Temos que nos reafirmar todos os dias

Então gente, faz um tempo que não posto nada aqui, mais desde que me descobri no termo Ace as coisas tem sido loucas para mim, em nenhum momento me senti mal me descobrindo, pelo contrário me senti muito bem e feliz em ser ace, assexual é algo que sempre fui, só não sabia como se chamava, mais enfim apesar de estar tão tranquila com isso, não me importei em falar para algumas pessoas que sou Ace, algumas me surpreenderam de forma positiva, mais claro de forma negativa a maioria, só que tem pessoas que são mais sutis, e eu relevei na boa, só que ontem foi a primeira vez que realmente me senti mal, agoniada e incomodada, começando com a ignorância da pessoa que no momento que eu disse que era assexual fez piada dizendo se eu não tinha "pênis ou vagina", na hora já disse que não gostei , a pessoa riu e continuou dizendo que eu deveria procurar um médico, que tenho que me curar, ou até mesmo ir no psicólogo, e me perguntou várias vezes se passei por algum trauma, senti na pessoa que ela acreditava que eu teria sido abusada sexualmente, e isso tudo me afetou e muito, tentei até mesmo cortar o assunto inúmeras vezes e dizer que eu nem deveria ter tocado no assunto, mais a pessoa insistia em continuar, bom passei pra dizer que foi meu primeiro dia mais dolorido nessa vida de Ace, que os dias tem sido cada vez mais solitários, acho que são dias longas para os assexuais.

Eu passei por situações bem parecidas também... Realmente, assim como você disse, eu também fiquei feliz em descobrir, porque é algo que sempre acreditei mas não sabia como dizer sobre aquilo, sempre dizia "Não quero me casar, ter filhos ou namorar", saber que isso tinha um nome foi muito bom, e eu falei para algumas pessoas mas a maioria foram para comentários negativos ou faziam piadinhas de mau gosto, eu não imaginava que seria essa a reação das pessoas, só algumas pessoas me aceitaram.

Quer dizer, quando eu falo "Não quero casar ou ter filhos" as pessoas falam que vou mudar de ideia, que não achei a pessoa certa, que vou me apaixonar um dia, mas quando digo que não quero nem namorar, ai pronto, um mar de comentários sem noção me derrubam, essas coisas realmente me incomodam também, é difícil mesmo ser Ace num momento/lugar que valoriza tanto o relacionamento amoroso, para eles isso é meio que essencial para sua vida, me arrisco até em dizer que uns 95% pensam assim.

Oque mais me assusta são as crianças, até elas fazem/pensam em fazer... você sabe oque (não gosto nem de mencionar a palavra). Minha prima de 12 anos já se relacionou com mais de 15 garotos (até com de 18 anos), e só não aconteceu nada porque toma anticoncepcional. Quando ela veio aqui em casa, deixei ela jogar um jogo na Steam, e ela fez uma piada que não entendi na hora, só no dia seguinte que comecei a pensar na piada que ela fez que fui perceber que era uma piada suja, como que uma criança pode fazer esses tipos de coisas? Com 12 anos eu ficava assistindo MLP ainda.

Lamento que algo tão revoltante tenha acontecido, Yar!

É duro confiar em uma pessoa e ser traído dessa forma. A solução é tentar selecionar as pessoas para quem vai contar sobre a assexualidade, embora seja difícil prever a reação de cada um. Seja como for, ajuda estar preparada para reações desse nível, de forma que não te abale/prejudique demais.

Fique bem.

Queria pedir licença e acrescentar um depoimento à discussão, só para confirmar que acho que isso realmente acontece com muitos de nós em pelo menos algum momento:
Recentemente fui ao médico levar os resultados de um check-up, só pra confirmar q minha saúde tá toda ok. Esse médico é um fofo, não tenho nada contra ele, inclusive cuida da minha família toda há anos. Ele é tipo, "médico da família", e o objetivo profissional dele, digamos assim, é focar a prevenção, te orientar a estar com a vida de boa, inclusive emocionalmente, pra evitar que você desenvolva doenças mais pra frente. Ele sempre bate no ponto de alimentação, atividades físicas, coisas assim. Contexto dado, o que aconteceu: toda vez ele pergunta "como estão os namoros", "e atividade sexual, como está" e coisas do gênero. Sou sempre muito pontual, mas acho que dessa vez ele cansou de eu sempre dar respostas negativas e perguntou por que eu nunca tinha namorado e se eu pretendia fazer sexo algum dia. Dei um grande suspiro e disse que fazia parte da parcela da sociedade que não ligava muito para isso (sem dar nome aos bois). O que se seguiu foi um longo discurso sobre a importância de relacionamentos amorosos (inclusive o ato de levar um fora e sofrer por amor) e sexuais e uma insistência sobre qual seria o meu "problema" (medo? algo psicológico? algo q aconteceu no passado? o que eu pretendia fazer no futuro?). Ele só sossegou (mais ou menos) quando eu disse que não era "uma porta fechada na minha vida" mas estava focando em outras coisas no momento (ainda assim ele disse q não era uma coisa ou outra - óbvio, né? só falei isso para ele me deixar quieta). Bem, sei que ele não fez por mal e que estava preocupado, a partir da visão dele de mundo, mas é como você falou, "temos que nos reafirmar todos os dias".
Tenho que fazer também a revisão dos exames ginecológicos, e é sempre uma dor de cabeça e um incômodo enorme todos os olhares julgadores tanto da médica quanto dos profissionais no local de exames ¬¬ (Mas não dá pra descuidar da saúde por conta disso)

Eu também já passei por isso. A nossa sociedade é muito chata nesse quesito de sexualidade, (além de super atrasada e normativa). Lembro de uma vez estar num grupo de colegas e eles estarem conversando sobre sexo e tal, e eu fui contar algumas das minhas experiências e aí logo fui julgado, além de suporem que eu não era capaz daquilo, pois nunca tinha sido visto com alguém. Isso me deixou mal por um tempo. Porque, parece que pra sociedade se você não é visto namorando ou não é sexualmente ativo, você tem sérios problemas. E isso foi antes de eu saber o que era assexualidade e nem imaginava que eu era, então foi um golpe, por eu ainda tentava me encaixar no grupo dos alos (sem sucesso é claro), e me julguei e culpei demais por ser diferente. Hoje que já sei quem eu sou, que estou na busca de auto conhecimento constante, se numa roda de conversar o assunto for esse eu nem participo ou me retiro. Não preciso passar por isso e nem sou obrigado rs