Arromantismo, romantismo, lithromantismo, demissexualidade, gray-a...
Atração estética, atração romântica, fetiches, libido...

Eu acreditava, até algum tempo atrás, ser essa uma característica influenciada pela cultura da nossa comunidade, mas recentemente eu parei para pensar e, baseando-me em experiências próprias e em depoimentos alheios, começo a pensar que eu poderia estar errado. Já perceberam que usuários mais novos costumam ser bem ligados e preocupados quanto a questão das classificações? E já perceberam que esse comportamento começa a mudar ao passar do tempo?

No início da adolescência, as pessoas começam a se conhecer a partir das experiências no ambiente. O florescimento da sexualidade é um fenômeno íntimo, porém de conhecimentos compartilhados. As mudanças vão acontecendo no corpo, na mente, e ela vai se conhecendo em um processo interno de mudança, mas também a partir da absorção de experiências externas. A mídia, as conversas entre amigos, e várias outras formas de interação ajudam a pessoa nesse processo de autoconhecimento em relação à sua própria sexualidade. Mas com o assexual não é assim, e isso causa uma percepção de diferença e, principalmente, a sensação de não se encaixar. Começamos a travar uma luta interna, buscando um algo não alcançável, porque, diferente das outras pessoas, não tivemos a oportunidade de alcançar um maior autoconhecimento sexual por não termos conseguido absorver no ambiente as experiências necessárias para isso.

Mas então descobrimos a assexualidade.

Quando fazemos essa descoberta, normalmente já passamos por um longo período de angústia pela falta de conhecimento pessoal e, por isso, entramos nesse universo com uma ânsia enorme de nos conhecer e de nos identificarmos com algo.

A primeira grande paixão é o conceito de assexualidade, pois graças à esse termo finalmente nós nos sentimos pertencentes a um lugar no contexto da sexualidade. Mas ainda assim isso não é suficiente, pois um conceito vago como o da assexualidade não nos traduz por completo. E é aí que descobrimos pessoas que se identificam com algumas sub-classificações e definições. E como é grande o alívio quando lemos suas explanações e percebemos que nos sentimentos mais ou menos daquela forma! Pela primeira vez na vida conseguimos, a partir da absorção de experiências e conhecimentos externos, nos identificarmos!

Quantas vezes mesmo eu, Saulo, já não vasculhei a AVEN para saber se existiam pessoas que se sentiam como eu em certas situações e em certos aspectos? E se antes eu me sentia mal por pensar ser a única pessoa do mundo a me sentir de determinada forma, como se isso fizesse do meu sentimento algo "errado", depois eu me sentia extremamente feliz ao ver alguém compartilhando experiências extremamente semelhantes às minhas. É o desespero de ter uma característica "errada" sendo substituída pela sensação de ter encontrado o lugar certo.

Com essa sensação de pertencer a algum lugar e de ter um algo que nos explica, nós nos apegamos à certas classificações e definições em um primeiro momento como se nossas vidas dependessem delas. Mas essa é apenas a primeira etapa na busca do autoconhecimento, pois estamos suprindo a falta das identificações externas que não tivemos na adolescência.

Depois de passar por um período discutindo bastante sobre o arromantismo, tendo esse como um dos meus principais pontos de atenção na comunidade assexual, naturalmente, sem que eu mesmo percebesse, parei de me preocupar com essa questão. A discussão sobre classificações e sub-definições da assexualidade começou a ser deixada de lado por mim sem nenhum esforço pessoal nesse sentido.

Mas o que aconteceu?

Depois de muito pesquisar, de muito ler, e de muito refletir, eu consegui suprir aquela necessidade de auto-identificação, de pertencer a algum lugar, de saber que existem pessoas com experiências semelhantes às minhas. E, completando essa etapa, eu comecei a refletir sobre mim não como um ser pertencente à um grupo de assexuais e arromanticos, mas comecei a refletir sobre mim, meu comportamento, e minha sexualidade como Saulo. Eu me desprendi desse apego aos conceitos de classificações e definições existentes para analisar a mim mesmo a partir de minhas experiências pessoais, sem a necessidade de me identificar com algo.

Então, não é que eu não acredite mais ser arromântico, acontece apenas que a grande preocupação que eu possuía há alguns meses com essa e outras classificações e conceitos foi substituída por uma busca de autoconhecimento mais pessoal desligada da busca de identificação externa. Quero saber quem é Saulo como Saulo, e não mais o Saulo como integrante da comunidade assexual que também é arromantico, possui libido e se identifica com as características X, Y e Z.

E é dessa forma que eu entendo e explico o porquê de as classificações e sub-conceitos da assexualidade perderem um pouco da sua importância depois de um tempo para os assexuais.

Eu observei isso em algumas pessoas também, acho que o Léo comentou algo que me lembrasse isso.

Realmente, me primeira instância nós queremos as sub-classificações, elas são nosso 'porto seguro'. É como se elas afirmassem a nós mesmos constantemente que está tudo bem em ser assim, que não estamos errados ou quebrados como pensávamos. E até essa nova realidade se registrar dentro de nós, nos agarramos a elas para não esquecer. Eu penso assim ao menos.

Eu ainda preciso me agarrar as minhas definições e sub-categorias, ainda não estou pronta para me ver apenas como em mesma, mas fico muito feliz em saber que você já consegue fazer isso! Até porque me faz ver o quanto você cresceu e me da esperanças!

Achei ótima essa discussão interior, Saulo!

Estou no fórum/comunidade a dois meses e meio e até pouco tempo, constantemente me definia bastante. Durante essas semanas estou me desprendendo um pouco dessas classificações. Estou com a sensação de que eu sou bem maior do que apenas uma categoria.

Também reforço aqui que achei excelente as repostas do tópico que o 2D criou falando sobre romantismo e arromantismo, porque me fez pensar profundamente sobre essa questão.

Sah escreveu:

Eu observei isso em algumas pessoas também, acho que o Léo comentou algo que me lembrasse isso.

Realmente, me primeira instância nós queremos as sub-classificações, elas são nosso 'porto seguro'. É como se elas afirmassem a nós mesmos constantemente que está tudo bem em ser assim, que não estamos errados ou quebrados como pensávamos. E até essa nova realidade se registrar dentro de nós, nos agarramos a elas para não esquecer. Eu penso assim ao menos.

Eu ainda preciso me agarrar as minhas definições e sub-categorias, ainda não estou pronta para me ver apenas como em mesma, mas fico muito feliz em saber que você já consegue fazer isso! Até porque me faz ver o quanto você cresceu e me da esperanças!

^^

ruthjamison escreveu:

Achei ótima essa discussão interior, Saulo!

Estou no fórum/comunidade a dois meses e meio e até pouco tempo, constantemente me definia bastante. Durante essas semanas estou me desprendendo um pouco dessas classificações. Estou com a sensação de que eu sou bem maior do que apenas uma categoria.

Também reforço aqui que achei excelente as repostas do tópico que o 2D criou falando sobre romantismo e arromantismo, porque me fez pensar profundamente sobre essa questão.

Quais respostas? O que? Onde?
Fiquei curioso p/ ver...

Saulo escreveu:

Quais respostas? O que? Onde?
Fiquei curioso p/ ver...

Este tópico
No início ele fugiu bastante pra transexualidade mas gostei do que as pessoas falaram. Me fez pensar sobre coisas que eu não havia percebido.

Saulo escreveu:

Mas com o assexual não é assim, e isso causa uma percepção de diferença e, principalmente, a sensação de não se encaixar. Começamos a travar uma luta interna, buscando um algo não alcançável, porque, diferente das outras pessoas, não tivemos a oportunidade de alcançar um maior autoconhecimento sexual por não termos conseguido absorver no ambiente as experiências necessárias para isso.

Me identifiquei nesse trecho.
Eu já sabia q era assexual a bem mais tempo, mas como a assexualidade não era considerada uma orientação existente, eu não tinha nenhuma base pra me afirmar como tal. Se eu me afirmasse como assexual, sei q ninguém me levaria à sério.

Legal isso de se desprender às classificações e suas subs... Meio que sempre tive um certo odinho desconforto sobre as classificações, não por não me identificar, mas tipo, "qual a necessidade de vc pertencer a um nome de algum grupo??", pensava que as pessoas deviam confiar mais nelas mesmas e confirmarem por si mesmas que "não, não sou anormal, sou simplesmente eu"... Mas me equivoquei ao lembrar do meu alívio de ter descoberto a assexualidade e mais, o arromantismo, essas foram as melhores descobertas...

Muitos precisam ter um "lugar", encontrar pessoas que são iguais a ela, outras não precisam disso, talvez com o tempo quem precisa de classificações acaba mesmo por criar coragem e prefere se desprender, mas cada um é cada um :P e isso é mt bom.

Bacana o tema do tópico.

Acho comparável a o que um sexual passa quando sua sexualidade começa a aflorar seja quando muito jovem ou um pouco mais tarde, seja de maneira direta ou algo mais tímido.

Quer dizer, a maioria das pessoas aqui passou por tudo isso na faixa dos 16/25 anos, enquanto que com grande parte das pessoas rola mais cedo e isso se deve a informação. Não podemos nos esquecer que antes nem os sexuais possuíam conhecimento sobre suas próprias sexualidades... toda essa mudanças rolou faz uns 40/50 anos atrás com revoluções feministas e Lgbt recentemente (digo, a uns 20 anos?).

Creio que no futuro quando tal tema for mais difundido, todas as pessoas mais jovem já vão se descobrir e já vai estar okay, será como o jovem que descobriu que o ~lalalá~ não serve só pra fazer xixi.

 :P 

Lipe de Freitas escreveu:

[...] Quer dizer, a maioria das pessoas aqui passou por tudo isso na faixa dos 16/25 anos, enquanto que com grande parte das pessoas rola mais cedo e isso se deve a informação. Não podemos nos esquecer que antes nem os sexuais possuíam conhecimento sobre suas próprias sexualidades... toda essa mudanças rolou faz uns 40/50 anos atrás com revoluções feministas e Lgbt recentemente (digo, a uns 20 anos?).

Não sabia disso, por todas as classificações de sexualidade, então, ainda serem "novas" acabou que proporcionando o surgimento dos preconceitos sobre sexualidade, dificultando ainda mais as pessoas se descobrirem como são...

Lipe de Freitas escreveu:

Creio que no futuro quando tal tema for mais difundido, todas as pessoas mais jovem já vão se descobrir e já vai estar okay, será como o jovem que descobriu que o ~lalalá~ não serve só pra fazer xixi.

 :P 

Bom, o meu ~lalalá~ só serve pra isso mesmo :P

Discordo da primeira parte, Léo, acho que sem todo esse processo, seria mais complicado ainda descobrir a Assexualidade e teríamos muito mais preconceito na sociedade. As mudanças sociais que tivemos ao longo da história são vitais pra muita gente, quer dizer, sem isso não descobriríamos todas as questões de gênero que já discutimos aqui, por exemplo.

É, concordo. Então, essas discussões sobre sexualidade, que diga-se de passagem são muitas, ainda não tiraram os preconceitos existentes há mais 50 anos... Isso que eu chamo de geraçao para geração...

E as questões de gêneros e classificações são ainda mais novos que as discussões de sexualidade, Lipe? Que legal

Sim, até onde eu sei.

É bem mais recente, mas entenda que sempre existiu, a diferença é que ficava apagado no meio dos principais movimentos da época. Agora quem dá sua voz é o transfeminismo, e vejo que no meio disso está a assexualidade um pouco.

Fico muito feliz de saber que voce consegue essa proeza haha
Eu nunca me senti, digamos... desesperado pra saber qual subcategoria me encaixaris. Meu sentimento sempre foi curiosidade, e descobrir la na AVEN pessooas com "peculiaridades" parecidas com as minhas é ainda mais significativo ("Aah entao descobrir isso aqui no A2 é menos importante?") Nao! mas é muito interessante saber que alguem la no Reino Unido, EUA e outros paises tao distantes tem pessoas que pasaram ou passam por situacoes parecidas!
Nao uso mais as classificacoes mais para saber o que pesquisar no Google, A2 ou na AVEN quando for procurar pessoas (e seus depoimentos) para entender melhor o que se passa.
E todos devem lembrar que é pra isso que servem essas subcategorias! Sao guias, farois... e nao caixinhas.

ruthjamison escreveu:

Achei ótima essa discussão interior, Saulo!

Estou no fórum/comunidade a dois meses e meio e até pouco tempo, constantemente me definia bastante. Durante essas semanas estou me desprendendo um pouco dessas classificações. Estou com a sensação de que eu sou bem maior do que apenas uma categoria.

Também reforço aqui que achei excelente as repostas do tópico que o 2D criou falando sobre romantismo e arromantismo, porque me fez pensar profundamente sobre essa questão.

Aquelas respostas foram super valiosas! O texto que o Lipe passou foi otimo tambem.

Dentro das classificações também acredito me encaixar em assexuado arromântico ... mas confesso que nunca liguei muito pra classificações, me importo com o que realmente sou ..

Achei interessantes as classificações apenas porque não as conhecia, antes de ler a reportagem publicada no UOL (por intermédio da qual conheci este fórum) e tópicos daqui... Nunca liguei muito pra isso, tanto é que mesmo sabendo que meu comportamento foge do padrão que a sociedade em geral considera normal (ou seja, do homem hetero "garanhão"), nem sequer conhecia os termos Gray-A e Demissexual.