Eu contei pra minha mãe em agosto do ano passado, a reação dela foi basicamente:
"Ah, mas você achou aquele garoto da sua escola lindo"
"Ah, mas você ainda é muito nova (eu tinha 18) pra sentir essas coisas"
"Ah, mas é normal. Você só vai sentir algo quando se envolver com alguém"
"As pessoas têm essa mania hoje em dia de rotular isso"
Tá, depois disso eu não quis mais falar desse assunto com ela. Me magoou muito. Aí passaram uns meses, eu escrevo fanfic e resolvi escrever uma original falando de situações que passei desde que me descobri ace. Ela leu os capítulos que eu falava da nossa conversa, e aí ela "abriu" a mente, ela percebeu que estava me fazendo mal e foi procurar saber mais.
Como foi com vocês?
Será que eu consigo achar alguém que os pais aceitaram de primeira? kkkkk acho que não

A assexualidade é uma orientação sexual relativamente "nova". Estamos muito mais "no armário" do que os gays, lésbicas e bissexuais. Então, essa reação da sua mãe até que é compreensível. Que bom que, pelo menos, ela acabou aceitando melhor algum tempo depois.

Eu não contei minha orientação sexual a ninguém, nem mesmo à minha mãe, a quem sou muito ligada. Não acho necessário. Se eu fosse lésbica, talvez eu contasse, mas acho que não é relevante contar a ela que eu não gosto de sexo e nem pretendo ter um namorado. Até agora a gente tem convivido bem, e ela nunca me cobrou isso, então eu não acho necessário.

Prefiro guarda meus pensamentos, ideias, opiniões, objetivos e etc dentro de mim mesmo, quando você fala algo pra família, sempre prezam o lado negativo das coisas, não vai da certo, você ta errado, não é tão simples, prefiro deixa no meu intimo mesmo e só fala com quem realmente entende sobre o assunto.

Também não contei a ninguem depois que me descobri ace. Não vi necessidade de contar, pois a minha condição não dita quem eu sou.

Anos atrás contei à minha mãe (e ao meu pai, por tabela) e obtive uma reação muito parecida. A diferença é que isso não me magoou ou foi motivo de ofensa. Talvez a palavra "desapontado" descreveria melhor o meu sentimento.

Sobre os comentários já postados nesse tópico: sim, não é uma informação essencial para as outras pessoas; sim, é mais agradável permanecer na zona de conforto; sim, existe o medo de que as pessoas usem a informação que confiamos a ela contra nós... Estes são todos motivos plausíveis que me passaram pela cabeça nos dias que antecederam o momento da "revelação" e imagino que a Clenery também os levou em conta. Entretanto, nem tudo se resume a isso.

Acho válido enfatizar, principalmente às pessoas que eventualmente procurarão neste tópico apoio a suas reflexões, que cada pessoa deve avaliar individualmente todos os fatores que achar relevante e pensar sobre o tipo/nível de relação se espera ter com as outras pessoas (íntima, distante, etc). Nenhum dos motivos apresentados no parágrafo anterior serve como regra geral por si só. Usem-os como ideias de questões que devem ser levadas em conta sem esquecer do "porquê", "para quê" e "especificamente para quem" você gostaria de compartilhar tal informação.

Estar minimamente preparado para as reações inesperadas também é importante.

Rhoda Penmark escreveu:

Então, essa reação da sua mãe até que é compreensível. Que bom que, pelo menos, ela acabou aceitando melhor algum tempo depois.

Concordo! Isso me lembra algo que minha mãe falou na ocasião: "você precisa entender que eu sou de outra época e isso não existia antes. Eu aprendi desde pequena que..." (e explicou como ela achava que devia ser)
Sem entrar no mérito das palavras dela, isso certamente me ajudou a entender e aceitar.

Hoje em dia, meus pais não tocam no assunto e é como se a conversa não tivesse existido algum dia. O lado bom foi eu ter me libertado da sensação de omissão em assuntos e situações recorrentes, enquanto eles se livraram da indefinição e das expectativas que nunca se concretizariam. Com certeza não foi fácil para eles, ainda assim vi mais ganhos do que perdas ao esclarecer a situação.

É normal, as pessoas gostam de perguntar sobre as vidas uma das outras, faz parte da construção das relações e nem sempre a intenção negativa que a gente lhes atribui está corretamente interpretada. Eu, por exemplo, não gosto de falar da minha vida (no geral) e não tenho problemas quanto a me recusar a falar de algo que não quero, mas existem as exceções. Se for alguém com quem tenho uma ligação forte (caso dos meus pais), não gosto dessa recusa e é praticamente inaceitável eu precisar induzir ao erro (omissão) ou dar a informação incorreta (mentir).  

Clenery, embora você tenha ficado magoada, espero que você fique firme na decisão que tomou. Lembre-se dos motivos que contribuíram para a decisão de contar e tenha paciência até que cada uma de vocês se acostumem com a ideia da repercussão dessa conversa.

clenery escreveu:

Será que eu consigo achar alguém que os pais aceitaram de primeira? kkkkk acho que não

Existem casos, sim.
Não posso saber se esses pais aceitaram com sinceridade, mas conheço reações neutras e até muito positivas após a conversa.

Eu não pretendo contar para minha família nunca, a menos que seja muito necessário pois, além da minha família ser muito preconceituosa (com excessões de um ou outro), aceito que diz respeito somente a mim e eu me descobrir assexual acabou com a dor de eu achar que era uma pessoa com defeito de fábrica e me aceitar me libertou grandiosamente (até porque descobri que quando parei de me forçar a querer e fazer coisas por cobrança e aceitar que eu seria infeliz, foi então que fui uma pessoa feliz).

Eu evito a todo custo contar sobre minha condição sexual para outros membros da família q n sejam a minha mãe( depois de um tempo ela me aceitou como sou e pediu pra n contatar pra ninguém). Pessoas do nosso convívio diário como amigos, colegas, vizinhos, conhecidos, etc... n precisam saber o q nós somos. Salvo se eles se declararem como semelhantes a nós na condição de ser ace.

Sam escreveu:

Concordo! Isso me lembra algo que minha mãe falou na ocasião: "você precisa entender que eu sou de outra época e isso não existia antes. Eu aprendi desde pequena que..." (e explicou como ela achava que devia ser)

Sim, ela me disse algo parecido depois que nós tivemos a nossa segunda conversa sobre o assunto. Ela tá achando que ela é demi (motivos que não vou entrar em discussão porque, afinal, é a minha mãe).

Sam escreveu:

Sobre os comentários já postados nesse tópico: sim, não é uma informação essencial para as outras pessoas; sim, é mais agradável permanecer na zona de conforto; sim, existe o medo de que as pessoas usem a informação que confiamos a ela contra nós... Estes são todos motivos plausíveis que me passaram pela cabeça nos dias que antecederam o momento da "revelação" e imagino que a Clenery também os levou em conta. Entretanto, nem tudo se resume a isso.

Cara, se trata de quem eu sou. A partir disso, para mim, é uma informação essencial sim. Eu passei o ensino fundamental e médio inteiros tendo que aguentar gente tentando me empurrar namorado, dizendo que eu tenho que perder o BV, falando sexo 24/7 quando eu sinto até um certo asco de pensar nisso. É parte de mim, então eu acho necessário contar para amigos quem eu sou sim. Não entendo o porquê de todos os LGBT+ "saírem" do armário e tá tudo bem, mas os assexuais "não têm necessidade".

clenery escreveu:

Cara, se trata de quem eu sou. A partir disso, para mim, é uma informação essencial sim. Eu passei o ensino fundamental e médio inteiros tendo que aguentar gente tentando me empurrar namorado, dizendo que eu tenho que perder o BV, falando sexo 24/7 quando eu sinto até um certo asco de pensar nisso.

Eu concordo com você quando diz que se trata de quem somos. Ao contrário do que o Shipow disse, penso que a minha condição dita quem eu sou. Se não fosse assexual, eu seria inegavelmente outro tipo de pessoa. Cada característica, vivência, condição ou detalhe da minha personalidade influenciam no resultado final do meu 'eu'. Até entendo que essa questão de "ditar quem eu sou" esteja também relacionada à distorção da imagem que as pessoas terão sobre nós ou à opiniões preconceituosas que poderão vir junto com a revelação, mas aí já é outra história - isso estaria mais relacionado ao medo do impacto que a informação teria.

clenery escreveu:

É parte de mim, então eu acho necessário contar para amigos quem eu sou sim. Não entendo o porquê de todos os LGBT+ "saírem" do armário e tá tudo bem, mas os assexuais "não têm necessidade".

Realmente é um grande erro sugerir que assexuais não têm necessidade de "sair do armário", mas falando no geral, seja LGBT+ ou seja assexual (não importa), acho completamente possível que isso não seja válido para todos. Algumas pessoas vão sentir necessidade de contar para o mundo todo, outras de contar para algumas poucas pessoas e outros não sentirão necessidade alguma. É como eu disse anteriormente, "cada pessoa deve avaliar individualmente todos os fatores que achar relevante e pensar sobre o tipo/nível de relação se espera ter com as outras pessoas". O que não pode mesmo é a generalização, como você disse, de se apoiar em alguns argumentos e fazer afirmações em nome de todos.


Por fim só gostaria de esclarecer, caso você tenha interpretado errado, que quando citei os comentários desse tópico e terminei dizendo que eram plausíveis, apenas quis dizer que eram razões válidas para as escolhas que eles tomaram. Em outras palavras, quis dizer que está tudo bem tomar a decisão de permanecer fechado em razão de qualquer um desses motivos. Da mesma forma, nós que decidimos contar a alguém, não podemos ser acusados de estarmos fazendo algo desnecessário ou que supostamente não diz respeito a ninguém.

Eu entendi, só quis mostrar o meu ponto de vista para as outras pessoas, a partir do que você tinha dito.

Para quem é heterromântico pode ser mais "fácil" a aceitação deles, porque eles vão ter o estranhamento por você não querer ter relações sexuais mas vão ficar só nisso ou pelo menos só nisso, porém para quem é visto como ace + ...rromântica (que é vista como gay ou lesbica)pode ser pior por conta desse outro fator.

Quando assumi para minha mãe ela jogou as clássicas: você é muito novo para saber, é so uma fase (a que eu mais adoro rs) e depois me ignorou total e agora foge do assunto, to trabalhando nessa parte da conversa (porque é muito importante) para ela entender mas parece que não vai rolar(do jeito que ela é ),mas não a culpo ela é das antigas, teimosa para ela entender isso só com o tempo mesmo.

A sexualidade é nossa e acho que não devemos ter a obrigaçâo de ficar comentando ela com ninguem, não faz diferença na vida deles, porém tem casos e casos, só você pode decidir quando, como e para quem contar.

Acho também importante (mas não obrigatório, claro) afirmar nossa sexualidade (para quem é assumido ou quer assumir) para dizer: aqui estamos, existimos e também somos gente. Nossa sexualidade não é muito conhecida, não podemos deixar ela ficar de lado, quanto mais pessoas souberem que ela existe, melhor elas lidam e melhor para nós também em questão de relacionamentos (para quem quer)e etc... Para também as novas e velhas gerações de aces se idêntificarem e saberem lidar com suas situações.