, isso nem existia, e eu achava que perdia o interesse porque sou distraído. Hoje, graças a todo o trabalho de conscientização e todas as informações disponíveis, eu sei que a questão era outra. Desde o começo, nós transávamos, mas era bem restrito. Eu não gostava de fazer quase nada, mas satisfazia ela. Com o tempo, eu continuava tentando, sempre sem saber a verdade sobre mim mesmo, mas as coisas foram esfriando até que, ironicamente, ela perdeu o interesse e, desde 2014, nunca mais transamos.

Pronto, problema resolvido! Só que não exatamente.

Nós continuamos juntos, continuamos bem, mas eu sei que ficou faltando algo importante para ela, e eu sei que ela só está tolerando isso, mas não concordando, porque, na época em que transávamos, lembro de ela ter ficado magoada nuns dias em que eram datas especiais e eu não quis fazer nada sexual, e também por um dia em que eu falei que não faço questão de beijar de língua, que só fazia por ela. Depois de 2014, um dia eu comentei que, desde que paramos, tudo só tinha ficado melhor entre nós, e ela disse que pra ela, perdemos algo. (Bom, essa parte era óbvia.)

Eu queria fazê-la mais feliz, mas parte de o que ela quer eu não posso dar. Esse é um problema. O segundo problema é que nós perdemos nossa intimidade como casal, e isso fui eu que fiz sem entender por quê (só entendi agora). Por exemplo, eu não queria mais que ela me visse no banho ou entrasse no banho comigo por medo de ela querer transar comigo e eu ter que rejeitar ela de novo.

Só semana passada é que fui entender que o que eu tenho medo é de ter uma ereção e ela pensar que eu quero transar. Gente, eu gosto de mulher, eu tenho libido, só não gosto de transar. Só quero intimidade. Faz sentido isso pra vocês? Eu acho que a palavra é heterossensual, se é que já existe. Se não existe, acabei de inventar.

Eu descobri que o que me impede de ter intimidade com a minha própria namorada é esse risco de ereções intrusas, e os homens sabem que, quando você não quer, é justamente quando mais acontece. Elas não só não refletem a minha vontade, como refletem o exato oposto, e eu sinto que o meu corpo não deveria produzir isso. De repente, estou vivendo um drama parecido com o dos transgêneros, que sentem (e sabem) que estão no corpo errado. Tudo faz sentido agora e não tenho dúvidas sobre o que estou sentindo. Eu quero viver minha vida como eu sou de verdade, e isso está me reprimindo. O que estou pensando em fazer agora é ver se seria possível me "dar" disfunção erétil de propósito cirurgicamente; tipo alguma cirurgia vascular, como de varizes, pra reduzir o fluxo sanguíneo no local. Loucura pensar isso? Alguém sabe se isso é sequer possível? Estou achando que seria uma luta convencer um médico a fazer isso.

Isso resolveria o meu problema, mas e o dela? Eu sinceramente estou considerando falar pra ela que, se ela sentir necessidade, eu não veria problema em ela buscar uma parceira, porque eu sei que ela é bissexual. Estou aberto até à ideia de um relacionamento polígamo, mas eu tenho medo disso, porque eu poderia virar a terceira roda rapidinho e acabar ficando de lado, de lado até ser rejeitado de vez, mas talvez seja egoísmo meu pensar assim. Tenho medo de "mexer" nisso e provocar um resultado pior, talvez para mim mesmo, talvez para o relacionamento em si. Ao mesmo tempo, se eu não tentar mexer, deixo de dar à minha namorada parte importante de um relacionamento, uma parte da qual ela sente falta.

Gente, o que acham sobre tudo isso? E o que eu faço?

Oi Matty,

Matty escreveu:

Nós nos damos muitoooo bem, mas existe um problema que ainda não discutimos abertamente, que é a minha assexualidade.

Acho que isso é o principal, você precisa conversar com sua parceira sobre isso para que ambos possam decidir como seguir com a relação, já que ela parece ser importante para os dois. Comunicação é sempre o melhor caminho possível para resolver os problemas, e existem várias formas de resolver, seja abrindo a relação, como você mesmo sugeriu, ou estabelecendo outros tipos de acordo em que os dois fiquem satisfeitos e tenham suas necessidades atendidas.

Matty escreveu:

eu sei que ficou faltando algo importante para ela, e eu sei que ela só está tolerando isso, mas não concordando, porque, na época em que transávamos, lembro de ela ter ficado magoada nuns dias em que eram datas especiais e eu não quis fazer nada sexual, e também por um dia em que eu falei que não faço questão de beijar de língua, que só fazia por ela. Depois de 2014, um dia eu comentei que, desde que paramos, tudo só tinha ficado melhor entre nós, e ela disse que pra ela, perdemos algo.

Essa é a dificuldade de ter relações com pessoas que não são assexuais, mas isso não significa que seja impossível continuar com a relação. Como eu disse antes, é preciso ter uma conversa séria sobre o assunto para que os dois decidam o que é melhor para manter o relacionamento.

Matty escreveu:

O segundo problema é que nós perdemos nossa intimidade como casal, e isso fui eu que fiz sem entender por quê (só entendi agora). Por exemplo, eu não queria mais que ela me visse no banho ou entrasse no banho comigo por medo de ela querer transar comigo e eu ter que rejeitar ela de novo.

Não entendi a relação entre nudez e intimidade, acho que intimidade não tem a ver com isso, mas, de novo, é preciso conversar para saber se isso incomoda sua parceira e, caso sim, como vocês poderiam resolver essa questão.

Matty escreveu:

Gente, eu gosto de mulher, eu tenho libido, só não gosto de transar. Só quero intimidade. Faz sentido isso pra vocês? Eu acho que a palavra é heterossensual, se é que já existe. Se não existe, acabei de inventar.

Faz sentido sim e está tudo bem, não há nada errado com você e acredito que o termo para defini-lo, se você quiser um, seria "assexual heterorromântico". Você também pode estar na área cinzenta, e poderia se definir como gray-a, ao invés de assexual, mas aí quem tem que dizer é você.

Matty escreveu:

Eu quero viver minha vida como eu sou de verdade, e isso está me reprimindo. O que estou pensando em fazer agora é ver se seria possível me "dar" disfunção erétil de propósito cirurgicamente; tipo alguma cirurgia vascular, como de varizes, pra reduzir o fluxo sanguíneo no local. Loucura pensar isso? Alguém sabe se isso é sequer possível? Estou achando que seria uma luta convencer um médico a fazer isso.

ATENÇÃO AQUI: Você não precisa modificar o seu corpo para exprimir sua sexualidade! Pelo que percebi, o que te incomoda de fato não é a ereção em si, mas como ela pode afetar os outros, e isso é algo que, novamente, deve ser conversado, não há necessidade de fazer uma intervenção médica no funcionamento do seu corpo apenas pelo medo de magoar os outros. Comunicação é a melhor saída, sempre!

Matty escreveu:

Eu sinceramente estou considerando falar pra ela que, se ela sentir necessidade, eu não veria problema em ela buscar uma parceira, porque eu sei que ela é bissexual. Estou aberto até à ideia de um relacionamento polígamo, mas eu tenho medo disso, porque eu poderia virar a terceira roda rapidinho e acabar ficando de lado, de lado até ser rejeitado de vez, mas talvez seja egoísmo meu pensar assim. Tenho medo de "mexer" nisso e provocar um resultado pior, talvez para mim mesmo, talvez para o relacionamento em si. Ao mesmo tempo, se eu não tentar mexer, deixo de dar à minha namorada parte importante de um relacionamento, uma parte da qual ela sente falta.

Bom, evidentemente o relacionamento já não está tão bom se você está tendo todas essas dúvidas e conflitos, e a melhor alternativa é sempre abrir o jogo e expor o que está pensando e sentindo (pra mim, isso sim é intimidade) para sua parceira e assim os dois podem encontrar a melhor alternativa juntos. Não é justo você querer se responsabilizar por toda a relação, pensando até em modificar o próprio corpo, sem saber a opinião da sua parceira a respeito de tudo isso, porque a relação existe entre vocês dois, então os dois precisam tomar as decisões no que diz respeito à relação. E olha, medo faz parte, ela pode não receber muito bem todas essas informações ou então você pode se surpreender positivamente e tudo se resolver de forma muito mais tranquila do que você imagina... Mas a única maneira de saber é conversando com ela.

Espero ter ajudado

Citação :

Faz sentido sim e está tudo bem, não há nada errado com você e acredito que o termo para defini-lo, se você quiser um, seria "assexual heterorromântico". Você também pode estar na área cinzenta, e poderia se definir como gray-a, ao invés de assexual, mas aí quem tem que dizer é você.

Eu não me importo muito com os termos "para usar". Para mim, a importância deles é que eles mostram que o que eu sinto existe.

Citação :

ATENÇÃO AQUI: Você não precisa modificar o seu corpo para exprimir sua sexualidade! Pelo que percebi, o que te incomoda de fato não é a ereção em si, mas como ela pode afetar os outros, e isso é algo que, novamente, deve ser conversado, não há necessidade de fazer uma intervenção médica no funcionamento do seu corpo apenas pelo medo de magoar os outros. Comunicação é a melhor saída, sempre!

Rapaz, acontece que, depois de ter pensado bastante, o que me incomoda é sim a ereção em si. Não é minha libido, é só a ereção, porque, para mim, ela expressa vontade de fazer sexo, e eu sou o exatoooo oposto disso. É um corpo estranho que não posso controlar e que expressa o exato contrário de o que eu sinto. Não é para os outros, é para mim. Mesmo se eu fosse sozinho, eu iria querer a mesma coisa. Já pensei bastante e tenho certeza. É que, com a minha namorada, também tem o fato de ela poder interpretar errado, e ser um pouco embaraçoso, mas com certeza não é só por causa dela que eu quero isso fora da minha vida.

Citação :

Bom, evidentemente o relacionamento já não está tão bom se você está tendo todas essas dúvidas e conflitos, e a melhor alternativa é sempre abrir o jogo e expor o que está pensando e sentindo (pra mim, isso sim é intimidade) para sua parceira e assim os dois podem encontrar a melhor alternativa juntos. Não é justo você querer se responsabilizar por toda a relação, pensando até em modificar o próprio corpo, sem saber a opinião da sua parceira a respeito de tudo isso, porque a relação existe entre vocês dois, então os dois precisam tomar as decisões no que diz respeito à relação. E olha, medo faz parte, ela pode não receber muito bem todas essas informações ou então você pode se surpreender positivamente e tudo se resolver de forma muito mais tranquila do que você imagina... Mas a única maneira de saber é conversando com ela.

Eu não diria que não está bom. Só não está completo. Mas você tem razão. Eu me pego pensando que essa parte da ereção é meio que assunto meu, que não preciso falar pra ela, mas isso deve ser o medo. Vamos precisar conversar e tenho que incluir isso e a assexualidade na conversa.

Citação :

Espero ter ajudado

É claro que ajudou. Muito obrigado!

Gente, eu sou um sujeito bem peculiar. Nem fui atrás de me diagnosticar, porque não tem tratamento, mas eu me identifico muito com um quadro bastante leve de síndrome de Asperger. Tenho minhas manias, meu raciocínio não é nada parecido com o da maioria das pessoas, não me adapto de jeito nenhuma a certas situações que são banais pra maioria das pessoas, etc., e talvez por isso eu tenha criado uma certa aversão ao tema de sexualidade. Só queria explicar que isso existe, porque parece que, até para assexuais, isso pode ser raro e estranho. Eu não gosto de falar do assunto, muito menos fazer. Até cena de sexo em filme me dá uma rejeição. Também não gosto de ser objeto de desejo sexual. Apesar de tudo, eu tenho uma apreciação estética por mulheres e também em reciprocidade. Ao mesmo tempo, eu tenho libido e quero manter.

Parece que essa combinação praticamente impossível de circunstâncias provocou uma separação total entre atrações sexual, sensual/estética e romântica. No caso eu sou assexual, heterossensual/estético e heterorromântico (ou talvez até demirromântico). Eu não me identifico com o pessoal da área cinzenta, porque a minha libido não é baixa, nem com os demi, porque não tenho interesse em sexo nem com minha parceira.

Juntando tudo isso, eu entendi que preciso ser "impotente" (mas não castrado) pra me sentir realmente livre no meu corpo pra ter o tipo de relacionamento que quero sem me sentir estranho, ou mesmo pra ficar sozinho.

Espero que essas informações ajudem alguém que se identifique com isso um dia.

Obrigado por ler até aqui!

Olha, além da atração sexual, existe a atração física, romântica, sensual...

Você parece ser ace mas sentindo as outras, certo?

Sobre ereções, é completamente normal. Até dormindo acontece, não quer dizer que ela significa vontade de fazer sexo. Não dá pra controlar, como você falou, porque é um mecanismo biológico, é tipo tentar parar de tremer quando se está passando frio. Até allos tem problemas com ereções indesejadas, tipo ao estar num lugar apertado como um ônibus ou elevador, ou usando bermudas leves, que não ajudam em nada a disfarçar.
Pra você ter noção, até cagar pode causar uma ereção, pois o volume ali no intestino pode estimular a próstata.

Sobre cirurgia, médico nenhum é obrigado a fazer procedimentos que vão contra suas próprias crenças (objeção de consciência).

Código de Ética Médico:

Vasectomia sem filhos já tem muitos que recusam, *causar* um problema acho que não vai ter nenhum disposto.
Existe outra possibilidade, mas é capaz que você acorde numa banheira de gelo com um rim a menos haha

E também acho que você deve contar pra sua parceira sobre sua assexualidade, se ainda não contou.