Júlio escreveu:

Paulo, seu texto me fez pensar: por que não explorar esses sentimentos e vivências das pessoas arromânticas? Eu já havia criado um espaço no fórum (esse que você postou, inclusive). Acho que em qualquer caso as pessoas precisam de algum tipo de espelho para se identificar... e alguns tópicos serviriam bem, eu acho.

Depois da resposta de Júlio neste tópico, resolvi criar um outro para falar sobre o que ele propôs. Quais seriam os sentimentos e vivências que fazem de mim um assexual arromântico? É muito difícil responder a esta pergunta, mas tentarei neste tópico.

Antes de descobrir a minha assexualidade, eu acreditava, na maior parte do tempo, que era heterossexual, por isso achava que eu poderia e deveria me apaixonar em algum momento da minha vida.

Algumas vezes eu acreditei ter me apaixonado por outras pessoas, mas em todos os casos, o que aconteceu de verdade foi uma super valorização da amizade que eu sentia por estas pessoas. Na tentativa de me convencer que eu era um heterossexual normal, eu queria me apaixonar, e, por isso, eu acabava idealizando, em uma grande amizade, um sentimento amoroso, sendo que até mesmo na época eu conseguia perceber que eu amava mais o amor que eu sentia pela pessoa do que a própria pessoa.

As pessoas costumam diferenciar os “tipos de amor” que sentem. Há aquele amor de amigo, o amor de filho, o “amor de verdade”, dentre outros. Mas eu não consigo conceber o amor que sinto pelas pessoas desta forma, pois não amo as pessoas de formas tão diferentes. É difícil explicar, por isso não posso entrar em detalhes neste quesito, mas eu percebo uma homogeneidade em relação aos “tipos de amor” que sinto, variando apenas na intensidade.

Mas como eu posso me classificar como um arromântico simplesmente pelo fato de eu ter passado 19 anos sem nunca ter me apaixonado? O que torna tão difícil responder esta questão é explicar o porquê de eu sentir que não possuo a capacidade de me apaixonar. Sim, a explicação sobre os “tipos de amor” que sinto explicam parcialmente a questão, mas não é suficiente.

O que posso dizer é que eu não consigo projetar virtualmente na minha vida um sentimento que seja diferente da amizade ou do que sinto pelos meus pais e familiares, que não é tão diferente da amizade, exceto pela intensidade do sentimento. Eu também não estou insatisfeito com os modelos de relacionamentos românticos da atualidade, só não quero fazer parte de nenhum deles porque não sinto a mínima necessidade.

E isso não quer dizer que eu tenha certeza de que eu serei arromântico pelo restante da minha vida, até porque a sexualidade humana é fluida, mas não acredito muito na possibilidade de ocorrer uma grande mudança da minha sexualidade.

Bem, por enquanto é mais ou menos isso que posso dizer. Sei que é muito confuso entender, mas o que acontece é que é difícil descrever o que sinto neste sentido, apesar de ser algo tão simples. Por isso eu posso trazer novas perspectivas sobre o tema depois, neste mesmo tópico.

E vocês, outros arromânticos do fórum, quais são as vivências e experiências que fazem com que vocês acreditem que sejam arromânticos?

Não acho suas palavras confusas. Porque, na verdade, elas se tornam simples na medida em que compartilhamos delas.

Existem diversas razões pelas quais eu me identifiquei inicialmente como arromantico ao descobrir a assexualidade. Eu poderia resumi-las nos seguintes pontos:

1º Eu não sentia uma coisa tal como paixão. Isso é, um sentimento de profunda atração por alguém, de forma muitas vezes subta, "irracional", etc.

2º Eu não conseguia compreender formas diferentes de amor. Tal como um amor de mãe, e um amor de irmãos, amor de namorados, etc. Amor seria um sentimento mais ou menos fluídos que variaria de uma pessoa para outra dependendo das nossas experiências, etc. sem ter uma espécie de hierarquia pré-estabelecida e, principalmente, um processo de solidificação irreversível.

3º Eu não gostava de alguns aspectos simbólicos do "amor romântico", como uma ideia de incompletude que só se realiza na outra pessoa (metade da laranja); Legitimidade sacrificial (sofrimento como prova de amor), ideia de possessão (você é meu, eu sou sua); etc.

4º Eu não gostava da própria forma como as relações românticas se configuravam na prática. E especialmente com a incrível dificuldade de negociação dentro dessas relações. Até certo ponto é possível, mas chega um momento que certos dogmas santos não podem ser rompidos.

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Não quero com isso dizer que isso é se sentir arromântico, mas foram os sentimentos que na minha mente, mais ou menos, me explicavam como tal.

Me sinto um arromântico porque nunca me apaixonei por ninguém. Nunca quis andar de mãos dadas com a pessoa amada. Nunca quis ir ao cinema com uma namorada. Nunca quis ficar o dia todo no telefone falando que ama alguém.

Essas coisas simplesmente não me atraem. E ponto. Por que fazer todas essas coisas? Simplesmente porque todos fazem? Por que o sistema obriga que todos tenham esse comportamento? Onde está a capacidade de questionamento das pessoas?

Certa vez Sócrates disse: questione tudo a sua volta.

Puxa, como eu não ví esse tópico antes! =D

Talvez por eu não me considerar arromântica, mas cada vez mais vou descobrindo mais coisas sobre mim.
Meus sentimentos sempre foram muito confusos. Se eu for analisar bem, eu nunca tive esse sonho de me apaixonar e viver feliz para sempre com alguém. Isso é só mais imposição que colocam nas nossas cabeças q pra ser feliz vc precisa seguir essa regra. Quando alguém me chama atenção ou quando me sinto atraída por alguém não é no sentido sexual da paixão e sim de admiração ou de afinidade. Acredito q os arromânticos se sintam um peixe fora d'água nesse mundo onde só se considera pessoas sentimentais aquelas q se apaixonam e gostam de demonstrar esse amor romanticamente e aquela coisa piegas toda! Eu como arromântica me vejo pq sou uma pessoa q gosta de estar sozinha e de não depender da opinião dos outros pra tomar minhas atitudes. Sou assim e não é de hj, acho q aprendi a ser assim, por questão de sobrevivência pq sempre me senti excluída por vários fatores (adoção, androginia, timidez...) e nunca tive muitos amigos e portanto sei sobreviver assim sem o amor romântico. Acredito que realmente existam diversas formas de amor: o amor próprio, o amor romântico, a amizade, o amor incondicional (esse o mais amplo de todos). Mas só o amor próprio é realmente importante pra mim, pq até pra vc se sentir capaz de se aproximar de alguém, ajudar e ser amigo é preciso q vc esteja bem consigo mesmo.

Gostei da sua explicação, e concordo plenamente com o fato dessa imposição social, de que a felicidade só pode ser obtida ao lado de outra pessoa. algo muito errado, em vista que todo ser humano é único, e trabalha com padrões diferentes, não é como uma máquina com pré programação e necessidades definidas.
mas olha, tenho que te admitir que na minha mente funciona justamente o contrário, e não é que eu goste.
eu nunca gostei muito de mim mesmo. desde criança, eu nunca fui muito popular na escola, nem um daqueles meninos que ficavam com todas as garotas, e isso me fez muito instável nessa área. eu era muito revoltado.
mas bastou namorar é ver o mundo rosa de algodão doce para botar na minha cabeça que eu só podia ser feliz com outra pessoa. como eu fiz isso, não sei. só sei que está tão preso no meu subconsciente que mesmo sozinho a um ano, essa forma de pensar me faz sofrer, e não consigo mudar
a visão que tomei me impede de ser feliz. é complicado.
eu concordo com você, sinceramente. é bem mais útil ter amor a si mesmo.