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Boa tarde, prezados,

Sinto-me razoavelmente confortável em postar sobre a minha vida aqui, já que é um espaço semi-anônimo (quem me conhece pessoalmente certamente me reconheceria pelos meus trejeitos e modo de escrever).

Oi, eu sou o Gui! Eu tenho 27 anos e sou de Blumenau / SC. Acho melhor não dizer a minha profissão e área de estudo, pois essas informações me deixariam facilmente identificável. Como diz no meu perfil, eu gosto de futebol europeu, de andar de bicicleta e de ouvir música de qualidade. Apesar dos gostos, parece que uma parte significativa da minha personalidade é radicada no que eu não gosto e não quero - não acredito em Deus, não planejo ter filhos, não gosto de locais com muita gente e muito barulho, não cobiço dinheiro e poder. Adicionando a essa lista, ao que parece, eu também não gosto de sexo. Essa classificação ainda é passível de mudança, já que abraçar o rótulo de assexual é algo recentíssimo pra mim. Porém, tudo indica que eu posso ser, no máximo, um demissexual, o que cai no espectro de assexualidade, de qualquer forma.

Já tive algumas experiências que até pessoas alossexuais considerariam especialmente picantes. Já tentei visitar um prostíbulo e transar com prostitutas. Já tentei transar com outro homem, fazendo papel passivo. Já saí com um casal homem-mulher e comemos a esposa em dois, eu e o marido ao mesmo tempo. Já passei uma noite sendo pisoteado por uma domme sádica. Em todas as vezes, a realidade da situação nunca fez jus às fantasias que eu tinha. Parece que, quando na presença de outra pessoa, o que há de sexual em mim desliga. Só eu mesmo consigo me dar prazer.

Então, com a informação de que literalmente nenhum encontro sexual na minha vida toda me satisfez, e após alguma reflexão em sessões de terapia, cheguei eu a essa comunidade.

Some-se isso a outros problemas de ordem social e relacional, e cria-se a tempestade perfeita para que eu me tornasse uma pessoa extremamente isolada. Discuto na terapia a possibilidade de eu sofrer de estresse pós-traumático complexo (CPTSD, na sigla em inglês), por conta da dinâmica familiar infernal construída pelos meus pais ao longo dos meus anos formativos. Enquanto os outros jovens estavam lá fora experimentando o mundo, fazendo amigos, namorando, cometendo erros - essas coisas normais que adolescentes fazem - eu estava dentro do meu quatro, jogando videogame, pois era isso que me restava como escapismo. Eu sinto que não aprendi a socializar direito. É quase como se existisse um protocolo de comunicação humana, extremamente complexo e cheio de nuances, que não está detalhado por escrito em lugar nenhum, que todo mundo conhece de trás pra frente mas ninguém me ensina, e eu simplesmente não aprendi. Até hoje eu me sinto um pouco menos humano por causa disso.

Ainda, tive o drama de ficar extremamente pobre logo no início da minha vida adulta. A falta de recursos materiais dificulta sobremaneira o estabelecimento de vínculos com outras pessoas. Morando de favor, passando por longos períodos de desemprego, usando cada centavo que eu ganhava para obter o mínimo necessário pra sobreviver e para pagar dívidas... Nessa nossa sociedade pautada em consumo, é difícil conhecer pessoas novas quando não se tem nem R$10,00 pra comprar um dogão prensado na esquina. Mulheres não gostam de homens pobres.

Toda essa problemática me fez uma pessoa intensamente odiosa. Radicalizei-me em fóruns da internet e comecei a defender algumas ideias que, hoje, considero desprezíveis.

Felizmente, posso dizer com muita convicção que tudo isso ficou pra trás. Hoje tenho um bom emprego que me proporciona conforto e estabilidade financeira. Cortei do meu convívio pessoas que me faziam mal. Adotei um estilo de vida mais saudável, de corpo e de mente. Anos de terapia e trabalho incessante em mim mesmo me fizeram uma pessoa... menos pior? sorrindo

E agora, depois de várias barreiras vencidas na vida, sinto que tenho o tempo e a energia para dedicar a uma autodescoberta mais aprofundada de mim mesmo.

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Eu sinto que não aprendi a socializar direito. É quase como se existisse um protocolo de comunicação humana, extremamente complexo e cheio de nuances, que não está detalhado por escrito em lugar nenhum, que todo mundo conhece de trás pra frente mas ninguém me ensina, e eu simplesmente não aprendi.


Nossa! Várias vezes me senti assim! Eu tive uma infância mais solitária, mas nada traumático, na verdade sempre fui uma pessoa sociável, mas quanto mais convivia com as pessoas, mais sentia que eu simplesmente não sabia lidar. Fui aprendendo aos poucos coisas bobas que pra todo mundo é normal, como dar "oi", abraçar, dar elogios... E a parte sexual é uma dessas coisas, mas que não "aprendi" até hoje hahaha Fui aprendendo (a parte não sexual) que até me perdi nessas regras e agora to me redescobrindo e voltando às origens de me respeitar antes de respeitar as tais normas sociais. Muito doido, isso né?

Fico feliz que as coisas tenham melhorado por ai! Parece que realmente passou por um período difícil! Se conhecer não é lá uma coisa fácil, massssss é um passo muito importante, né? Seja bem-vindo!

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Então, Gui!
Muito do que você disse eu teria dito. Também experimentei coisas esquisitas, tentando "encostar meu ombro na roda" (verso do Guinsberg) e também me tornei vil, mas depois melhorei como gente.
Da mesma forma, passei anos sem ter 10 reais também para comprar um hot-dog. Por outro lado, conheci garotas e rapazes que se interessam sim, por caras pé-rapados! Mas o problema é encontrar quem goste de Aces.

Mas, é assim! Existe uma coisa chamada Controle Social (já devo ter dito isso aqui, porque sempre digo isso) e existe uma coisa chamada Personalidade. Estou lançando mão de Sociologia e Antropologia, em conjunto mas não vou esmiuçar, porque esmiuçar as coisas nos torna chatos e quase ninguém gosta de chatos também!
Na noção de Personalidade, você tem o desviante, que prova que o processo de Socialização não é perfeito e aí entra o Controle Social: para punir a conduta desviante.
No seu caso - que na verdade seria também o meu caso - você desvia demais do normal. É muito um ponto fora da curva. Mas aí vem aquele paradoxo que envolve a volição - e é algo que o Sartre devia ter levado em conta -: se você escolhesse ser desviante, poderia desistir de ser e pronto! Claro que se imagina que o indivíduo de Personalidade é aquele cuja vontade é mais intensa do que os totalmente adaptados. Mas essa ideia é resultado duma metafísica iluminista, segundo a qual todos somos iguais e plenos em termos de razão e as emoções são um tipo de defeito.
Só que não! Por isso o desviante não tem tanta escolha assim. Então, ele sofre o Controle Social, tentando ajustá-lo de fora, mas, sofre também por dentro, com essas perguntas que gente como nós fica lançando no espelho.
Ou seja, é pressão de fora e pressão de dentro. Dá até pra enlouquecer, ou se suicidar. Mas não é mole não!

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Oi, Gui, tudo bom?
Li seu relato, você descreve teve pouco interesse nas relações sexuais em si apesar de fantasiar sobre elas. Eu acredito que só pelo fato de você ter tido essas relações demonstra que no trato social você sabe se virar, e que sua questão tem mais a ver com o que você quer e sente. Porque no meu ver, pra você conseguir fazer um threesome o mínimo é você ter habilidades de comunicação, né? Não só pra saber com a situação em si na hora H mas também pra até chegar a ter essa oportunidade de fazer esse rolé ai. Mas sei lá né, a terapia que dever te levar a entender isso ai. De qualquer forma, parabéns pela sua volta por cima e bem vindo ao fórum!

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Boa noite a todos, e obrigado por tirarem um tempo pra ler o meu post!

daikiri escreveu:
Eu acredito que só pelo fato de você ter tido essas relações demonstra que no trato social você sabe se virar, e que sua questão tem mais a ver com o que você quer e sente. Porque no meu ver, pra você conseguir fazer um threesome o mínimo é você ter habilidades de comunicação, né?


Olha, na verdade... eu fui nos classificados aqui da minha cidade, tinha um casal procurando um cara pra realizar a fantasia deles, e eu só respondi o anúncio. Foi bem mais, digamos, transacional do que fruto da minha lábia sorrindo Na verdade, dá pra dizer que eu me senti meio usado por eles, muito embora eu tenha participado por vontade própria.

E o mais importante, eu não sei se eu tentaria algo tão fora do meu comportamento usual (e tão arriscado, diga-se de passagem) se eu tivesse a capacidade de ter relações "normais", i.e. uma namorada comum com quem eu pudesse experimentar sexualmente.

Quanto a me virar, hoje consigo, sim... mas essa capacidade, ainda insipiente, levou tempo pra ser desenvolvida. Eu fui perder a virgindade com quase 25 anos. Nessa mesma época, fiz um esforço enorme pra construir um círculo de amizades, que depois se esfarelou. Não sou totalmente incapaz nesse quesito, mas é que neurodivergente como eu sou, essas coisas me são difíceis.

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Bem-vindo. fatia de bolo

Embora esteja longe de ser regra, muitos aces compartilham da dificuldade de socialização. Cada um com a sua história e peculiaridades, mas quase sempre acompanhados da sensação de estar deslocado. Creio que seu relato fará com que muitos se reconheçam em determinados trechos.


"Se você ficar sozinho, pega a solidão e dança" (Três Dias, Marcelo Camelo)


https://www.assexualidade.com.br/

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Dominic escreveu:
Eu sinto que não aprendi a socializar direito. É quase como se existisse um protocolo de comunicação humana, extremamente complexo e cheio de nuances, que não está detalhado por escrito em lugar nenhum, que todo mundo conhece de trás pra frente mas ninguém me ensina, e eu simplesmente não aprendi.


Nossa! Várias vezes me senti assim! Eu tive uma infância mais solitária, mas nada traumático, na verdade sempre fui uma pessoa sociável, mas quanto mais convivia com as pessoas, mais sentia que eu simplesmente não sabia lidar. Fui aprendendo aos poucos coisas bobas que pra todo mundo é normal, como dar "oi", abraçar, dar elogios... E a parte sexual é uma dessas coisas, mas que não "aprendi" até hoje hahaha Fui aprendendo (a parte não sexual) que até me perdi nessas regras e agora to me redescobrindo e voltando às origens de me respeitar antes de respeitar as tais normas sociais.  Muito doido, isso né?

Fico feliz que as coisas tenham melhorado por ai! Parece que realmente passou por um período difícil! Se conhecer não é lá uma coisa fácil, massssss é um passo muito importante, né? Seja bem-vindo!


Nossa, tbm sou assim. Na internet, ou conversando por textos eu até consigo desenvolver bem. Mas pessoalmente sou totalmente socialmente estranho. E é uma coisa incomoda, pq eu não consigo descobrir o que é, e nem desenvolver essa habilidade que quase todo mundo tem! Dá um certo alivio saber que existem outras pessoas que passam ou passaram por situações sociais estranhas. Sei lá, é como se fosse uma inadequação mesmo.

Mas assim, bem vindo a comunidade Gui! feliz

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Gui escreveu:
Eu sinto que não aprendi a socializar direito. É quase como se existisse um protocolo de comunicação humana, extremamente complexo e cheio de nuances, que não está detalhado por escrito em lugar nenhum, que todo mundo conhece de trás pra frente mas ninguém me ensina, e eu simplesmente não aprendi. Até hoje eu me sinto um pouco menos humano por causa disso.



Sei exatamente como é. Parece que existem regras tácitas de socialização, padrões de comunicação e comportamento que devemos seguir para que possamos participar do jogo. Eu simplesmente nunca me encaixei nessa brincadeira. Lembro da preocupação da minha mãe comigo, quando eu, adolescente, só vivia enfurnada no quarto lendo meus livros, sem demonstrar qualquer interesse em contato social. E eu me sentia muito bem assim, a ansiedade das pessoas no meu entorno, e que achavam que tinha alguma coisa errada comigo, é que me incomodava. Com o tempo e, principalmente, respeitando o meu tempo, o meu ritmo interno, fui equacionando essa questão. Considero-me hoje uma pessoal sociável sim, mas dentro de certas peculiaridades. Moro sozinha e AMO morar sozinha! Tenho um bom círculo de amigos, poucos, mas bons amigos, gosto de estar com eles, mas não abro mão dos meus preciosos momentos de solidão. De vez em quando eu fico com preguiça de gente, aí me dou o direito de me recolher. Ficar quietinha no meu canto. Tem um livro que me ajudou bastante a entender sobre minha introversão: "O Poder dos Quietos" da autora Susan Cain. É uma ótima leitura ... piscando fatia de bolo

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Seja bem-vindo, Gui sorrindo bolo bolo

Gostei do seu relato, me identifiquei um pouco em algumas partes.
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