Pessoal, vi que muitos de nós aqui tem discutido sobre essa sensação de se sentir deslocado numa sociedade sexual e como isso nos afeta. Talvez essa seja uma das nossas principais "dores de cabeça" de certa forma, uma das questões mais permanentes e internas com as quais temos que lidar. Mas ao mesmo tempo, existem aqueles momentos, no qual particularmente vejo sim muito mais positividade em ser quem eu sou. Acho que pelo fato da assexualidade, de certa forma ainda estar em um campo de estudos, e por nossa pouca visibilidade, tendemos muitas vezes a acharmos que não temos vantagem em sermos assexuais.

Bom, o que isso tem a ver com o título do tópico?

Não se trata de uma questão de moralismo (até mesmo porque hoje em dia, qualquer coisa que não concorde com a  hiper-sexualização da sociedade é motivo pra ser taxado de moralismo) , mas acho que podemos nos questionar se é realmente razoável o rumo que as coisas estão tomando.  E se não for, sinceramente eu me sinto mais grata ao universo e orgulhosa de não fazer parte disso, de ter tido a sorte de estar imersa em sensatez.

É claro que sempre há exemplo disso todos os dias praticamente, mas tomem como exemplo uma notícia que apareceu hoje como a mais lida no site da UOL cujo título era: "Sexo anal deve ser feito com camisinha mesmo em relações estáveis". Até aí, tudo bem, nada contra a notícia. Mas nos comentários (muitas vezes eu não estou interessada em determinadas matéria, mas mais no que as pessoas pensam sobre aquilo)  um cidadão postou o seguinte:

- "Caspita, vcs da UOL, conseguiram me deixar constrangido como minha filha pequena que abri o site da UOL como tela inicial e viu a reportagem dizendo que Sexo Anal tem que ser com Camisinha. o que devo responder a ela? Lamentavel."

Eu não sei se havia ou não ponta de sarcasmo ou provocação na afirmação do usuário do site, mas de qualquer forma ele recebeu negativação e as respostas vieram prontamente. Alegavam que a culpa era do usuário, por ter deixado a filha ficar acordada até meia noite e acessado conteúdo que só é publicado nesse horário (uma inverdade pois a notícia está na primeira página de hoje ao meio-dia). Logo veio outra resposta:

- "Vc deveria ficar feliz por sua filha ter a orientação correta logo cedo e não ficar constrangido."

A resposta acima recebeu positivações.

Antigamente eu costumava participar desses comentários sobre notícias do Uol, da Folha de São Paulo, etc. Mas o nível de ignorância e de "trolls" era elevado e por isso parei.  Por isso não respondi nada nesse site, até mesmo pra evitar qualquer tipo de stress.

Mas a resposta desse cidadão me fez pensar em qual posição a sociedade se encontra, ou seja de um liberalismo que eu não sei o que pensar. E onde ele irá nos levar, já que de certa forma atinge a tudo e a todos, inclusive a nós assexuais ( e me pergunto como seria uma recepção a um "movimento assexual" caso ele venha a se concretizar) ao mesmo tempo em que paradoxalmente convive com falsos moralismos.  Não é a primeira vez que vejo alguém achar positivo, razoável, tranquilo, e aceitável que uma criança esteja a par de coisas como "orientação correta" sobre uso da camisinha no sexo anal.  Claro que acho que os pais devam conversar com ela sobre sexo, porém na linguagem adequada, com tom adequado, de acordo com a capacidade de compreensão que ela tem e com os devidos cuidados que o assunto envolve. Ao invés disso me deparo cada vez mais com abordagens como a do cidadão que respondeu a esse pai preocupado.

Outro exemplo que tive com meu amigo e vizinho do andar de cima: Há alguns meses a sobrinha dele de 9 anos veio passar alguns dias com ele que mora sozinho. Ele me convidou pra ir jantar no ap dele, e imaginei que ele estivesse dando atenção à menina. Mas qual não foi minha surpresa ao encontrá-lo deitado no sofá assistindo todo aquele conteúdo "leve"que tem a novela das 8, e falando despreocupadamente a respeito da personagem gordinha que queria perder a virgindade, e outras coisinhas a mais. Imediatamente tomei a liberdade de propôr à menina que fôssemos jogar algum jogo, fazer alguma brincadeira, colorir um livro de figuras e me prontifiquei a pegar o DVD do E.T. extraterrestre, pra que assistíssemos (embora meu vizinho não estivesse nem um pouco a fim de tirar da novela). Foi o que pude fazer pra salvar a noite.

Quando eu estava trabalhando em um colégio na Zona Leste de São Paulo, lembro que no horário de almoço uma das funcionárias estava discutindo sobre educação dos filhos, etc, e contou que a filha dela de 8 anos estava obcecada pelo assunto da sexualidade, e por conta das primas mais velhas, acabava escutando histórias que certamente não eram adequadas para a idade dela, e passava a querer ter experiências sexuais que essas primas tinham. O caso chegou a um extremo tão forte, que essa mãe considerou, ainda que em tom de brincadeira, mas com uma pitada de verdade, colocar a filha num convento.  

Nesse mesmo colégio eu era bibliotecária, e me lembro quando algumas meninas que não deviam ter mais do que 7/8 anos insistiam em perguntar se já havia chegado o livro do "50 tons" ou o "Crepúsculo" , outro garoto de 7 me perguntou sobre a revista Playboy.

Eu sei que basta abrir minha boca pra ser chamada de moralista, retrógrada ou qualquer coisa do tipo. Mas isso é um sinal de que a linha vermelha foi ultrapassada e não consigo mais deixar de pensar assim, vendo crianças inseridas nesse atual panorama. Não dá. Não é justo com esses pequenos.    

se vc é moralista e retrograda eu também sou rsrsrs
acho essa exposição super inapropriada.por que nessa fase a criança realmente ainda não está preparada para receber esse tipo de informação.A descoberta da sexualidade,que devia ser natural e espontânea se transforma em algo banal e obrigatório.
As crianças dessa idade ainda estão no período de latência da sexualidade,então não há necessidade nenhuma de elas saberem dessas coisas tão cedo.
eu morro de vergonha alheia quando vejo crianças com uma sexualidade demasiadamente exagerada e nada saudável.

Penso que a mídia e toda companhia quer atingir tão bem o seu público-alvo que nem se importa se atingir aqueles que nem tem nada a ver com esse tipo de vida que as pessoas estão levando valorizando excessivamente o sexo. A preço de tudo colocam uma notícia dessas na home de um site(eu tinha visto e pensei "nuss, imagine se eu tivesse 7 anos...que triste")

A introdução tão cedo dessas crianças à sexualidade só pode favorecer mais distúrbios na sociedade mais tarde... Claro que depende da criança, mas dessa forma e sem distinguir cada uma fica uma coisa traumatizante.

Anteontem, pra sair do meu condomínio atravesso ele todo, passando por uns quiosques ouvi crianças numa rodinha dizendo cada idiotice, creio que elas deviam ter 7/8/9 anos... (Dizinham: vc tem coragem de dizer isso, aquilo. Eram palavrões fortes! Fiquei sem reação, e eram coisas de sexualidade)

É um assunto delicado, ao menos se eu tivesse filho, acho que eu os deixaria exposto a esse tipo de coisa, mas com outro contexto. Algo realmente didatico.

Coincidência eu achar esse assunto após ter topado com isso:



Pois é   

Acho que o problema é a forma de como ela é exposta, não se trata de não falar talvez. E conforme aí no vídeo, elas quiseram e isso é por motivos sociais.

É de se ficar chocada.

tb acho q sou meio moralista então :/ gostei do que o lipe falou, o problema em si é o jeito que a coisa é falada :/ na verdade eu chego a desaprovar até mesmo  o "empurrão" que a mídia e a sociedade dão para as crianças começarem algum relacionamento..... esses dias mesmo eu tava vendo turma da monica no sabado com meu irmão e notei que do nada começaram a empurrar lances tipo "a vc é meu namorado, a ela é minha namorada " tipo.... quando começaram com isso? não havia nem menção a esses lances na turma da monica quando eu era pequeno, e são crianças, por mais q as vezes aconteça de algumas sentir afeição por outra nesse sentido elas deveriam estar brincando e nao arrumando namorados @_@ vejo q tristemente meu irmão é influenciado por essas coisas.... as vezes dizendo que gosta de alguma menina e que queria namorar tal garota apenas pq ve q meus pais se agradam quando ele faz isso ;-; isso é muito triste

A exposicao é grande. Muito mesmo. E essa de que "os pais precisam controlar o que os filhos veem" a cada dia fica mais ridicula. Hoje TV's sao computadores, celulares, tablets, relogios, oculos... E quando mais coisas viram computadores mais fica dificil por um limite no que as criancas podem ou nao ver.
O que acontece é que a midia joga o abacaxi pros pais e os pais jogam o abacaxi pra midia, aí ninguem sabe de quem é o erro.Só quero ver que tipo de adultos vamos ter nos proximos anos...
Ja vou comprando minha pipoca.
"Ah Wyll, cuidado com o elitismo. Sexo nao faz ninguem mais burro."
Mas quando toda essa complexidade da sexualidade vem à tona numa idade tao pequena, como voce acha que uma crianca vai conseguir processar isso junto com os estudos e suas pequenas responsabilidades?

Pois é gente. Essa é a nossa sociedade e o ponto onde ela conseguiu chegar . :evil:   É triste, revoltante, grotesco  e profundamente doentio... Depois vêm sociólogos, antropólogos e tudo o mais para justificar sobre tudo isso dizendo que a infância é uma construção social e que tende naturalmente a desaparecer, como se isso fosse lindo. Tenho vontade de mandá-los pros quintos dos infernos. O que se passa é notavelmente anormal e depois que não venha choradeira quando meninas de 10 anos começarem a engravidar e virar moda (Isso mesmo, 10 anos. Já teve casos relatados nas periferias...)

Eu tenho receio em se chegar nessa conclusão, como tem ali no vídeo é muito mais por não ter perspectivas de vida do que qualquer outra coisa. Claro, há toda uma cultura hipersexualizada dominante, mas não é só esse o fator principal que devemos ficar ponderando e refletindo também, né??

Certo que não Lipe. Há outros fatores importantes também envolvidos. Mas nesse caso abordei abordei a questão numa escala macro, num panorama geral.  

me desculpe a sinceridade mas isso é conversa pra boi dormir é impossivel fazer um controle desse tipo. não conseguem nem cuidar de crianças aos montes sendo estupradas tampouco mudarão isso.

Vendo pelo senso crítico, acho que não só a valorização sexual desde a infância é explorada atualmente, mas também o acúmulo de cultura inútil. Através de trocas de informações em diversos sentidos, somos estimulados a absorvermos muita coisa sem o menor propósito e muitos acabam nem refletindo sobre esse punhado de bobagem.

Aliás, penso ainda que alguns valores tem sido deixados de lado. Muita gente pensa que só porque temos algo absurdarmente anormal e difícil de ser resolvido, como esse fato social citado, isso nunca poderá mudar. Vejo por outro lado. Acredito que poderemos progredir, mudar nossos conceitos, e ainda influenciar crianças e adolescentes a pensarem de outra forma. Não tão crua e boba. Algo como conhecer novos horizontes, novas perspectivas sobre as coisas. A questão é que a massa tem idealizado coisas muito superficiais. ~acho

*Lyja, coitado dos sociólogos rsrs  

Concordo contigo, Ruth.

Isso lembra todo aquele lance dos "rolezinho", eles apenas mostram o quanto o grande povo, a massa, os pobres são negligenciados e colocados a margem da sociedade. Essa questão das meninas grávidas não é diferente, é engraçado ver muita gente (geralmente classe média, rs) culpando a menina por estar grávida ao invés de dar suporte e apoio (que seria o correto a se fazer).

Vou ver se consigo dar um upload em um pdf. muito bom sobre a cultura do funk, da periferia, acho que tem muito a ver com essa assunto já que esse tipo de coisa é recorrente muito mais lá do que em qualquer outro lugar, infelizmente.


*Lyja, coitado dos sociólogos rsrs    +1

PS: Aliás, algo interessante a se colocar: infância é sim uma construção social, me recordo que no período da primeira revolução industrial e antes dela não havia o conceito de "infancia", então o que tinhamos era "adultos em corpos pequenos", aliás, não é incomum encontrar registros de meninas de 14 anos ou até menos já se casando. Óbvio que houve e está havendo ainda muitas mudanças a cerca desses aspectos ainda.

ruthjamison escreveu:

Aliás, penso ainda que alguns valores tem sido deixados de lado. Muita gente pensa que só porque temos algo absurdarmente anormal e difícil de ser resolvido, como esse fato social citado, isso nunca poderá mudar. Vejo por outro lado. Acredito que poderemos progredir, mudar nossos conceitos, e ainda influenciar crianças e adolescentes a pensarem de outra forma. Não tão crua e boba. Algo como conhecer novos horizontes, novas perspectivas sobre as coisas. A questão é que a massa tem idealizado coisas muito superficiais.

Oi Ruth, também concordo plenamente com você.

E ao contrário do post anterior ao seu, não se trata de "conversa pra boi dormir" como disseram , muito pelo contrário, afinal se deixamos de discutir algo, só porque o tema é complexo e tem outras vertentes, aí sim enterramos ainda mais a possibilidade de mudanças.

E  gente, desculpem pela má expressão sobre os sociólogos, rs.    (até achei que tinha sido banida do fórum, pois não consegui entrar após esse comentário,rs) Na verdade sim,sempre concordei que o conceito de infância foi uma construção social, mas isso também porque houve a descoberta da psique infantil e suas particularidades e a necessidade dessa construção mediante esse fato. Minha crítica na verdade foi para o fato de talvez alguns estudiosos acharem que a infância é uma MERA (faltou essa palavra)  construção social e por isso não há problemas que ela desapareça...

 

Não vou contar que a ruti gosta de sociologia kkkkk Entendemos o que quis dizer, Lyja, nem esquenta hue

Mas disso vem uma outra questão, se a infância for substituída por assuntos adultos, começando pelo sexo, como serão essas crianças quando adultas diante da vida? Sugiro que pode ocorrer dois extremos, ou a valorização baixíssima do sexo ou a super valorização. Prefiro acreditar na primeira pois parece mais provável se seguirmos a lógica do esticamento de um elástico, por exemplo, onde, depois de esticado ao máximo(se estiver ao máximo, claro), ele tende a voltar com uma força considerável e radical.

Exatamente Léo!   

Sim, eu te entendo, Lyja, e sem stress, teu comentário não foi nada que viole regras e outras normas de comportamento do fórum, tá de boas. Pode ter rolado algum problema tecnico, vou dar uma olhada.

E também a isso aqui que você disse "E ao contrário do post anterior ao seu, não se trata de "conversa pra boi dormir" como disseram , muito pelo contrário, afinal se deixamos de discutir algo, só porque o tema é complexo e tem outras vertentes, aí sim enterramos ainda mais a possibilidade de mudanças."

Quer dizer, exatamente isso! a sociedade brasileira ainda tem muita feridas para tocarmos e debatermos. A única forma de irmos para frente é falar sobre esses assunto que ainda são tabus da sociedade, dá desanimo pensar que termos muita coisa que fazer ainda.

  

E mais uma vez o Léo falou algo que também concordo. Acho que é por aí, tivemos uma sociedade tão conservadora, tão apertada que agora ela tá se soltando e vai se soltar ainda mais, estamos bem no meio disso. Diria que passando pela parte mais delicada de todo o processo.

Mas acho que ainda o sexo será valorizado muito, e mais crianças nascerão e viverão nessa sociedade, depois que surgirá uma moda de desvalorização do sexo. Quando o "elástico" se esticar ao máximo(valorização do sexo) e retrair por completo(desvalorização do sexo) e fazer esses movimentos novamente de forma menos intensas é que haverá o equilíbrio, quando ele n está retraído nem esticado. Essa do elástico é usada em vários assuntos, clima global é um deles.