Atualmente existe um certo complexo megalomaníaco na maior parte dos movimentos sociais, ou, mais precisamente, num certo ethos muito específico que é compartilhado por quase todos eles. Parece que nós, órfãos da promessa do Paraíso, viramos nossa atenção para a própria potencialidade humana. Vamos transformar o mundo! Só que dessa vez sem expurgos e condenações... Será?

Projetos "humanistas" universalizantes não são novidade. Experiências socialistas são um bom exemplo disso. O resultado é o uso da força e perversas obras de engenharia social.

O problema é percebermos, enquanto estamos vivendo, todo significado das nossas ações. É impossível. Na verdade, transformações são tão sutis e "naturais" que frequentemente não lembramos de como nos opusemos ao exato oposto daquilo que acreditamos hoje. Sentimos que estamos "evoluindo"... Sim, é verdade! Mas apenas no sentido real do termo biológico. Estamos constantemente nos adaptando, e de forma alguma isso é necessariamente "melhor".

Veja bem, a assexualidade surgiu como um espaço livre para discutir novas possibilidades de experiências existenciais. Tão livre que era capaz de dizer "se você não sente que assexualidade é o "certo" para você, sinta-se livre para procurar ajuda". Assexualidade é algo para necessariamente ser discutido! Pensar sobre si mesmo é uma atitude revolucionária!

Mas não sejamos tolos! Estaríamos sugerindo que hoje, após 2001, a humanidade deu um "shift" evolutivo histórico e agora somos melhores do que antes? Quer dizer que durante milênios pessoas viveram sob opressão e amarguraram não viver sua assexualidade plenamente?!

Assexualidade é uma, entre outras, formas possíveis concorrentes que encontramos hoje para tratar sobre esse universo particular de possibilidades existenciais.

Não sei o que as pessoas faziam há cem ou mil anos atrás. Ou mesmo todos aqueles que vivem hoje! Mas posso apostar que não estão inertes esperando por esse momento redentor.

Isso quer dizer que assexualidade não é para todo mundo?! Sim, exato! Assexualidade não é, e nem pode ser, um grande projeto totalizante que abarque todos aqueles que possam tipicamente serem identificados como assexuais. Alguns pensadores liberais observaram nesse tipo de pensamento as raízes do totalitarismo. É difícil traçar a linha, mas talvez baste apenas não esquecer que ela existe.

Existem outras formas, quantas e quais eu não sei!, de interpretação dessas experiências existenciais. E isso é legítimo!

Não estamos aqui fazendo o que é "certo", levantando a bandeira da justiça... libertando a humanidade... a receita para a tolerância, e de alguma forma para a não-violência, é a humildade. Estamos fazendo alguma coisa aqui. Apesar de nossas pretensões, ainda não sabemos o que elas significam.