Desde o momento que eu descobri o que era a asexualidade minha vida explodiu de alegria genuína e ao mesmo tempo entrei em uma caverna, repulsiva à socialização. Eu acredito que seja normal se sentir assim, no começo ou vivendo como uma pessoa ace.
Por muito tempo acreditei que eu estivesse no extremo de nosso espectro, pelo meu sentimento muito específico em relação às minhas relações românticas. Eu amava andar de mãos dadas, os primeiros toques, aquele momento antes do beijo acontecer, mas era sempre quando passava disso que o problema começava pra mim. Não era ruim, mas também não era bom, só não era absolutamente nada. Pra mim, um beijo cheio de toques, respirações pesadas e olhares era como assistir uma cena dessas no cinema, ou ler no seu livro preferido... era legal, mas não tirava sentimentos profundos e desejos incontroláveis de mim.
Eu me isolei, dos colegas da faculdade e de amigos antigos no momento que comecei a descobrir sobre minha identidade sexual, porque as conversas nunca bateram. Eu estava naquele momento da adolescência em que todo mundo só fala de sexo, relações românticas e tudo o que é inerente a isso. Eu sempre desejei estar com alguém romanticamente, mas nunca foi meu sonho fazer sexo e isso parecia ser a coisa mais alienígena do mundo, até que não era. Eu passei muito tempo isolada e feliz por estar assim, longe de todo mundo.
É lógico que conversava com pessoas, mas não como antes.
A primeira vez que talvez alguém questionou minha sexualidade foi quando um psiquiatra, avaliando o quadro depressivo em que estava, me fez a pergunta que me fez refletir tudo em mim. Quando o questionei porque eu não sentia vontade sequer de pensar em sexo com outra pessoa, ele me perguntou "você sente isso hoje ou sempre se sentiu assim?". Isso me atravessou. Só nós sabemos o quanto ainda é delicado falar de assexualidade hoje, no Brasil, porque é muito difícil fazer o outro entender (no caso de você ser uma pessoa romântica) que não é que você não quer estar com ela, mas você não quer sexo (pelo menos não naquele momento ou mesmo nunca).
E então, me entendi como uma pessoa demissexual, comecei a sentir algo romântico pelo meu melhor amigo, ainda nada sexual. As coisas estavam indo bem, ele entendia minha identidade, o quanto uma pessoa de fora dessa experiência pode entender e eu amei essa relação. É óbvio que ele, dentro de um relacionamento romântico queria sexo, e isso me preocupava. Eu o amo e sei o quanto ele é compreensivo, mas também confesso que senti alívio quando passei a sentir algo sexual por ele, talvez não como ele sente por mim. É nítido as nossas diferenças, mas é tão puro e eu fico feliz de ter sido assim, com ele.
Ainda poucas pessoas sabem da minha identidade, e sinceramente? Eu Acredito que porque pouquíssimas pessoas fora da comunidade ace são aliadas, ou seja, decidem que querem entender e apoiar pessoas que são apagadas até mesmo das discussões em diversidades sexuais e de gênero.
Hoje, eu me sinto muito grata por tudo o que esses relatos fizeram comigo e espero que fiquemos bem.