Dentro da comunidade assexual, percebo que um dos maiores impasses está relacionado ao uso das classificações. Utilizá-las ou não utilizá-las? Se for adotá-las, como proceder em relação a elas? E, incluída em uma situação ainda mais delicada, há a classificação arromântica. O arromantismo é válido como uma classificação? Mas como o arromantismo pode ser considerado válido como classificação se nem ao menos há um consenso sobre a validade das próprias classificações?

Para quem ainda não conhece as sub-classificações da assexualidade, a AVEN (Asexual Visibility and Education Network) criou algumas classificações dentro da assexualidade por perceber que esta orientação sexual, assim como as outras, manifesta-se diferentemente em cada pessoa. Então, há aqueles que sentem atração romântica (românticos) e alguns outros que não a sentem (arromânticos). Mas a utilização destas e outras classificações gerou alguns problemas, pois nem todos identificavam-se com elas e as tentativas de criação das suas definições não tiveram completo êxito.

Além destes problemas, há o fato dos assexuais serem extremamente diferentes em relação às formas de manifestação das próprias sexualidades. Então, como podemos utilizar um mesmo rótulo para uma comunidade tão heterogênea? Tudo depende da forma com que lidamos com os rótulos.

Como a sexualidade se manifesta diferentemente em cada pessoa, é impossível criar um rótulo que caracterize perfeitamente a sexualidade de um grupo. Logo, os rótulos são apenas traduções pobres de um grupo de pessoas que permite muito mais identificá-las do que caracterizá-las. E é neste lugar que mora um enorme perigo, o qual é a tentativa de muitos assexuais de se definirem e de entenderem a si mesmas de acordo com uma determinada classificação.

Se o rótulo assexual e as suas classificações são apenas traduções pobres de um enorme grupo de pessoas, tentar entender a si mesmo baseado em um rótulo ou uma das suas classificações terá, possivelmente, um resultado falho, pois, como disse Júlio, “as pessoas sempre são mais ‘malucas’ do que os rótulos pré-supõem”. E tentar se entender da mesma forma que outra pessoa a qual identifica-se com a mesma classificação terá um resultado ainda mais desastroso.

Então, se é impossível que uma classificação caracterize de forma homogênea um grupo heterogêneo de pessoas, qual seria a sua função? As classificações são válidas devido as suas funções didáticas e de identificação. Quando meu conhecimento sobre a assexualidade era ainda mais restrito do que é na atualidade, o estudo das classificações me permitiu desenvolver uma visão muito mais ampla sobre esta orientação sexual, e, consequentemente, pude entendê-la melhor. E, além disso, a existência da classificação arromântica é a melhor forma que eu tenho de traduzir de forma resumida às pessoas a minha própria sexualidade, também servindo para eu me identificar com um grupo semelhante, mas não homogêneo, pois, como já afirmei, esta tradução é imperfeita e bastante restrita, por isso, eu jamais posso tentar me reduzir a ela.

Entre as classificações da assexualidade, o arromantismo é a mais polêmica, pois muitos não acreditam na validade da sua existência. Entretanto, dentro deste lugar construído no texto relacionado às classificações, acredito que o arromantismo deve ser aceito como uma das classificações existentes da assexualidade.

Etimologicamente, arromantismo seria a negação do romantismo, ou seja, uma pessoa arromântica seria aquela que não é romântica. Dentro desta concepção existem diversas críticas ao arromantismo, pois a falta de romantismo pode ter diversas interpretações, mas é necessário levar em consideração que nem sempre a etimologia da palavra leva ao verdadeiro significado dela, e o melhor exemplo disso é a expressão “assexualidade”. A etimologia da assexualidade está relacionada à ideia da falta de uma sexualidade, mas sabemos que não é neste lugar que encontra-se o assexual, mas sim no contexto da falta de atração sexual, diferente do que diz a etimologia da palavra. Portanto, criticar o arromantismo baseado na sua etimologia não é a melhor forma de invalidar a classificação.

Outra crítica ao arromantismo está ligada ao fato desta classificação ser um local de refúgio daquelas pessoas que não se identificam com a classificação romântica da assexualidade, e, tentando identificar-se com uma classificação, estas pessoas passam a se definir de acordo com a classificação arromântica, criando um conceito incorreto sobre si mesmas. Entretanto, a responsabilidade desta realidade não é da existência da classificação arromântica, mas sim do uso incorreto que estas pessoas fazem dela, como já foi explanado anteriormente no texto.

E, um dos maiores erros, ao meu ver, das críticas ao arromantismo, é a constatação da inexistência de um consenso sobre a sua definição. Já foi dito que é impossível criar um conceito que caracterize perfeitamente a sexualidade de um grupo de pessoas, podendo, no máximo, traduzir imperfeitamente a sexualidade delas, e um exemplo disso é o próprio conceito de assexualidade, pois nós definimos a assexualidade como a falta de atração sexual, mas existem muitas pessoas que se identificam como assexuais apesar de sentirem atração sexual em algumas situações específicas, como é o caso dos demissexuais e dos “cinzas”, fato que gera alguns dissensos relacionados à definição da assexualidade. Logo, invalidar a classificação arromântica devido ao dissenso ligado a sua definição não é possível, na minha opinião.

Dentro deste lugar construído por mim ao longo do texto, acredito que é possível, e até mesmo importante utilizar as classificações, mas controladamente e sem precisar levá-las tão a sério. E também acredito que o uso da classificação arromântica é válida, apesar de não haver um consenso relacionado à sua definição.

Por fim, mesmo sendo impossível criar uma classificação que caracterize perfeitamente a sexualidade de um grupo de pessoas, pensei em uma definição que abrange de forma ampla outras definições criadas de arromantismo e que, talvez, torne mais tangível o seu entendimento. O arromântico seria aquela pessoa que, além de não sentir atração sexual, não sente vontade de se associar a relacionamentos amorosos de quaisquer espécies. A definição, portanto, não abrange a causa da falta desta vontade, a qual varia de pessoa para pessoa.

achei legal seu posicionamento , as classificações acontecem de maneira apenas identificar grupos diferentes, nao tem porque haver discussões ne,
pois não somos todos iguais cada um nesse grupo tem sua individualidade
cada um expressa seu sentimento de maneira diferente,
nao vejo problemas em classificar
bem legal seu texto

Paulo, seu texto me fez pensar: por que não explorar esses sentimentos e vivências das pessoas arromânticas? Eu já havia criado um espaço no fórum (esse que você postou, inclusive). Acho que em qualquer caso as pessoas precisam de algum tipo de espelho para se identificar... e alguns tópicos serviriam bem, eu acho.

Júlio escreveu:

Paulo, seu texto me fez pensar: por que não explorar esses sentimentos e vivências das pessoas arromânticas? Eu já havia criado um espaço no fórum (esse que você postou, inclusive). Acho que em qualquer caso as pessoas precisam de algum tipo de espelho para se identificar... e alguns tópicos serviriam bem, eu acho.

Obrigado pela dica Júlio. Irei refletir mais sobre isso e, em breve, farei um tópico sobre o tema.

Eu não acho que as sub-classificações da assexualidade sejam desnecessárias... Só acho que por ser algo novo, as pessoas fazem uso dela como bem querem, ampliando e até distorcendo os conceitos, na procura de se "identificar" com algo. (Acho inclusive que eu distorço um pouco do que seria o arromantismo, ao me identificar como tal.) Se fosse desnecessário a sub-classificação, a classificação de assexual também seria desnecessária, visto que existem "meio-assexuais", como é o caso, a meu ver, dos demissexuais e dos gray-a.

poxa cara seu jeito de escrever, nossa! é muito bom, concordo muito com tudo o que voçê disse, e isso nao serve apenas para asexuais mas para todas as classificçoes sexuais, ja q em todos os casos essas classificações foram tomadas para significados errados ou precipitados, isso tem mais tendencia a acontecer com assexuais pois ainda é um assunto desconhecido até demais, e como voce disse todos temos nossa individualidade, classificaçoes sao apenas para esclarecer para as outras pessoas o que vc é de um modo mais fácil, e nao deve ser levado taaao a serio

Eu acredito ser válido utilizar o termo arromântico, porque dentro do conjunto assexual, existe um sub-conjunto de indivíduos que além de não sentirem qualquer atração sexual, também não têm interesse em se relacionar romanticamente com outras pessoas, o que é incomum no universo dos assexuais, porque segundo uma pesquisa feita pela AVEN, a maior parte dos assexuais, apesar de não sentirem atração sexual, sentem atração romântica.

Para que o grupo dos arromânticos não se sintam "um peixe fora d'gua", é importante que exista um termo que defina a sua situação perfeitamente, para que assim, nós arromânticos possamos nos conhecer melhor.