Oie!

Que onda, também tenho uma certa sociofobia em algumas circunstâncias específicas. Hoje, depois de descobrir que sou demissexual, percebo que essa sociofobia teve entre seus fatores a dificuldade de encaixar minha experiência nos padrões convencionados na sociedade. O que me faz muitas vezes fugir em situações que me sinto confrontado em relação à minha sexualidade, uma certa aversão no encontro com o outro, quando não me sinto confortável na situação e não tenho um grau de desejo que sinto ser suficiente para dar continuidade. Imagino que isso seja meio bizarro ao olhar das outras pessoas hahahaha mas é a vida.

Minha família materna é de Barbalha, no Cariri cearense, e acabei tendo parte da minha subjetividade construída no contexto do catolicismo extremamente arcaico que domina por lá. Sendo que é engraçado que ao mesmo tempo, por força do destino, fui educado em Recife num ambiente bem libertário e pra frente. Sendo que pra adequar minha experiência sexual aos padrões da sociedade, acabei construindo uma série de crenças como a de que não tenho interesse primário em sexo, ou em ficar por ficar, até por ir contra a questão da objetificação da mulher e por tentar enxergar o humano que existe para além do corpo. Ou outra de que eu nunca ia conseguir terminar um relacionamento por uma questão talvez meio tosca de fidelidade e parceria, mas hoje percebo que tem muito a ver com a intensidade das minhas raras experiências por ser demissexual. Ou a de que a cultura do descarte é uma coisa individualista estranha, e etc. Enfim acho que eu repudiava de certa maneira toda o contexto de liberação sexual em que me desenvolvi (nasci em 1990). Várias vezes acreditava que se tivesse nascido antigamente seria mais confortável para mim desenvolver meus desejos, posto que as pessoas se conheciam antes de irem para outras etapas.

Enfim, muita coisa disso, por mais que esteja revestida de coisas que realmente acredito, na verdade eram um certo moralismo para tentar legitimar minha experiência, sendo que rechaçando a dos outros. Acho que a gente tem que ter muito cuidado na comunidade para não ver no nosso jeito de ser uma certa superioridade em relação ao que se passa com os outros. O mundo é lindo, todas as experiências são válidas, só violência que é inválido pra mim, em suas mais diversas maneiras. E é esse contexto de liberação sexual que vem desde a década de 60/70 através da comunidade lgbtqia+ que proporcionou que nossa comunidade se identificasse e nossas subjetividades se desenvolvessem. Hoje em dia eu acho lindo todo esse caldo cultural.

Fiquei muito curioso com essa questão do Amor Autêntico de Simone de Beauvoir. Onde você entrou em contato? Por vezes sinto falta de ler coisas que abarquem essas questões da sexualidade, e não existem muitas fontes mais específicas sobre a assexualidade, então abrir esse campo de visão pode ser bem interessante, como sinto em minhas incursões intelectuais em torno da não-monogamia. Fiquei interessado.

E essa questão do rótulo para nós, acho que eles servem mais para legitimar a diversidade de subjetividades que existe na comunidade assexual. São tantos pormenores que no fim das contas somos todos únicos, mas ler sobre a experiência alheia pode ajudar a nos descobrirmos, queira nos identificamos ou não. Inclusive acho que esse destrinchamento dos sentimentos é uma grande contribuição da comunidade assexual para o mundo.

Um grande abraço pra ti, e avante!

Stella! escreveu:

Olá, eu sou nova aqui e achei muito interessante encontrar um lugar que eu possa falar sobre como me sinto e ter pessoas que experienciam coisas parecidas.Eu só descobri que não era allo ano passado ao ler uma thread no Twitter sobre diferentes sexualidades. Foi um momento de epifania eu perceber que nunca tinha tido atração sexual por ninguém antes, eu já "gostei" de algumas pessoas, entretanto nunca pensei/me imaginei tendo algo sexual com elas e nunca desejei.
Como eu cresci em igreja evangélica, transar depois do casamento nunca me pareceu nada demais, pois eu não conseguia entender o que levava as pessoas a transarem primeiramente. Para mim sempre foi muito fácil manter a castidade, tanto que como eu disse anteriormente, eu nunca nem pensei em fazer sexo. Todas as pessoas que eu senti algo, eu categorizei como atração sensorial e intelectual: gosto muito de ter contato físico (abraços, mãos dadas, beijo), mas é só até aí mesmo, qualquer avanço sexual me deixa desconfortável.
Eu gostei de um menino em 2018 porque ele também era da mesma religião que eu, mas a gente nunca conversou direito e eu só queria conhecê-lo. Posso dizer que tudo que eu já quis com as pessoas foi algo "puro". 
Eu me considero demissexual, pois acho que se eu terei atração sexual por quem eu realmente tenha um relacionamento concreto. Contudo, eu acho muito difícil sentir atração romântica, gosto de defini-la como "vontade de ter um relacionamento/compromisso com alguém", eu simplesmente sinto uma "preguiça" de me envolver com alguém e dos costumes considerados românticos pela sociedade. Não gosto do romance em si, do sentimento possessivo transmitido por trás disso.
Eu gosto da versão do amor da Simone de Beauvoir que se chama Amor Autêntico: o amor acontece entre duas pessoas livres para irem ou ficarem, ou seja, um amor independente da outra pessoa. Eu gosto dessa definição e é o que quero no futuro. Para mim, qualquer relacionamento tem que ser fundado na amizade, nada de aproximação por qualquer outro interesse.
Entretanto, eu ainda me pego me invalidando e achando que talvez eu não seja nada disso que eu falei, que eu estou me entendendo errado. Às vezes é estranho se colocar num "rótulo", mas em todo momento estamos fazendo isso, afinal, allo é um termo também (que eles nem sabem que existe). Enfim, eu só queria desabafar sobre isso com pessoas que possam me entender e ajudar a realmente me compreender como uma pessoa no espectro assexual. 
Eu gosto muito de ler, assistir animes/séries/doramas e atualmente estou me preparando para o inferno, ops, Enem*. Qualquer pessoa pode me mandar uma mensagem privada. Eu tenho um grau de fobia social, então escrever isso aqui tá me demandando muita força de energia, então obrigada pela sua leitura e possível resposta!

Seja bem vinda.
Bons estudo para o ENEM e fique a vontade para desabafar e perguntar qualquer coisa.

Estou tentando me entender. Sou virgem e sou sozinho amorosamente e já tenho 55 anos de idade. Tenho interesse em me relacionar com mulheres mas quando o assunto é sexo eu recuo. Sempre recusei. Nunca consegui ter um relacionamento amoroso duradouro com uma mulher. Nunca consegui ter uma relação sexual com uma mulher apesar de ter tentado por oito vezes em toda a minha vida. Fui até médicos fiz exames sexuais e todos os exames deram normais. Sinto impulsos sexuais mas não tomo a iniciativa em conhecer uma mulher. Atração por homens eu não tenho. Ereção peniana também não tenho de forma espontânea. Eu não sei o que pensar dessa situação toda. Fico confuso. Sinto muita falta de uma companhia amorosa. Mas a minha vida toda fui e sou um homem sozinho amorosamente e sexualmente falando.