| | Laerte - um estudo sobre identidade de gênero | |
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Autor | Mensagem |
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Turunah Mestre
866 24/06/2011 60 Gênero :
| Assunto: Laerte - um estudo sobre identidade de gênero 3/1/2014, 20:52 | |
| Um exemplo de pessoa que procura assumir a identidade de gênero feminina independentemente de sua orientação sexual: o cartunista Laerte - nos links abaixo, em sua entrevista ao Canal Livre.
parte 1 parte 2 parte 3 parte 4
Quem gostaria de participar de uma discussão sobre a relação entre identidade de gênero e orientação sexual? O ponto de partida poderia ser a discussão sobre suas impressões pessoais acerca do depoimento feito nestes vídeos. Assista-os e expresse a seguir. |
| | | Convidado Convidado
| Assunto: Re: Laerte - um estudo sobre identidade de gênero 3/1/2014, 21:02 | |
| Laerte, Laerte, Laerte! Já pensei em falar sobre ele por aqui! Muito interessante criar um tópico sobre a identidade de gênero mencionando ele, Turunah. Verei os vídeos e depois deixarei o que penso. Mas já adianto que gosto do cara, da coroa, enfim, da pessoa. |
| | | .... Mestre Supremo(a)
1269 27/08/2012 30 Gênero :
| Assunto: Re: Laerte - um estudo sobre identidade de gênero 3/1/2014, 23:17 | |
| Também não vi os vídeos ainda. Verei, mas uma coisa eu posso adiantar: identidade de gênero não tem nenhuma relação com orientação sexual. Um homem pode se identificar com o gênero feminino apesar de ser heterossexual, por exemplo. |
| | | Convidado Convidado
| Assunto: Re: Laerte - um estudo sobre identidade de gênero 3/1/2014, 23:17 | |
| Achei que a primeira entrevista não começou tão bem, porém, foi se tornando mais dinâmica com o passar do tempo. Parecia que de início, a conversa girava entorno de uma avaliação do tipo "por que você quis ficar assim diferente?". Obviamente a entrevista realmente tem esse intuito, mas foi algo muito direto e senti um pouco de incômodo nessa parte... Nesse ponto achei que eles não estavam tratando o assunto com tanta maturidade. Mas observando a maioria da população em um contexto geral: quem realmente está emocionalmente e psciologicamente preparado para enfrentar um assunto difícil como esse? Sim. É difícil porque ainda não paramos pra pensar. Quem para pra pensar, entende, pensa sobre aquilo, respeita. Achei interessante ele ter falado da reação de seus pais quando expressou publicamente que era transexual, afinal, ainda é muito complicado lidar com esse tema, e mesmo assim disse que obteve apoio. Minha questão sobre a transexualidade é de completa aceitação. Pensava eu, que a insatisfação por não "estar" no gênero que você queria estar e não ser aceito nesta possibilidade de troca, deveria ser uma situação muito caótica na cabeça da pessoa, e ainda penso um pouco assim. Mas o depoimento que o Laerte exibe é a abertura, a sua própria permissão sem a preocupação com o restante. Ele construiu um novo retrato e isso afeta tanto o ponto de vista das pessoas, que até mesmo o chamam para entrevistas, não para falar de seu trabalho como cartunista, mas para falar sobre seu gênero. Em muitos casos há desespero, mas em muitos casos há aceitação. Porque pra muitos causa choque ver que ele passou cinquenta e poucos anos para se descobrir, mas na verdade o ruim seria se nessa história toda, ele não admitisse que dentro dele ele era um "outro", novo e possível, Laerte. Também é ressaltado por lá ou em algum site que pesquisei que a transexualidade não se relaciona efetivamente com a orientação sexual e isto é deveras interessante. Me veio muita coisa na cabeça durante a visualização dos vídeos até porque reconheço em mim uma adoração fisicamente feminina, em relação ao sexo feminino e que ao mesmo tempo se torna meio masculina em gestos mais independentes. Ainda não reconheço uma definição mas não se relaciona com a transsexualidade, nem com a androgenia. [se alguém souber, me ajude] Mas voltando, percebi que tudo se engloba em uma nova maneira de ver as coisas. As atitudes femininas, atitudes masculinas, formas de se vestir, estilos, assuntos, características, possibilidades. Admiro essa linha de pensamento mesmo não me enquadrando muito nesse conceito e mesmo não considerando que fazer determinadas coisas sejam apenas para determinado gênero. Sei que a transsexualidade não tem o intuito de transmitir isso mas penso que por eu não gostar de usar vestidos, saias, colares, pulseiras, maquiagem e diversas outras coisas significativamente "femininas" ainda assim tenho esse meu lado feminino e eu gosto dele. Eu encaro bem e com felicidade essa parte de "ser mulher" mas... quem não é e gostaria de ser? Eu fiquei pensando... e sabe... o nosso mundo ainda não está naquela condição perfeita e maravilhosa que todos queríamos estar (alguns de braços cruzados) mas esse tipo de iniciativa e transformação na forma de pensar, idealizar e realizar o que se quer, causa-me grande impacto. É poderoso, é feliz! Gostei. ps. Podem me dar puxão de orelha se falei alguma besteira xD |
| | | Solitary Star Mestre Supremo(a)
1041 02/09/2012 Gênero :
| Assunto: Re: Laerte - um estudo sobre identidade de gênero 3/1/2014, 23:47 | |
| Laerte é uma figurinha q eu admiro muito! Me veio muita coisa na cabeça tb ao assistir a primeira parte. Se não me engano o Laerte é agênero mas nem ele mesmo sabe disso. rs
Acho que o objetivo do Laerte ao se travestir não é com a finalidade de ser mulher, mas sim uma maneira de desconstruir gêneros.
Me deu nos nervos algumas coisas nesse video... Vou comentar mais depois q assistir os outros!
Última edição por Elemento Neutro em 3/1/2014, 23:48, editado 1 vez(es) |
| | | Turunah Mestre
866 24/06/2011 60 Gênero :
| Assunto: Re: Laerte - um estudo sobre identidade de gênero 3/1/2014, 23:48 | |
| - ruthjamison escreveu:
- ... reconheço em mim uma adoração fisicamente feminina, em relação ao sexo feminino e que ao mesmo tempo se torna meio masculina em gestos mais independentes. Ainda não reconheço uma definição mas não se relaciona com a transsexualidade, nem com a androgenia. [se alguém souber, me ajude]
Ruth, continuo a me admirar com a sua profundidade sincera na auto-análise, mesmo sendo tão jovem, capaz de produzir tal tipo de indagação, agora nas minhas palavras: "o que há de feminino em mulheres adorarem homens e o que há de masculino em homens adorarem mulheres? Faz necessariamente parte da identificação feminina a heterossexualidade? Faz necessariamente parte da identificação masculina a heterossexualidade? A homossexualidade, seja de mulheres ou de homens, faz necessariamente parte da identificação de gênero? Ou haveriam quatro identificações de gênero adicionais ao quadro padrão que estabelece identificação masculina X identificação feminina: - identidade homo feminina; - identidade homo masculina; - identidade bissexual feminina; - e identidade bissexual masculina? Laerte é bissexual masculino que se identifica com o gênero feminino ou ele é um homem bissexual que se identifica com algo propriamente transgenérico, feminino no caso? Seria ele agora um homem bissexual com identidade de gênero bissexual feminino? Saulo diz que identidade de gênero não tem nenhuma relação com orientação sexual. Concordaríamos com ele se resumíssemos a identidade de gênero a masculino x feminino, mas o que aconteceria em tese se adicionássemos à identidade de gênero a orientação sexual preexistente? Ou melhor: por que razão devemos considerar que um homossexual masculino que se veste e se comporta "como mulher" estaria realmente se vestindo e se comportando como uma mulher? Não poderia ele estar se vestindo e se comportando como "homossexual masculino que veste saias"? Realmente a saia, o batom, a depilação, a meia-calça, o permanente no penteado, o salto plataforma, o brinco e a gargantilha.... são coisas de mulher? É como Ruth pressente a seguir: - ruthjamison escreveu:
Mas voltando, percebi que tudo se engloba em uma nova maneira de ver as coisas. As atitudes femininas, atitudes masculinas, formas de se vestir, estilos, assuntos, características, possibilidades. Admiro essa linha de pensamento mesmo não me enquadrando muito nesse conceito e mesmo não considerando que fazer determinadas coisas sejam apenas para determinado gênero. Sei que a transsexualidade não tem o intuito de transmitir isso mas penso que por eu não gostar de usar vestidos, saias, colares, pulseiras, maquiagem e diversas outras coisas significativamente "femininas" ainda assim tenho esse meu lado feminino e eu gosto dele. |
| | | Léo Mestre Supremo(a)
1586 24/07/2013 105 y1 = -√(1-x²) + √|x|, y2 = √(1-x²) + √|x| Gênero :
| Assunto: Re: Laerte - um estudo sobre identidade de gênero 3/1/2014, 23:49 | |
| Assisti uma entrevista do Laerte no Roda Viva há um tempo e de cara ele me impressionou, mas gostei. Na época eu não tinha intendido o modo do Laerte, ele foi ao programa já vestido de mulher, mas ainda sim já tinha consciência que não é da minha conta por isso não tratei de dizer nada e também não entendi mesmo a ação do cartunista. Mas com o tempo, e depois a descoberta desta comu, comecei a entender melhor essa parte de gêneros. No final de contas vejo que Laerte foi muito corajoso, espero que surjam bons estudos sobre o tema. E realmente orientação e gêneros estão em partes diferentes do cérebro, um não depende exatamente do outro para ser o que for. |
| | | Convidado Convidado
| Assunto: Re: Laerte - um estudo sobre identidade de gênero 4/1/2014, 00:14 | |
| - Turunah escreveu:
- ... "o que há de feminino em mulheres adorarem homens e o que há de masculino em homens adorarem mulheres? Faz necessariamente parte da identificação feminina a heterossexualidade? Faz necessariamente parte da identificação masculina a heterossexualidade? A homossexualidade, seja de mulheres ou de homens, faz necessariamente parte da identificação de gênero? Ou haveriam quatro identificações de gênero adicionais ao quadro padrão que estabelece identificação masculina X identificação feminina: - identidade homo feminina; - identidade homo masculina; - identidade bissexual feminina; - e identidade bissexual masculina?
Impressionante Turunah O_o Suas perguntas trouxeram respostas para solucionar meu problema inexistente. Muito inteligente, muito inteligente, isso que você escreveu! *deixei sublinhado porque me tocou profundamente. Sinceramente, muito obrigada, ainda processarei e organizarei essas ideias! |
| | | Turunah Mestre
866 24/06/2011 60 Gênero :
| Assunto: Re: Laerte - um estudo sobre identidade de gênero 4/1/2014, 00:21 | |
| - ruthjamison escreveu:
... ainda processarei e organizarei essas ideias! Fica mais fácil e divertido com um troca-frases: - Gostar de mulher é coisa de macho? - Gostar de brincos é coisa de mulher? - Gostar de homem é coisa de gay? - Gostar de coturno é coisa de lésbica? |
| | | .... Mestre Supremo(a)
1269 27/08/2012 30 Gênero :
| Assunto: Re: Laerte - um estudo sobre identidade de gênero 4/1/2014, 13:52 | |
| - Turunah escreveu:
- Saulo diz que identidade de gênero não tem nenhuma relação com orientação sexual. Concordaríamos com ele se resumíssemos a identidade de gênero a masculino x feminino, mas o que aconteceria em tese se adicionássemos à identidade de gênero a orientação sexual preexistente? Ou melhor: por que razão devemos considerar que um homossexual masculino que se veste e se comporta "como mulher" estaria realmente se vestindo e se comportando como uma mulher? Não poderia ele estar se vestindo e se comportando como "homossexual masculino que veste saias"? Realmente a saia, o batom, a depilação, a meia-calça, o permanente no penteado, o salto plataforma, o brinco e a gargantilha.... são coisas de mulher?
Muito interessante... |
| | | kuirbab Mestre Supremo(a)
2217 06/10/2013 34 "Ouça mil vezes, fale uma só" - Provérbio Árabe Gênero :
| Assunto: Re: Laerte - um estudo sobre identidade de gênero 4/1/2014, 14:10 | |
| Excelente desconstrução de gênero feito pelo Turunah, só agradeço sinceramente ao debate proposto aqui! Definitivamente não é a genitália que define o gênero, está muito mais na cabeça do que ~lá~ Também penso que orientação sexual difere de orientação de gênero, mas sem dúvida ambos contribuem para formação da personalidade da pessoa, uma sexualidade pode talvez ser melhor compreendida através da percepção de gênero que a pessoa tem de si mesma, mas infelizmente a sociedade possuí mecanismos para coibir esse tipo de coisa... o que vemos então são muitos transgênero marginalizados seja trabalhando na rua ou em empregos de baixa remuneração. Isso sem falar em outros casos mais pesados... |
| | | Turunah Mestre
866 24/06/2011 60 Gênero :
| Assunto: Re: Laerte - um estudo sobre identidade de gênero 4/1/2014, 21:28 | |
| - Lipe de Freitas escreveu:
Também penso que orientação sexual difere de orientação de gênero, mas sem dúvida ambos contribuem para formação da personalidade da pessoa, uma sexualidade pode talvez ser melhor compreendida através da percepção de gênero que a pessoa tem de si mesma,... Sim, a orientação sexual difere da identidade de gênero, mas isto não significa que não têm relação alguma. O que estou tentando propor aqui é que a orientação sexual integra a identidade de gênero. A heterossexualidade, a homossexualidade e a bissexualidade tomam parte importante na formação da personalidade. Todos nós temos um elemento em nossa personalidade que remete à nossa sexualidade e, logo, a orientação sexual está implícita. Nós, como assexuais ou seja, como seres que não nos orientamos sexualmente (apenas, talvez, romanticamente), também carregamos na formação de nossa personalidade essa assexualidade (mesmo como orientação sexual neutra) e, portanto, assumimos uma identidade assexual. O que é importante notar, entretanto, é que esta identidade assexual é também bem semelhante (mas não idêntica) a uma identidade de gênero (identidade sexual) uma vez que absorvemos por força da educação, da cultura e dos meios de pressão que a sociedade exerce, estes mesmos elementos de gênero tradicionalmente considerados como masculinos ou femininos que, por sua vez, carregam a noção implícita de orientação sexual padrão (que é a de heterossexuais). Quando um rapaz se afirma assexual, a primeira coisa que vêm à mente do ouvinte mediano é: eu não me interesso por mulheres. O mesmo quando a moça se afirma assexual: ela não se interessa por homens. É por aí que a sociedade articula seu elemento de opressão: se o rapaz ou moça não se interessam por sexo, eles devem ser homossexuais mesmo sem o saber. É uma lógica perversa e pervertida que a sociedade usa para identificar genericamente a pessoa assexual a uma orientação sexual que ela, na verdade, não tem (na verdade, ela não tem nenhuma). E, se a pessoa assexual não for alertada para isto e não se defender dessa lógica, ela mesma acabará introjetando em sua personalidade uma identidade de gênero equivocada, não autônoma. A defesa para isto, ao meu ver, consiste mesmo em desintegrar de uma vez por todas o conceito de identidade de gênero, para que nele não tenha mais lugar nenhuma imputação de comportamento supostamente típico (aparentar, vestir-se, caminhar, sentar-se, falar, mover-se, pensar e sentir) a um ou outro dos gêneros predominantes nem aos gêneros derivados e minoritários. Somente colocando este conceito na posição obsoleta comparável ao conceito de 'geração espontânea', por exemplo, ou de qualquer outra mitologia ou ficção ultrapassada, é que a orientação sexual não terá mais lugar em nossa identidade pessoal (pois a identidade de gênero não estará mais ali para comportá-la). Assim, não mais será possível associar o uso de maquilagem a nenhuma identidade de gênero. Logo, o uso de maquilagem não trará parasitariamente associada a ele nenhuma informação indevida sobre a orientação sexual de quem adota este comportamento. Finalmente, o uso de maquilagem conseguirá ter seu lugar na formação da personalidade individual sem qualquer conotação com (a)sexualidade. |
| | | .... Mestre Supremo(a)
1269 27/08/2012 30 Gênero :
| Assunto: Re: Laerte - um estudo sobre identidade de gênero 4/1/2014, 22:14 | |
| - Turunah escreveu:
- Lipe de Freitas escreveu:
Também penso que orientação sexual difere de orientação de gênero, mas sem dúvida ambos contribuem para formação da personalidade da pessoa, uma sexualidade pode talvez ser melhor compreendida através da percepção de gênero que a pessoa tem de si mesma,... Sim, a orientação sexual difere da identidade de gênero, mas isto não significa que não têm relação alguma. O que estou tentando propor aqui é que a orientação sexual integra a identidade de gênero. A heterossexualidade, a homossexualidade e a bissexualidade tomam parte importante na formação da personalidade. Todos nós temos um elemento em nossa personalidade que remete à nossa sexualidade e, logo, a orientação sexual está implícita. Nós, como assexuais ou seja, como seres que não nos orientamos sexualmente (apenas, talvez, romanticamente), também carregamos na formação de nossa personalidade essa assexualidade (mesmo como orientação sexual neutra) e, portanto, assumimos uma identidade assexual.
O que é importante notar, entretanto, é que esta identidade assexual é também bem semelhante (mas não idêntica) a uma identidade de gênero (identidade sexual) uma vez que absorvemos por força da educação, da cultura e dos meios de pressão que a sociedade exerce, estes mesmos elementos de gênero tradicionalmente considerados como masculinos ou femininos que, por sua vez, carregam a noção implícita de orientação sexual padrão (que é a de heterossexuais).
Quando um rapaz se afirma assexual, a primeira coisa que vêm à mente do ouvinte mediano é: eu não me interesso por mulheres. O mesmo quando a moça se afirma assexual: ela não se interessa por homens. É por aí que a sociedade articula seu elemento de opressão: se o rapaz ou moça não se interessam por sexo, eles devem ser homossexuais mesmo sem o saber. É uma lógica perversa e pervertida que a sociedade usa para identificar genericamente a pessoa assexual a uma orientação sexual que ela, na verdade, não tem (na verdade, ela não tem nenhuma). E, se a pessoa assexual não for alertada para isto e não se defender dessa lógica, ela mesma acabará introjetando em sua personalidade uma identidade de gênero equivocada, não autônoma.
A defesa para isto, ao meu ver, consiste mesmo em desintegrar de uma vez por todas o conceito de identidade de gênero, para que nele não tenha mais lugar nenhuma imputação de comportamento supostamente típico (aparentar, vestir-se, caminhar, sentar-se, falar, mover-se, pensar e sentir) a um ou outro dos gêneros predominantes nem aos gêneros derivados e minoritários. Somente colocando este conceito na posição obsoleta comparável ao conceito de 'geração espontânea', por exemplo, ou de qualquer outra mitologia ou ficção ultrapassada, é que a orientação sexual não terá mais lugar em nossa identidade pessoal (pois a identidade de gênero não estará mais ali para comportá-la).
Assim, não mais será possível associar o uso de maquilagem a nenhuma identidade de gênero. Logo, o uso de maquilagem não trará parasitariamente associada a ele nenhuma informação indevida sobre a orientação sexual de quem adota este comportamento. Finalmente, o uso de maquilagem conseguirá ter seu lugar na formação da personalidade individual sem qualquer conotação com (a)sexualidade. Sua resposta me fazer perceber que eu estava fazendo uma generalização perigosa. E eu concordo totalmente com o que você disse. |
| | | Convidado Convidado
| Assunto: Re: Laerte - um estudo sobre identidade de gênero 4/1/2014, 22:22 | |
| - Turunah escreveu:
- A defesa para isto, ao meu ver, consiste mesmo em desintegrar de uma vez por todas o conceito de identidade de gênero, para que nele não tenha mais lugar nenhuma imputação de comportamento supostamente típico (aparentar, vestir-se, caminhar, sentar-se, falar, mover-se, pensar e sentir) a um ou outro dos gêneros predominantes nem aos gêneros derivados e minoritários. Somente colocando este conceito na posição obsoleta comparável ao conceito de 'geração espontânea', por exemplo, ou de qualquer outra mitologia ou ficção ultrapassada, é que a orientação sexual não terá mais lugar em nossa identidade pessoal (pois a identidade de gênero não estará mais ali para comportá-la).
Assim, não mais será possível associar o uso de maquilagem a nenhuma identidade de gênero. Logo, o uso de maquilagem não trará parasitariamente associada a ele nenhuma informação indevida sobre a orientação sexual de quem adota este comportamento. Finalmente, o uso de maquilagem conseguirá ter seu lugar na formação da personalidade individual sem qualquer conotação com (a)sexualidade. Gostei bastante onde o assunto chegou. Foi exposto, então, uma desconstrução (eita, palavra bruta!) do gênero. Isso me remete uma ideia de que quando somos pequenos, bebês, não temos a noção de sexualidade, maldade, enfim, de diversos fatores. Vamos nos descobrindo através de percepções, observações e acontecimentos. Porém, como bebês não tomamos nossas próprias decisões. Muitas vezes somos influenciados e controlados pelos responsáveis e somos obrigados a sermos coisas que não queremos ou que não tivemos a oportunidade de agirmos de outra forma. Por que bebês meninos usam roupas azuis? Por que bebês meninas usam roupas rosas? E por que depois, crescidos, alguns, sem tomarem noção, passam isso adiante como fosse algo natural? É muito estranho ver que as pessoas agem e se baseiam muito em gêneros e esquecem que antes de tudo somos seres humanos. Capazes e livres para usarmos as cores que quisermos, as roupas que quisermos. Até cortes de cabelo eram (hoje nem tanto) caracterizados através de gêneros. E mesmo assim, com os tempos "modernos", não há muita reflexão sobre as perspectivas infinitas que podemos obter independente de diferentes realidades. Claro que existem muitas diferenças, não só estéticas e sim, biológicas. E essas diferenças biológicas, dadas pela estrutura corporal, que acredito, que façam com que as pessoas se sintam insatisfeitas com seus corpos. Mas sinto que isso é muito confundido com o que o outro pode fazer com determinado corpo por ser do sexo feminino e o que o outro pode fazer com determinado corpo por ser do sexo masculino. E por isso chego a conclusão que a individualidade e as características que os indivíduos assumem, vão além desse conflito entre os sexos. |
| | | kuirbab Mestre Supremo(a)
2217 06/10/2013 34 "Ouça mil vezes, fale uma só" - Provérbio Árabe Gênero :
| Assunto: Re: Laerte - um estudo sobre identidade de gênero 4/1/2014, 23:50 | |
| - Turunah escreveu:
A defesa para isto, ao meu ver, consiste mesmo em desintegrar de uma vez por todas o conceito de identidade de gênero, para que nele não tenha mais lugar nenhuma imputação de comportamento supostamente típico (aparentar, vestir-se, caminhar, sentar-se, falar, mover-se, pensar e sentir) a um ou outro dos gêneros predominantes nem aos gêneros derivados e minoritários. Somente colocando este conceito na posição obsoleta comparável ao conceito de 'geração espontânea', por exemplo, ou de qualquer outra mitologia ou ficção ultrapassada, é que a orientação sexual não terá mais lugar em nossa identidade pessoal (pois a identidade de gênero não estará mais ali para comportá-la).
Assim, não mais será possível associar o uso de maquilagem a nenhuma identidade de gênero. Logo, o uso de maquilagem não trará parasitariamente associada a ele nenhuma informação indevida sobre a orientação sexual de quem adota este comportamento. Finalmente, o uso de maquilagem conseguirá ter seu lugar na formação da personalidade individual sem qualquer conotação com (a)sexualidade. Pode aprofundar um pouco mais esse ponto, Turunah? acho que consigo traçar um ponto um pouco contrário a isso. Quer dizer, não entendi exatamente essa parte. Preciso ter certeza do que entendi pra "contra-argumentar". |
| | | Turunah Mestre
866 24/06/2011 60 Gênero :
| Assunto: Re: Laerte - um estudo sobre identidade de gênero 5/1/2014, 01:23 | |
| Esse negócio de identidade de gênero jamais teve qualquer embasamento científico. Excluindo-se as diferenças genéticas que geram um fenótipo básico de morfologia e fisiologia diferentes, muita bobagem foi construída sobre esta base mínima. Foi determinado que mulheres pensam naturalmente diferente, que agem naturalmente diferente, que se vestem, que falam, que cruzam as pernas, tudo de modo naturalmente diferente, sem questionar em profundidade o que haveria de meramente cultural nesta diferenciação. É com base em tais "diferenças naturais" que se desconfia da capacidade de mulheres dirigirem caminhões e que se prega contra o desperdício de homens no balé.
Está mais do que na hora de começarmos a desconstruir este conceito falso, obsoleto e opressor. Por trás da alegada incapacidade de mulheres dirigirem caminhões está o preconceito de que eventuais caminhoneiras sejam lésbicas. Por trás do alegado desperdício de virilidade pelo homem no balé está o preconceito de que eventuais bailarinos sejam gays. Vê-se onde a orientação sexual foi parar: nas entrelinhas da tal identidade sexual. A caminhoneira não estaria se identificando (e a sociedade não a estaria identificando também) com o modelo feminino de uma dada cultura em uma dada época. O mesmo com o bailarino em relação ao modelo masculino. E o fato de não estarem se identificando com a identidade de gênero que se esperava que se identificassem, a primeira coisa de que se suspeita (seja como causa, seja como consequência) é a de que eles também não respeitam a orientação sexual que a própria identidade de gênero tradicional exigiria: a de serem heterossexuais.
Mas estamos aqui, numa comunidade de assexuais, denunciando a existência de pessoas (homens ou mulheres) que se identificam com o gênero masculino mas não têm orientação sexual nenhuma. E pessoas (homens ou mulheres) que se identificam com o gênero feminino mas também não se orientam pelo sexo. Portanto, estamos afirmando que orientação sexual pode ter relação com identidade de gênero (e costuma ter por força cultural), mas também que não se trata de uma relação necessária. Estamos mostrando que pode haver identidade de gênero (tanto adequada aos padrões quanto desviantes) sem que o sujeito esteja necessariamente vinculado a uma dada orientação sexual correspondente.
Nós, como assexuais, somos a prova viva e manifesta desta opressão que injustamente a sociedade comete contra as pessoas ao vincular orientação sexual a identidade de gênero - e à identidade global - ao vincular o uso de saias, por exemplo, ao gênero feminino e, portanto, aos gays.
Viva os sexualmente desorientados, seja qual for a composição original que derem às suas identidades!!! |
| | | kuirbab Mestre Supremo(a)
2217 06/10/2013 34 "Ouça mil vezes, fale uma só" - Provérbio Árabe Gênero :
| Assunto: Re: Laerte - um estudo sobre identidade de gênero 5/1/2014, 02:07 | |
| Tá, mas daí eu te questiono: Todo esse lance de "identidade de gênero" foi justamente criado para questionar os "gender roles", os papéis de gênero. Acho que só há um erro aí, não sei o quanto sabe sobre transfeminismo, mas é por aí. Sabe? Gostei também dos seus questionamentos, quer dizer, tendo em base com o que eu penso, você pode ser um homem que se veste de "mulher", mas pode também ser mulher trans* que se veste "de homem", é tudo uma questão de como você se sente, e como você se posiciona. É justamente sobre isso que se trata toda teoria queer a respeito identidade de gênero que as pessoas de fato são, a partir de como elas se sentem e não como elas são educadas a ser. Há quem seja "genderfluid" (ou seja, é os dois, não ao mesmo tempo, mas por fases). De resto, eu super concordo com muitos pontos. Somos as provas vivas de uma infinidade de coisas e quando mais tempo passa, mais eu percebo certas nuances. |
| | | Turunah Mestre
866 24/06/2011 60 Gênero :
| Assunto: Re: Laerte - um estudo sobre identidade de gênero 5/1/2014, 02:53 | |
| Grato, Lipe. Amanhã vou dar uma espiada em algo sobre a diferença entre identidade de gênero e papel de gênero. Vou começar por este artigo a seguir e, se souber de alguma leitura mais pertinente, poste aqui para nós.
http://psicologia.oswrod.psc.br/index.php/saiba-mais-a-construcao-da-identidade-sexual/
Mas eu gostaria que você explicitasse os possíveis erros que cometi a respeito dessa diferença entre estes conceitos, pois não ficou bem claro pra mim. |
| | | kuirbab Mestre Supremo(a)
2217 06/10/2013 34 "Ouça mil vezes, fale uma só" - Provérbio Árabe Gênero :
| Assunto: Re: Laerte - um estudo sobre identidade de gênero 5/1/2014, 03:29 | |
| Tranquilo, Turunah, vou catar uns lances aqui pro pessoal ler e pra te ajudar a entender minhas críticas. Mas em termos gerais, percebo só uma coisa desconexa que foi o que eu mencionei no início da minha indagação.
No geral, sua posição é correta e bem questionadora, nesse quebra-cabeça... o caso seria só trocar umas peças de lugar, então nos links que eu vou trazer, você poder observar isso e fazer as alterações corretas.
E quem agradece sou eu por iniciar esse papo cabeça sobre algo que anda tão em pauta nos dias de hoje, só houve uma visibilidade real e questões de gênero faz uns três anos (pelo o que fiquei sabendo)... |
| | | Convidado Convidado
| Assunto: Re: Laerte - um estudo sobre identidade de gênero 7/1/2014, 11:03 | |
| Encontrei essa matéria para complementar nosso estudo/pensamento sobre identidade de gênero. Apesar da matéria não estar exatamente relacionada e sem expressar uma análise, acho que poderíamos refletir. http://hypescience.com/foto-mulheres-albanesas-que-viveram-suas-vidas-como-homens/ Lendo a matéria me questionei: Seria aparentemente forçado viver dessa forma só porque elas não tem os mesmos direitos que os homens? Ou inconscientemente elas querem viver assim independentemente de largarem as características que elas naturalmente tinham ou gostavam...? ...ou talvez não gostavam? O texto fala que mesmo com os sacrifícios, elas diziam que valia a pena. Sacrifícios? Será? Se somos mutáveis, adaptáveis e livres (teoricamente!!! imaginação!!! rs), por que será que tratamos a identidade de gênero, assim como as orientações sejam sexuais, assexuais como escolhas para a vida toda? Podem ser perguntas bobas. Mas por que essa necessidade de nos definirmos no infinito das nossas alternativas como algo para sempre? *espero não tem confundido a cabeça de ninguém :flower: |
| | | Turunah Mestre
866 24/06/2011 60 Gênero :
| Assunto: Re: Laerte - um estudo sobre identidade de gênero 7/1/2014, 13:49 | |
| Mas uma coisa pra se refletir também é: quando um assexual se define heterorromântico ou homorromântico ele já está colocando um cadeado em seu coração que impede já de pronto a entrada de metade da humanidade. E nem estamos falando sobre sexo. Se pregássemos o pan-romantismo, o que isto seria de fato? O que é romantismo, afinal? |
| | | kuirbab Mestre Supremo(a)
2217 06/10/2013 34 "Ouça mil vezes, fale uma só" - Provérbio Árabe Gênero :
| Assunto: Re: Laerte - um estudo sobre identidade de gênero 7/1/2014, 16:37 | |
| - Turunah escreveu:
- Mas uma coisa pra se refletir também é: quando um assexual se define heterorromântico ou homorromântico ele já está colocando um cadeado em seu coração que impede já de pronto a entrada de metade da humanidade. E nem estamos falando sobre sexo. Se pregássemos o pan-romantismo, o que isto seria de fato? O que é romantismo, afinal?
Discordo. Não creio que haja um cadeado que impede uma pessoa de gostar de outra. Digo que é semelhante a orientação sexual, sacas? |
| | | Convidado Convidado
| Assunto: Re: Laerte - um estudo sobre identidade de gênero 7/1/2014, 17:56 | |
| Naturalmente acredito que a área romântica da coisa, esteja direcionada a aspectos, preferências, apego de determinadas aparências, ou simplesmente um amor inesperado sem a antiga cogitação de algo além da amizade. O direcionamento dessas características admiráveis podem ser por determinado gênero mas isso não torna o outro menos importante ou desvalorizado. Também não impede a existência de paixão ou o ato de amar o próximo (próximo fica estranho né? rs). Tanto que existem traições mesmo em casais homossexuais quanto em casais heterossexuais. Lembro bem de um filme que não gosto nadica mas trata disso. Chama-se "Minhas mães e meu pai"...Mas é interessante esse novo ponto de vista e a analogia com o cadeado. Adoro esse jogo de opiniões, se é que posso chamar assim, rs. *vocês reparam o quanto é difícil escrever/falar/pensar sobre esses assuntos? Às vezes eu busco mais material, reclamo por não haver tanta coisa, mas gente... é complexo a beça!!! |
| | | Walter Bishop Mestre Supremo(a)
1324 06/05/2013 25 "solidão como situação pode ser corrigida,mas como estado de espirito é uma doença incurável." Gênero :
| Assunto: Re: Laerte - um estudo sobre identidade de gênero 8/4/2014, 15:57 | |
| Ainda n tinha dado muita atenção a esse tópico,mas agora a vê-lo noto que é genial! |
| | | Gensaku Acabei de chegar!
13 29/03/2014
| Assunto: Re: Laerte - um estudo sobre identidade de gênero 8/4/2014, 17:53 | |
| - Turunah escreveu:
- Mas uma coisa pra se refletir também é: quando um assexual se define heterorromântico ou homorromântico ele já está colocando um cadeado em seu coração que impede já de pronto a entrada de metade da humanidade. E nem estamos falando sobre sexo. Se pregássemos o pan-romantismo, o que isto seria de fato? O que é romantismo, afinal?
Concordo, e por isso mesmo me considero panromantica. Nem hetero, nem homo, nem bi. mas Pan. Nem masculino, nem feminino, mas genero fluido. Até porque só o hetero e o homo fecha aos trans (meus preferidos). Você é um homem hetero, gosta de mulher, vai ter preconceito por uma mulher trans não operada por causa da genitália dela, mesmo que o corpo seja totalmente feminino. Não acho certo. A pessoa é muito mais do que os seus genitais. E respeito muito Laerte por estar divulgando assim. Quem dera algum artista influente divulgasse o assexualismo. Ajudaria em muito na visibilidade. |
| | | | Laerte - um estudo sobre identidade de gênero | |
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