a internet lenta está me atrapalhando,mas vou resumir oq quero falar.

Em diversas culturas (bastante na cristã) a virgindade é vista como sinônimo de pureza,principalmente a virgindade feminina.Isso pode ser visto em vários contos e mitos,como alguns vampiros que só se alimentam de virgens,unicórnios só podem ser domados por mulheres virgens e em todos os contos de fadas as personagens são donzelas.Quis citar esses exemplos apenas para dar uma dimensão cultural

o que quero questionar é : se a virgindade e falta de desejo é vista como sinônimo de pureza,isso reforça um estereótipo para os assexuais?por que a virgindade feminina é mais valorizada na cultura que a masculina?a sexualidade de uma pessoa define seu grau de caráter e pureza?Por que a sexualidade,já que é normal e comum,e vista como impura e imoral?

algumas perguntas são retóricas,mas creio que abrem espaço para a discussão.

nota de rodapé: em alguns dicionários a palavra inocente é sinônimo de virgem.

por que a virgindade feminina é mais valorizada na cultura que a masculina ?

A virgindade de alguns homens ainda é valorizada no Catolicismo. Claro que isso foi uma construção do período que estou com preguiça de relembrar com exatidão, mas foi logo após a queda do Império Romano e ainda quando a Igreja era "laica", ou seja, quando ela nem sequer tinha um código de vestimentas próprias e haviam padres casados aos montes, inclusive com filhos que participavam na vida eclesiástica.

Se não me engano, nesse tempo, em alguns mosteiros em territórios germânicos inspirados pelas histórias de peregrinos de deserto começa-se a dar valor ao sujeito que "desiste todos os desejos da carne". Vale lembrar que "desejos da carne" seria quase que o equivalente de "sexualidade" de hoje. Para a época me parecia haver pouca distinção entre desejo sexual, violência, sobrevivência, etc. Eles não separavam sexo de selvageria. E esse é o problema.

Séculos mais tarde os fiéis comuns eram encorajados de ao menos em poucos dias da sua vida serem iguais a esses sujeitos de mosteiros. Daí vem os feriados de "renuncia" aos "prazeres". Então você consegue ter uma base do porque a virgindade seria pureza no olho dos mais conservadores. Se o sexo na visão deles, faz parte do sujeito não civilizado ou da alma colérica, o virgem então seria alguém totalmente desprovido de selvageria.

Me parece a melhor resposta do porque temos esse estigma social da "valorização" da virgindade. Entre aspas porque the times they are a-changin' e hoje em boa parte dos casos, por culpa do patriarcado, a bomba estoura na mão da mulher e ela que é obrigada se "valorizar" através da tal da virgindade. E agora coloquei em aspas porque esse negócio de se valorizar é uma grande besteira, valor é uma construção social de um determinado grupo e não pode ser considerado algo universal.

Quanto a visão Oriental da virgindade, posso estar falando besteira e provavelmente estou porque ando estudando de forma eurocêntrica *sigh*,  mas
deve ser muuito similar a Ocidental...   Eu quero dizer, pra mim me parece que eles associam ou associavam fortemente o sexo com selvageria também. Tanto que existem os que "renunciam" a tudo isso e são vistos como heróis também.

rsrs notei que a virgindade em geral é valorizada no catolicismo e religiões cristãs ( não conheço as outras muito bem).
Mas pode se notar que na cultura popular existe sim essa ideia de que a mulher tem que se guardar e tals.Mas quanto ao homens,os pais os soltam aos quatro ventos para exercerem sua masculinidade.Mas é obvio que existem muitas exceções
Lembro de um relato de uma escritora indiana que li no qual ela dizia que apenas a mulher era capaz de desonrar a família,perdendo a virgindade,mas pros meninos esse fardo não existia,pois eles não podiam de maneira nenhuma desonrar suas famílias com atvidades (hetero)sexuais

kavernista escreveu:

Quanto a visão Oriental da virgindade, posso estar falando besteira e provavelmente estou porque ando estudando de forma eurocêntrica *sigh*, mas
deve ser muuito similar a Ocidental...

Disso eu posso falar, pois tenho alguns amigos que são devotos Hare Krishna e eles me explicaram o seguinte: para purificar a alma e prepará-la para o reino de deus, é necessário renunciar a todos os prazeres terrenos, ou seja, tudo o que deriva do mundo material (em oposição ao espiritual) e focalizar sua vida no serviço devocional ao Senhor Krishna. Agora, como o ato sexual é o maior prazer material - aparentemente -, eles renunciam a isso também, ou seja, são celibatários. A única situação aceitável para sua realização é na geração de uma criança, o que significa que a visão deles com relação ao sexo é igual à que os católicos seguiam originalmente: não pode por prazer, pode só para conceber. Esse é o ponto de vista de uma das principais religiões orientais. Existem outras mais flexíveis, que permitem e até encorajam o "prazer", mas não sei dizer nada específico dessas.

Agora, a visão não-religiosa da virgindade no Oriente só me aparece clara no Kama Sutra (sim, eu li essa aberração), mas se as visões lá expostas prevalecem até hoje já não sei dizer. Existe um trecho num dos primeiros capítulos que diz que "o cidadão, ou homem rico, que viver sua vida voltado inteiramente para o prazer (sexo drogas rock'n'roll, adaptado à época, é claro) será admirado socialmente e nunca falhará." Véi, o livro ensina até o jeito certo de uma mulher trair o marido, um homem roubar a esposa de outro, como as mulheres de um harém deveriam transar entre si, como um cidadão deve exigir que um eunuco contratado faça o oral e como uma cortesã deve se portar para seduzir o homem que lhe agrada. É bizarro demais e dá uma boa visão de como os membros de castas inferiores à dos monges e intelectuais se portavam diante dos tais prazeres carnais. O peso da virgindade, porém, caia um pouco sobre as mulheres, pois daria má sorte a um homem casar-se com uma mulher que já pertenceu a outro. Mas olha, na prática eles não davam muito valor a isso não, já que rolava mulher de harém para harém e até mesmo as cortesãs, quando consideradas boas em seu trabalho, eram bem vistas e recebiam lugar de honra entre reis e ricaços. Para ser sincera, a cultura retratada nesse livro me lembrou muito a deste nosso Brasil que vemos hoje.

Bem, é isso aí o que eu sei sobre a sexualidade na cultura indiana. Espero que tenha sido esclarecedor.

Walter bishop escreveu:

rsrs notei que a virgindade em geral é valorizada no catolicismo e religiões cristãs ( não conheço as outras muito bem).
Mas pode se notar que na cultura popular existe sim essa ideia de que a mulher tem que se guardar e tals.Mas quanto ao homens,os pais os soltam aos quatro ventos para exercerem sua masculinidade.Mas é obvio que existem muitas exceções
Lembro de um relato de uma escritora indiana que li no qual ela dizia que apenas a mulher era capaz de desonrar a família,perdendo a virgindade,mas pros meninos esse fardo não existia,pois eles não podiam de maneira nenhuma desonrar suas famílias com atvidades (hetero)sexuais

É parte de um fenômeno atual estranho no Ocidente, eu penso... Eu sempre vi mais mulheres sendo cobradas de frequentarem templos religiosos. Parece que a mudança cultural de desapego a estigmas religiosos só é válido para homens. Ele pode deixar de ir na Igreja, pode ser agnóstico/ateu com mais facilidade, pode aceitar o relaxamento de dogmas religiosos... A mulher não é permitida! Sempre vi mais pais horrorizados com filhas céticas do que outra coisa...

O porquê ? Talvez porque Culturalmente ainda há resistência em relação a igualdade de gêneros... Então qualquer outra mudança cultural a mulher nunca é permitida no começo a participar. Laicização, Videogames, etc. Se você pegar muitas tendências do final do Século 20 pro começo do Século 21 vai notar que elas primeiro são massivamente populares entre os homens para depois as mulheres aparecerem... Putz, se você for analisar, até em política e incluindo até as tendências mais amantes da liberdade você vai ver que a inclusão da mulher é algo recente.

Vai entender! =S

Val_de_espadas escreveu:

kavernista escreveu:

Quanto a visão Oriental da virgindade, posso estar falando besteira e provavelmente estou porque ando estudando de forma eurocêntrica *sigh*, mas
deve ser muuito similar a Ocidental...

Disso eu posso falar, pois tenho alguns amigos que são devotos Hare Krishna e eles me explicaram o seguinte: para purificar a alma e prepará-la para o reino de deus, é necessário renunciar a todos os prazeres terrenos, ou seja, tudo o que deriva do mundo material (em oposição ao espiritual) e focalizar sua vida no serviço devocional ao Senhor Krishna. Agora, como o ato sexual é o maior prazer material - aparentemente -, eles renunciam a isso também, ou seja, são celibatários. A única situação aceitável para sua realização é na geração de uma criança, o que significa que a visão deles com relação ao sexo é igual à que os católicos seguiam originalmente: não pode por prazer, pode só para conceber. Esse é o ponto de vista de uma das principais religiões orientais. Existem outras mais flexíveis, que permitem e até encorajam o "prazer", mas não sei dizer nada específico dessas.

Agora, a visão não-religiosa da virgindade no Oriente só me aparece clara no Kama Sutra (sim, eu li essa aberração), mas se as visões lá expostas prevalecem até hoje já não sei dizer. Existe um trecho num dos primeiros capítulos que diz que "o cidadão, ou homem rico, que viver sua vida voltado inteiramente para o prazer (sexo drogas rock'n'roll, adaptado à época, é claro) será admirado socialmente e nunca falhará." Véi, o livro ensina até o jeito certo de uma mulher trair o marido, um homem roubar a esposa de outro, como as mulheres de um harém deveriam transar entre si, como um cidadão deve exigir que um eunuco contratado faça o oral e como uma cortesã deve se portar para seduzir o homem que lhe agrada. É bizarro demais e dá uma boa visão de como os membros de castas inferiores à dos monges e intelectuais se portavam diante dos tais prazeres carnais. O peso da virgindade, porém, caia um pouco sobre as mulheres, pois daria má sorte a um homem casar-se com uma mulher que já pertenceu a outro. Mas olha, na prática eles não davam muito valor a isso não, já que rolava mulher de harém para harém e até mesmo as cortesãs, quando consideradas boas em seu trabalho, eram bem vistas e recebiam lugar de honra entre reis e ricaços. Para ser sincera, a cultura retratada nesse livro me lembrou muito a deste nosso Brasil que vemos hoje.

Bem, é isso aí o que eu sei sobre a sexualidade na cultura indiana. Espero que tenha sido esclarecedor.

Muito legal o input em relação a culturas orientais na visão desse assunto... É algo essencial, colocar as coisas em perspectiva!

Até onde há relação entre as duas visões eu não sei, partes da Índia estavam a comando de Alexandre, por um tempo, não ?

Se eu tivesse algo do tipo Japão feudal talvez pudesse contribuir mais ainda pro tópico, mas o Eurocentrismo é um bicho retado. ~le sigh~

kavernista escreveu:

Muito legal o input em relação a culturas orientais na visão desse assunto... É algo essencial, colocar as coisas em perspectiva!

Até onde há relação entre as duas visões eu não sei, partes da Índia estavam a comando de Alexandre, por um tempo, não ?

Se eu tivesse algo do tipo Japão feudal talvez pudesse contribuir mais ainda pro tópico, mas o Eurocentrismo é um bicho retado. ~le sigh~

Parte da Índia ficou sob o comando de Alexandre pero no mucho (ele perdeu a guerra depois de um tempo), mas essas informações que eu contei foram tiradas de livros tradicionalíssimos e reverenciados como bons retratos da cultura indiana, e não acho que uns anos de conflito com os macedônios possam ter influenciado significativamente. A relação entre as duas visões foi só algo que me veio à cabeça, reconheço que é necessário considerar as épocas para não cometer anacronismo. E sobre Japão feudal eu mesma não sei nada, como você disse, eurocentrismo é fogo. Mesmo o que descobri da Índia foi por conta própria. Vamos ver se surge alguém que saiba algo da história do resto da Ásia ou até de outros lugares.  :farao:

Val_de_espadas escreveu:

Parte da Índia ficou sob o comando de Alexandre pero no mucho (ele perdeu a guerra depois de um tempo), mas essas informações que eu contei foram tiradas de livros tradicionalíssimos e reverenciados como bons retratos da cultura indiana, e não acho que uns anos de conflito com os macedônios possam ter influenciado significativamente. A relação entre as duas visões foi só algo que me veio à cabeça, reconheço que é necessário considerar as épocas para não cometer anacronismo. E sobre Japão feudal eu mesma não sei nada, como você disse, eurocentrismo é fogo. Mesmo o que descobri da Índia foi por conta própria. Vamos ver se surge alguém que saiba algo da história do resto da Ásia ou até de outros lugares.  :farao:

Se não me engano aquele livro que vc citou era da época do Império Gupta e até onde entendi, pegava tanto a porção Noroeste e Nordeste do subcontinente Indiano... O Noroeste é onde Alexandre 600 anos antes da formação desse Império chegou ter um domínio breve, acho... E bem, foram 600 anos, aquela região teve mudanças socio-culturais e políticas enormes nesse período. Dinastias atrás de dinastias diferentes. Realmente é muito vago o que poderia ter sido passado dos macedônicos pros indianos...

E sim, meu sonho na verdade alguém assim aparecer HAHAHAH Conheci só uma pessoa ou outra (você incluída) que conhecesse algo de História Indiana/Asiática/Povos polinésios... Eu sou clueless nesses assuntos mas tenho um interesse enorme de aprender. Inclusive o próprio livro que você citou deve ser terrivelmente e erroneamente interpretado, tanto que devem ter trocentas segundas, terceiras versões dos últimos anos...