Nush, seu questionário é simplesmente excelente. Poderíamos problematizar essa "descoberta", falar de uma noção naturalista/essencialista da assexulidade. Mas eu vejo a questão aqui de outra forma.
Muito provavelmente quase todos dirão basicamente que sempre souberam mais ou menos que não eram "normais", mas numa determinada data acabaram descobrindo a comunidade, ou mesmo aceitando-se mesmo sem o conhecimento de um termo, etc. É nesse ponto que estou falando.
Essa ideia de ser monge (ou de qualquer ordem religiosa/mística que não permita - ou simplesmente não OBRIGUE, um comportamento sexual, contatos sexuais, o que for) é recorrente... a Jâmily que o diga! kkk
Assexuais lidam muito com um problema espacial... mas não geográfico. Um problema de grupos, de LOCALIZAÇÕES: "qual é o meu lugar?". Estamos numa busca (quase que) compulsória por nossos "espaços", e eu diria até que na verdade estamos tentando entender quem somos. E sobre isso é interessante observar a sinceridade, ou honestidade, a qual os assexuais são impelidos a praticar - assim como acontece em outros grupos "problemáticos". O que leva algumas pessoas a conclusões erradas (ou menos fundadas). Como que somos mais depressivos, sozinhos, não entendemos nosso sexo, não sabemos fazer relacionamento (uns querem ninguém, outros querem todo mundo, e outros só querem quem veste camisa rosa, sem custura, com linha brancas e usa cartola... roxa).
De fato estamos longe da normalidade... e acredito que o sentimento comum é de um movimento CENTRÍFUGO. Temos um núcleo, que identificamos como O Normal... mas estamos freneticamente nos afastando dele.
- Mas quase todos devem estar passando por isso, não? Os assexuais não são os únicos afetados pelas desconstruções sociais, culturais, etc. De fato... mas somos os únicos que não apenas sentem-se afastar, mas somos agressivamente expulsos de um ambiente ao qual nem ao menos entramos, somos barrados. Não de dentro para fora, mas de FORA para dentro.
Os assexuais, na minha opinião, estão no núcleo problemático de uma situação muito mais complexa. O sexo é a maior instituição social existente. Perdendo apenas para algo mais essencial, como a linguagem. Ele está estruturado profundamente nas relações sociais, em níveis de parentesco, conjugalidade, relações sociais "secundárias", esquemas políticos, ordem trabalhistas e produtivas, na auto-afirmação do indivíduo enquanto tal (humano, brasileiro, gente, vivo, e no complexo de toda a identidade).
O problema é que essa desconstrução, esse afastamento de um núcleo de poder concentrado, inalterado, ditatorial, etc. está nisso... não temos uma re-formulação, re-construação, etc. Isso é absurdamente fácil de perceber quando olhamos para nossa própria experiência de auto-afirmação da assexualidade.
Estamos o tempo todo percebemos que não precisamos disso, não sentimos falta daquilo, que não sentimos aquilo outro, etc. Legal... e aí? Como fica? Alguns partem para um radicalismo ortodoxo ao ponto de dizer não querer-sentir-pensar em qualquer coisa "normal" dentro da daquilo que chamamos de "sexualidade"... e como sexo é vida.... isso é quase tudo! Para os demais resta a experiência sufocante de uma "vida caótica". Cadê as regras? Cadê os padrões, os modos, as maneiras, as curcas, os caminhos? Cadê tudo isso?
O que pode parecer uma simples questão teórica na prática é até simples: a completa falta de sentido.
Ora, também não acredito que os "normais" - ou como poderíamos chamar: o fieis seguidores da normalidade compulsória - estão numa situação muito diferente. Talvez eles apenas trabalhem duas vezes mais para re-afirmar freneticamente todos os valores que sustentam a normalidade neles.
Eu acho engraçado quando surgem termos como "demissexuais" que parecem são bonitinhos, inclusivos, respeitosos, abertos, etc. Mas na verdade escondem apenas uma condição perfeita, que nunca falha para o encontro da normalidade. Bem... sobre isso eu estou devendo um post já faz algum tempo, vou tentar escrever hoje. O que você pensa sobre os demissexuais, gray-a, etc. Nush? Você deve ter lido, ouvido, e conversado bastante sobre isso na AVEN. Coisa que eu não tenho paciência de fazer. Qual sua opinião?
Muito provavelmente quase todos dirão basicamente que sempre souberam mais ou menos que não eram "normais", mas numa determinada data acabaram descobrindo a comunidade, ou mesmo aceitando-se mesmo sem o conhecimento de um termo, etc. É nesse ponto que estou falando.
Essa ideia de ser monge (ou de qualquer ordem religiosa/mística que não permita - ou simplesmente não OBRIGUE, um comportamento sexual, contatos sexuais, o que for) é recorrente... a Jâmily que o diga! kkk
Assexuais lidam muito com um problema espacial... mas não geográfico. Um problema de grupos, de LOCALIZAÇÕES: "qual é o meu lugar?". Estamos numa busca (quase que) compulsória por nossos "espaços", e eu diria até que na verdade estamos tentando entender quem somos. E sobre isso é interessante observar a sinceridade, ou honestidade, a qual os assexuais são impelidos a praticar - assim como acontece em outros grupos "problemáticos". O que leva algumas pessoas a conclusões erradas (ou menos fundadas). Como que somos mais depressivos, sozinhos, não entendemos nosso sexo, não sabemos fazer relacionamento (uns querem ninguém, outros querem todo mundo, e outros só querem quem veste camisa rosa, sem custura, com linha brancas e usa cartola... roxa).
De fato estamos longe da normalidade... e acredito que o sentimento comum é de um movimento CENTRÍFUGO. Temos um núcleo, que identificamos como O Normal... mas estamos freneticamente nos afastando dele.
- Mas quase todos devem estar passando por isso, não? Os assexuais não são os únicos afetados pelas desconstruções sociais, culturais, etc. De fato... mas somos os únicos que não apenas sentem-se afastar, mas somos agressivamente expulsos de um ambiente ao qual nem ao menos entramos, somos barrados. Não de dentro para fora, mas de FORA para dentro.
Os assexuais, na minha opinião, estão no núcleo problemático de uma situação muito mais complexa. O sexo é a maior instituição social existente. Perdendo apenas para algo mais essencial, como a linguagem. Ele está estruturado profundamente nas relações sociais, em níveis de parentesco, conjugalidade, relações sociais "secundárias", esquemas políticos, ordem trabalhistas e produtivas, na auto-afirmação do indivíduo enquanto tal (humano, brasileiro, gente, vivo, e no complexo de toda a identidade).
O problema é que essa desconstrução, esse afastamento de um núcleo de poder concentrado, inalterado, ditatorial, etc. está nisso... não temos uma re-formulação, re-construação, etc. Isso é absurdamente fácil de perceber quando olhamos para nossa própria experiência de auto-afirmação da assexualidade.
Estamos o tempo todo percebemos que não precisamos disso, não sentimos falta daquilo, que não sentimos aquilo outro, etc. Legal... e aí? Como fica? Alguns partem para um radicalismo ortodoxo ao ponto de dizer não querer-sentir-pensar em qualquer coisa "normal" dentro da daquilo que chamamos de "sexualidade"... e como sexo é vida.... isso é quase tudo! Para os demais resta a experiência sufocante de uma "vida caótica". Cadê as regras? Cadê os padrões, os modos, as maneiras, as curcas, os caminhos? Cadê tudo isso?
O que pode parecer uma simples questão teórica na prática é até simples: a completa falta de sentido.
Ora, também não acredito que os "normais" - ou como poderíamos chamar: o fieis seguidores da normalidade compulsória - estão numa situação muito diferente. Talvez eles apenas trabalhem duas vezes mais para re-afirmar freneticamente todos os valores que sustentam a normalidade neles.
Eu acho engraçado quando surgem termos como "demissexuais" que parecem são bonitinhos, inclusivos, respeitosos, abertos, etc. Mas na verdade escondem apenas uma condição perfeita, que nunca falha para o encontro da normalidade. Bem... sobre isso eu estou devendo um post já faz algum tempo, vou tentar escrever hoje. O que você pensa sobre os demissexuais, gray-a, etc. Nush? Você deve ter lido, ouvido, e conversado bastante sobre isso na AVEN. Coisa que eu não tenho paciência de fazer. Qual sua opinião?