Queria ouvir a opinião pessoal de vocês sobre qual é a linha que separa amizade de interesse romântico para vocês? Quando que vocês sabem que uma relação forte de amizade pode vir a ser um romance e quando não?

Depois que me descobri assexual, percebi que no passado algumas amizades que tive, eu provavelmente estava apaixonada e não sabia dizer o que estava sentindo por não ter atração sexual pela pessoa e presumir que aquilo não poderia ser amor se não tinha interesse em beijar a pessoa ou ter vontade de ter sexo com ela, amizade é algo que sempre me preencheu muito, mas eu tenho interesse em algum dia estar em uma relação romântica com alguém.

Sempre idealizei ter algum dia um relacionamento que se escalasse de uma amizade foda para um romance, pois conexão emocional é essencial para eu ter sentimentos românticos , mas o problema é que na pratica quando um amigo próximo se declara pra mim, mesmo se achar ele bonito e amar muito ele (como amigo), eu não sei se não vejo ele dessa forma por eu não ter atração sexual e se tentasse poderia dar certo ou eu apenas não sinto essa vontade pela amizade já ser algo perfeito.
Por outro lado quando conheço alguém, já em um contexto de interesse romântico, eu me sinto ansiosa sobre ter um contexto que vou estar pressionada a ter relações mais físicas e pressão para ter uma conexão emocional com a pessoa, se a pessoa vai me ver mais como algo sexual ou realmente sente algo mais profundo.

Eu sou muito sem noção sobre relacionamentos e por isso gostaria de saber na visão de vocês (assexuais ou não) quais características fazem vocês saberem que tem um possível interesse romântico em alguém e quando sabem que não tem esse interesse?

Oi, Jiji! Tudo bem?


Então... esse tipo de coisa (essa confusão emocional) já aconteceu bastante comigo. Mas acredito que tenha acontecido também porque até então eu não havia sequer me identificado com o espectro assexual. Sequer cogitado, mesmo que sem citar termos, eu tenha vivido relacionamentos assexuais.


às vezes a gente só quer viver as coisas sem ter que taxar com um nome e de outras vezes a gente não sabe com qual termo identificar e acaba sendo só um "rolo".


Eu já tive amizades que considerei muito foda (com caras que queriam algo mais) e eu deixei claro que não queria mais que amizade (de forma sutil), geralmente estava "enrolada" com outra pessoa, geralmente com uma garota. Isso pq tenho 0 confiança em homens. Minha família é matriarcal e por mais que eu tenha amizade forte com primos e irmão, sempre supervalorizei relacionamento e confiança nas mulheres do que com homens.


Mas... mesmo meu relacionamento com mulheres sempre teve seus percalços então de um modo geral acho que só tenho problema de confiança com as pessoas mesmo. kkkk Acho difícil me tornar vulnerável de qualquer forma que seja, mesmo da menor maneira.




A forma que eu consigo *identificar* meu interesse em alguém e distinguir de uma amizade foda é: no meu interesse romântico, eu quero passar a maior parte de tempo possível com a pessoa, a opinião dela é valorizada acima dos demais, apesar de ser assexual, não sou estrita, gosto de carinho, de beijar, abraçar e estar perto da pessoa, de demonstrar meu apreço.


Acho que você tem que tentar "ouvir o coração" e pensar se vale a pena arriscar qualquer outra coisa além de amizade com a pessoa. Sei lá.

Dani Marreiros escreveu:

Eu já tive amizades que considerei muito foda (com caras que queriam algo mais) e eu deixei claro que não queria mais que amizade (de forma sutil), geralmente estava "enrolada" com outra pessoa, geralmente com uma garota. Isso pq tenho 0 confiança em homens. Minha família é matriarcal e por  mais que eu tenha amizade forte com primos e irmão, sempre supervalorizei relacionamento e confiança nas mulheres do que com homens.  

Mas... mesmo meu relacionamento com mulheres sempre teve seus percalços então de um modo geral acho que só tenho problema de confiança com as pessoas mesmo. kkkk Acho difícil me tornar vulnerável de qualquer forma que seja, mesmo da menor maneira.

Muito obrigada pela resposta Dani!
Me identifiquei muito com você tanto de não ter confiança em homens como de eu ser uma pessoa que também tem um certo receio/medo de ficar vulnerável em um relacionamento, para mim é muito difícil "medir" quanto que eu posso me entregar para algum interesse romântico, mas a minha forma de gostar de desfrutar esses momentos com a pessoa  também é o carinho, de beijar, abraçar e estar perto da pessoa, de demonstrar meu apreço, mas infelizmente sempre acabo meio insegura e muito ansiosa vendo o desenvolver de uma possível relação que ainda não tem um nome definido do que ela é (fazer o q kkk), mas fiquei mais tranquila e segura com as suas palavras
Vou seguir meu coração e ver no que da .

Oioi!
Jiji, sua pergunta me trouxe algumas reflexões interessantes. Na minha vida, tive algumas tentativas de namoros e a que deu "menos errado" foi aquela em que conheci a pessoa por internet e nunca nos vimos pessoalmente, então nunca senti nenhuma pressão de algo (durou dois meses). Eu não sei se existe uma linha realmente entre namoros e amizades, mas isso me fez pensar um pouco. Apesar de não ser uma pessoa que gosta de apertos de mão, abraços e cumprimentos com toques, eu sempre adorei (e me senti bem) com gestos carinhosos dos meus amigos. Atualmente, tenho duas amizades com quem me sinto extremamente à vontade em relação a toques. Ao lado dessas duas pessoas, consigo ser eu mesma e não tenho problema com os toques que delas (claro que dentro dos limites estabelecidos para não haver nenhum desconforto - apesar de que não posso negar que já senti alguns arrepios involuntários ao lado dessas pessoas). Incrivelmente, essas foram possivelmente as pessoas que mais magoei por não corresponder aos sentimentos românticos e hoje em dia os dois sabem bem que provavelmente nunca serei capaz de gostar deles como eles já gostaram de mim, então temos um acordo do tipo "se isso estiver indo longe demais, me avise" para ninguém mais sair machucado depois de todas as dores pelas quais passamos juntos. Sei que não sinto atração romântica por eles porque já tentei algo (ou talvez eu só seja do grupo que odeia se sentir "preso" em relações amorosas, mas acontece). Nossas atitudes são normais para mim e assim está ótimo, sabe?
Não sei se existe alguma fórmula para reconhecer interesse romântico, mas eu só percebi que não queria algo além de amizade depois que quase perdi aquelas amizades. É complicado, porque eu realmente ainda não consegui me encaixar em nenhum espectro romântico, talvez eu esteja me enganando para não machucar mais gente nessa história toda.
Se eu concordasse com Dani, acabaria me vendo interessada romanticamente por meus dois melhores amigos (tirando a parte de querer beijar essas pessoas), e não me permito imaginar essa possibilidade por conta das mágoas que isso poderia trazer.
Enfim, acho que acabei mais desabafando do que respondendo sua pergunta kkkkk sinto muito!
Talvez, no fundo de nós, a gente simplesmente sinta/saiba quando não queremos apenas amizade ou nos sentimos atraídos romanticamente.
Abraços!

Eu não namoro, portanto essa questão nunca me ocorreu na prática, mas já me veio muitas vezes de maneira hipotética. Minhas conclusões foram, mais ou menos, as seguintes:

O que nós chamamos de "romântico" tem a ver, sobretudo, com compromisso sobre o futuro. Uma relação é romântica quando ambas as partes (ou mais, mas vamos assumir duas) entendem que desejam compartilhar a vida com a outra, de maneira duradoura. Quando a essa intenção se soma um voto de exclusividade, você tem o namoro e o casamento.

Nesse aspecto, é o mesmo quando há atração sexual e quando não há. Só ocorre que, entre as pessoas que sentem atração sexual, as coisas costumam vir juntas, se confundem e se reforçam. Mas nem sempre.

Aliás, já foi muito mais comum que amizades entre pessoas do mesmo sexo tivessem traços tipicamente românticos explícitos. Entre homens e mulheres é um pouco diferente: aparece em divagações amorosas, mas o fato é que as pessoas tendem (e tendiam mais cedo) a se casar. Para os solteiros, o casamento torna essa amizade romântica em outra coisa. Para os já casados, pelo voto de exclusividade, é traição, ao menos quando envolve o sexo oposto.

Atualmente, apesar das pessoas sentirem, presumivelmente, as mesmas coisas, não é considerado apropriado agir de forma tipicamente romântica sem a exclusividade. Na via contrária da flexibilização da duração do casamento e dos namoros, as regras sociais ficaram mais rígidas sobre manter relações duradouras - a regra geral é uma de cada vez. Parece haver certo sentido aí, porque se é habitual trocar de namorados, então, em primeiro lugar, você pode escolher um de cada vez, o que mais lhe apraz no momento; segundo, porque se o voto de exclusividade vale menos, isso aumenta os ciúmes sobre qualquer pessoa com quem o parceiro possa ter uma relação duradoura.

Para os assexuais que desejam relações duradouras - eu não gosto muito do "espectro romântico" como modelo, acho que é uma analogia um pouco fraca com a atração sexual - isso cria um problema. Explico: se as relações duradouras devem ser, via de regra, exclusivas enquanto durarem, a maioria das pessoas, que sente atração sexual e necessidade de tornar essa atração real com outra pessoa, irão insistir que as suas relações tenham um componente sexual importante.

Saí um pouco do tema porque algumas dessas questões foram surgindo nas respostas e eu achei que valia a pena contribuir com meus pensamentos. Mas para responder à pergunta original, na minha visão, você tem interesse romântico quando deseja claramente que a relação seja forte e duradoura - querendo dizer, potencialmente, para sempre.