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 Pra falar de amor

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Turunah
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Pra falar de amor Empty
MensagemAssunto: Pra falar de amor   Pra falar de amor Empty22/6/2016, 16:27

Eu, nestes cinquenta e poucos anos, tive a oportunidade de me apaixonar por quatro vezes, por quatro vezes minha vida cotidiana ficou completamente bagunçada, meu comportamento e compreensão do mundo se alteraram significativamente e, após a superação do meu último caso de paixonite, encontrei nesta música de Chico Buarque um resumo do que aconteceu. Me permitam interpreta-lo:

Todo o Sentimento
Chico Buarque

Preciso não dormir
Até se consumar
O tempo da gente
Preciso conduzir
Um tempo de te amar
Te amando devagar e urgentemente

Pretendo descobrir
No último momento
Um tempo que refaz o que desfez
Que recolhe todo sentimento
E bota no corpo uma outra vez

Prometo te querer
Até o amor cair
Doente, doente
Prefiro, então, partir
A tempo de poder
A gente se desvencilhar da gente

Depois de te perder
Te encontro, com certeza
Talvez num tempo da delicadeza
Onde não diremos nada
Nada aconteceu
Apenas seguirei
Como encantado ao lado teu

-------------------------------------

Preciso não dormir
Até se consumar
O tempo da gente

Essa é a fase da paixão. Vai do primeiro encontro até o esgotamento. Pode durar algumas semanas ou a vida inteira. No caso da minha última paixonite durou seis meses e o tempo de nós dois ficarmos juntos se esgotou. Mas não significa que o amor tenha acabado.

Preciso conduzir
Um tempo de te amar
Te amando devagar e urgentemente

A paixonite embaralha as mentes dos apaixonados. Dizem os sexualizados que embaralha os corpos também. Mas vou inserir aqui outra descrição de como ocorre esse embaralhamento da paixão com outra música de Chico:

Eu Te Amo
Chico Buarque

Ah, se já perdemos a noção da hora
Se juntos já jogamos tudo fora
Me conta agora como hei de partir

Se ao te conhecer, dei pra sonhar, fiz tantos desvarios
Rompi com o mundo, queimei meus navios
Me diz pra onde é que inda posso ir

Se nós, nas travessuras das noites eternas
Já confundimos tanto as nossas pernas
Diz com que pernas eu devo seguir

Se entornaste a nossa sorte pelo chão
Se na bagunça do teu coração
Meu sangue errou de veia e se perdeu

Como, se na desordem do armário embutido
Meu paletó enlaça o teu vestido
E o meu sapato inda pisa no teu

Como, se nos amamos feito dois pagãos
Teus seios inda estão nas minhas mãos
Me explica com que cara eu vou sair

Não, acho que estás te fazendo de tonta
Te dei meus olhos pra tomares conta
Agora conta como hei de partir

Pois é, chega o momento em que cada um dos dois tem de partir. Mas o amor não. O amor, desvencilhado da loucura, precisa arrumar um tempo para sobreviver. Tem de ser num prazo urgente, para aproveitar do calor da paixão, mas tem de ser levado num tempo lento, para que as coisas essenciais que aconteceram antes se solidifiquem enquanto as inconsequências sejam decantadas.

Pretendo descobrir
No último momento
Um tempo que refaz o que desfez
Que recolhe todo sentimento
E bota no corpo uma outra vez

Integridade, essa é a palavra. É o que se perde na paixão e que no amor sereno fará falta. No meu caso, minha condição assexual fala mais alto, sou quem eu sou. Na medida em que a paixão começa a desconstruir minha identidade e começo a sofrer por não poder corresponder às exigências de um relacionamento carnal que me causa estranheza, é tempo de parar e refletir, separar o que é essencial e o que é acidental, o que é meu e o que pode ser nosso.

Prometo te querer
Até o amor cair
Doente, doente
Prefiro, então, partir
A tempo de poder
A gente se desvencilhar da gente

A paixão é, do grego, pathos... Patologia, doença. Não só ficamos doentes em nós mesmos como ficamos doentes do outro (o outro como doença). É preciso separar as mentes para que, numa possível sobrevivência do amor, um possa, sendo autenticamente ele mesmo, amar o outro sem se perder. E vice-versa.

Depois de te perder
Te encontro, com certeza
Talvez num tempo da delicadeza
Onde não diremos nada
Nada aconteceu
Apenas seguirei
Como encantado ao lado teu

Ah, essa certeza... é na verdade apenas uma esperança, uma forte esperança. Muitas vezes essa delicadeza não acontece de ambas as partes. De um lado a patologia do amor pode restar-se em ódio. Mas a definição de amor que a última frase nos dá, para mim, é a mais bonita e verdadeira de toda a literatura:

Amar é seguir como encantado ao lado da pessoa amada.

Eu sigo só...
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Midori Shoujo Tsubaki
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MensagemAssunto: Re: Pra falar de amor   Pra falar de amor Empty22/6/2016, 19:02

Estou com medo de estar me apaixonando por uma pessoa. Também tenho lido vários poemas de amor. Um dos que mais gosto é esse:

Quero que todos os dias do ano
todos os dias da vida
de meia em meia hora
de 5 em 5 minutos
me digas: Eu te amo.

Ouvindo-te dizer: Eu te amo,
creio, no momento, que sou amado.
No momento anterior
e no seguinte,
como sabê-lo?

Quero que me repitas até a exaustão
que me amas que me amas que me amas.
Do contrário evapora-se a amação
pois ao não dizer: Eu te amo,
desmentes
apagas
teu amor por mim.

Exijo de ti o perene comunicado.
Não exijo senão isto,
isto sempre, isto cada vez mais.
Quero ser amado por e em tua palavra
nem sei de outra maneira a não ser esta
de reconhecer o dom amoroso,
a perfeita maneira de saber-se amado:
amor na raiz da palavra
e na sua emissão,
amor
saltando da língua nacional,
amor
feito som
vibração espacial.
No momento em que não me dizes:
Eu te amo,
inexoravelmente sei
que deixaste de amar-me,
que nunca me amastes antes.

Se não me disseres urgente repetido
Eu te amoamoamoamoamo,
verdade fulminante que acabas de desentranhar,
eu me precipito no caos,
essa coleção de objetos de não-amor.

Ou este outro:

Eu te amo porque te amo.
Não precisas ser amante,
E nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
E com amor não se paga.

Amor é dado de graça
É semeado no vento,
Na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
E a regulamentos vários.

Eu te amo porque não amo
Bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
Não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
Feliz e forte em si mesmo.

Amor é primo da morte,
E da morte vencedor,
Por mais que o matem (e matam)
A cada instante de amor.
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Acabei de chegar!
Acabei de chegar!
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MensagemAssunto: Re: Pra falar de amor   Pra falar de amor Empty23/6/2016, 19:32

Amei-te e por te amar
Só a ti eu não via…
Eras o céu e o mar,
Eras a noite e o dia…
Só quando te perdi
É que eu te conheci…

Quando te tinha diante
Do meu olhar submerso
Não eras minha amante…
Eras o Universo…
Agora que te não tenho,
És só do teu tamanho.

Estavas-me longe na alma,
Por isso eu não te via…
Presença em mim tão calma,
Que eu a não sentia.
Só quando meu ser te perdeu
Vi que não eras eu.

Não sei o que eras. Creio
Que o meu modo de olhar,
Meu sentir meu anseio
Meu jeito de pensar…
Eras minha alma, fora
Do Lugar e da Hora…

Hoje eu busco-te e choro
Por te poder achar
Não sequer te memoro
Como te tive a amar…
Nem foste um sonho meu…
Porque te choro eu?

Não sei… Perdi-te, e és hoje
Real no […] real…
Como a hora que foge,
Foges e tudo é igual
A si-próprio e é tão triste
O que vejo que existe.

Em que és […] fictício,
Em que tempo parado
Foste o (…) cilício
Que quando em fé fechado
Não sentia e hoje sinto
Que acordo e não me minto…

(Fernando Pessoa)

Enquanto não atravessarmos
a dor de nossa própria solidão,
continuaremos
a nos buscar em outras metades.
Para viver a dois, antes, é
necessário ser um.

(Fernando Pessoa ou Fernando Teixeira)
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Luz
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Pensamento No fundo é simples ser feliz...difícil é ser tão simples!
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MensagemAssunto: Re: Pra falar de amor   Pra falar de amor Empty24/6/2016, 21:02

Amei tudo que escreveu Turunah....

Amo esse poema, me diz muita coisa atualmente...

Que a força do medo que tenho
Não me impeça de ver o que anseio
Que a morte de tudo em que acredito
Não me tape os ouvidos e a boca
Porque metade de mim é o que eu grito
A outra metade é silêncio

Que a música que ouço ao longe
Seja linda ainda que tristeza
Que a mulher que amo seja pra sempre amada
Mesmo que distante
Pois metade de mim é partida
A outra metade é saudade

Que as palavras que falo
Não sejam ouvidas como prece nem repetidas com fervor
Apenas respeitadas como a única coisa
Que resta a um homem inundado de sentimentos
Pois metade de mim é o que ouço
A outra metade é o que calo

Que a minha vontade de ir embora
Se transforme na calma e na paz que mereço
Que a tensão que me corrói por dentro
Seja um dia recompensada
Porque metade de mim é o que penso
A outra metade um vulcão

Que o medo da solidão se afaste
E o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável
Que o espelho reflita meu rosto num doce sorriso
Que me lembro ter dado na infância
Pois metade de mim é a lembrança do que fui
A outra metade não sei

Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
Pra me fazer aquietar o espírito
E que o seu silêncio me fale cada vez mais
Pois metade de mim é abrigo
A outra metade é cansaço

Que a arte me aponte uma resposta
Mesmo que ela mesma não saiba
E que ninguém a tente complicar
Pois é preciso simplicidade pra fazê-la florescer
Pois metade de mim é plateia
A outra metade é canção
Que a minha loucura seja perdoada
Pois metade de mim é amor
E a outra metade também
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MensagemAssunto: Re: Pra falar de amor   Pra falar de amor Empty25/6/2016, 01:38

Luz escreveu:
Amei tudo que escreveu Turunah....

Obrigado, Luz!!! sorrindo

Luz escreveu:
Amo esse poema, me diz muita coisa atualmente...

Que a força do medo que tenho
Não me impeça de ver o que anseio
Que a morte de tudo em que acredito
Não me tape os ouvidos e a boca
Porque metade de mim é o que eu grito
A outra metade é silêncio

Que a música que ouço ao longe
Seja linda ainda que tristeza
Que a mulher que amo seja pra sempre amada
Mesmo que distante
Pois metade de mim é partida
A outra metade é saudade

Que as palavras que falo
Não sejam ouvidas como prece nem repetidas com fervor
Apenas respeitadas como a única coisa
Que resta a um homem inundado de sentimentos
Pois metade de mim é o que ouço
A outra metade é o que calo

Que a minha vontade de ir embora
Se transforme na calma e na paz que mereço
Que a tensão que me corrói por dentro
Seja um dia recompensada
Porque metade de mim é o que penso
A outra metade um vulcão

Que o medo da solidão se afaste
E o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável
Que o espelho reflita meu rosto num doce sorriso
Que me lembro ter dado na infância
Pois metade de mim é a lembrança do que fui
A outra metade não sei

Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
Pra me fazer aquietar o espírito
E que o seu silêncio me fale cada vez mais
Pois metade de mim é abrigo
A outra metade é cansaço

Que a arte me aponte uma resposta
Mesmo que ela mesma não saiba
E que ninguém a tente complicar
Pois é preciso simplicidade pra fazê-la florescer
Pois metade de mim é plateia
A outra metade é canção
Que a minha loucura seja perdoada
Pois metade de mim é amor
E a outra metade também

Que lindo! Oswaldo Montenegro. Gosto muito.
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MensagemAssunto: Re: Pra falar de amor   Pra falar de amor Empty25/6/2016, 16:07

Que bom que gostou Turunah, adoro Oswaldo Montenegro!
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