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 Algumas proposições minhas para pensar a assexualidade

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MensagemAssunto: Algumas proposições minhas para pensar a assexualidade   Algumas proposições minhas para pensar a assexualidade Empty29/3/2015, 23:04

Olá Pessoal. Como passei um bom tempo sem postar aqui, e o blog não existe mais (talvez eu faça o backup em algum momento), é bom reciclar e expor algumas das minhas ideias fundamentais que de alguma forma estruturam meu trabalho.


1. Quanto à definição de assexualidade
A AVEN adotou uma definição problemática para assexualidade "falta de atração sexual por outras pessoas". É problemático pq não existe uma definição do que vem a ser "atração sexual", até onde sei não foi algo tipificado por qualquer ciência. Logo estamos trabalhando com algum termo obscuro e com uma boa margem de interpretação. Mesmo tendo diversas críticas à essa definição, é justamente por seu aspecto amorfo, ela permite manter a assexualidade um campo aberto, não hermeticamente fechado, e talvez pouco contraditório. Posso explicar isso usando como exemplo a definição que está no topo do fórum: "assexual é a pessoa que não sente interesse na prática sexual com outra pessoa".

Ora, posso sentir profundo interesse na prática sexual com outra pessoa! Posso até mesmo, sendo assexual, gostar de sexo! Assim como um gay pode querer fazer sexo com uma mulher e gostar de ter transado com ela. Mesmo utilizando esses tipos fixos, ainda dá pra entender que há uma dimensão superior à "material" que concebe nossa identidade sexual!

Posso ter interesse em transar com uma garota porque quero impressioná-la, posso ter interesse em transar com um garoto pq quero saber como é a experiência de fazer sexo com alguem do meu sexo, posso querer fazer sexo para me exibir para meus amigos, posso querer fazer sexo porque quero suprir algum complexo subjetivo que não consigo superior (algo bastante comum!), e até mesmo... fazer sexo porque gosto das diversas sensações envolvidas no processo.

As pessoas têm basicamente 3 formas de reagir nesse contexto.
a. Ou elas se propõe naturalmente a gostar daquilo que estão fazendo (simplesmente pq a normatividade impõe assim),
b. Ou se propõe a NÃO gostar, algo que é muito recorrente aos assexuais, infelizmente.
c. Elas não sabem como interpretar aquele momento à priori e por isso dependerá de toda "sinergia" do momento para informá-las afetivamente... entre os assexuais, isso pode resultar numa indiferença ou mesmo algum desconforto, neutralidade ou uma apreciação (por diversos motivos).

Claro que, ao se apreciar a relação sexual em si, a questão da identidade, etc. geralmente perde seu sentido de problematização. Essas pessoas se sentem assimiladas pela sociedade e geralmente não se preocupam com essa questão - se sentem "normais". O que pra mim não significa problema algum, o mesmo "fenômeno" acontece com gays, lésbicas, etc.


2. Quanto à concepção de assexualidade
Para fins didáticos trabalho com a assexualidade como algo em si, simplesmente pq uma concepção de sexualidade fluida, onde os termos possuem significação meramente referencial, ainda é algo muito pouco assimilado pelo senso comum. Isso tem aspectos positivos e negativos. É positivo no sentido que proporciona a maioria das pessoas, hoje, um referencial, uma identidade, uma forma de se relacionar e identificar outros. É negativo no sentido de que por ser uma concepção "fechada" ela não alcança todos limites e isso gerará algumas complicações, etc. mas no momento isso é contornável.

3. Quanto às "variações" de assexualidade
Essas variações como "demissexual", entre outros, servem mais ou menos com o mesmo propósito da assexualidade. Seu único diferencial talvez seja subexistir dentro da comunidade assexual. Particularmente, não procuro evidenciar essas "variações" simplesmente pq, como falei anteriormente, por não adotarmos um conceito de sexualidade fluida, ficaríamos exaustivamente criando novos termos. E não sinto que esse trabalho valha a pena.

Muitas concepções, inclusive, são redundantes. Outras tentam incorporar algum aspecto sexual. E outras chegam a sugerir absurdos como "ex-assexual" (algo que eu mesmo já achei fazer sentido!).

A busca frenética por definições muitas vezes reflete um estado de inconformidade consigo mesmo, uma certa necessidade existencial de se encontrar. Não tenho observados exemplos positivos disso. Então, somados todos esses fatores, prefiro não utilizar dessas "variações" no meu trabalho.

4. Quanto à variação afetiva da assexualidade

Assim como na questão acima, as pessoas tendem a discutir demais o sexo dos anjos no que tange à relação afetiva. Normalmente de forma binária entre "romântico" e "arromântico". Costumo pensar nessa concepção até como nociva, especialmente para aqueles que querem se definir como "arromântico". Na minha experiência, tenho visto que a apreciação por rótulos induz uma fixação no comportamento, o que geralmente leva a perdas e sofrimento.

A afetividade humana é complexa e variada. Duas pessoas dificilmente terão as mesmas percepções e expressões. Não existe apenas um binário, ou você é ou não é. Existe uma diversidade de formas, sentidos, sentimentos, percepções, concepções, etc. Temos que ter em mente que existe um comportamento "normalizado" que, apesar de nos ser imposto, espontaneamente não o assimilamos completamente. O que podemos afirmar com certeza é que afetividade sempre existirá, o que será mudará será sua expressão.

Sendo assim, há aqueles que não se atraem por beijos, desses alguns gostos de todo contato físico, e outros gostam de contato físico algum! Alguns desses, contudo, adoram afetividade verbal, declarações, presentes, etc. Mas outros preferem manter todo mundo na "friend zone", mas alguns amigos são mais amigos que outros, e assim criam uma forma completamente nova e própria de relação afetiva exclusiva e hierarquizada. Todos irão perceber flutuações nessas expressões e novas assimilações, assim como dissociações. Alguns perceberão que sentem mais vontade de tocar e beijar, e outros poderão perceber que isso em si não tem uma conotação "romântica", mas é algo intrínseco da relação humana que é brutalmente normatizado pelas normas sociais, enquanto outros podem se perceber cada vez mais auto-centrados, mais indiferentes à expressão afetiva dos outros... etc etc etc...

Essas são apenas algumas colocações básicas que eu queria trazer. Quem quiser fazer alguma pergunta, problematizar, etc. fique a vontade.
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MensagemAssunto: Re: Algumas proposições minhas para pensar a assexualidade   Algumas proposições minhas para pensar a assexualidade Empty29/3/2015, 23:25

bem júlio,quanto a definição de assexualidade,acho que ela poderia incorporar várias coisas.Quando vemos uma única palavra no dicionário ela tem vários significados parecidos... Então os conceitos de assexualidade como não sentir atração sexual,não ter interesse em sexo,não ter desejo sexual,etc. são todos válidos,na medida que cada um se identifica com ele,mas creio que todos tem valor (não estou te contestando rsrs apenas completando)
Quanto as outras definições mais especificas dentro da assexualidade (que a tornam uma das sexualidades mais diversas e também uma das mais confusas hahaha) os termos costumam ajudar muito os novatos,e a maioria se desprende deles com algum tempo e maturidade,e o fato de saber que o que você sente existe,tem um nome, não lhe dá uma sensação de 'salto no escuro'.Algumas ainda podem levantar esses rotulos como bandeira (sim,acontece).Acho que depende muito da pessoa,mas se ela gosta da ideia é só direcionar para que isso a liberte e não a prenda.
No geral seu texto está maravilhoso,e é sempre bom relembrar esses tópicos.
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