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descriptionDeu vontade de escrever, leia se quiser :P EmptyDeu vontade de escrever, leia se quiser :P

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Saudações, seres sencientes, possivelmente humanos. Antes de qualquer coisa, isso não é um desabafo triste ou coisa do tipo, pra ser sincera, estava entediada e sem nada pra fazer, vim no fórum fazer uma visita e deu vontade de escrever. Leia quem se interessar, responda quem quiser, eu só preciso postar isso, tanto pra passar o tédio, como pq já faz tempo que queria escrever isso de uma vez, organizadamente, pra colocar em ordem as minhas lembranças. Quanto ao assunto, um resumo (talvez nem tão resumido) da minha vida, quanto à primeira frase ali em cima, é simples, na maioria esmagadora das vezes em q as pessoas se cumprimentam, isso me parece desnecessário, arbitrário e sem sentido, o q me gerou uma repulsa aos cumprimentos tradicionais, mas como é um bom jeito de começar um texto desses, usei o cumprimento mais estranho e inumano q consegui pensar kkkkk. Talvez (e provavelmente) eu passe por umas partes mais tristes (minha vida foi uma m*erda em muitos sentidos, fazer o q), mas a finalidade desse texto é apenas descrever e narrar partes da minha vida, no momento atual estou bem :P Ah, e o tema central não é assexualidade, então muito embora seja uma espécie de desabafo, esse post pode se encaixar melhor na categoria miscelânea, fiquem à vontade para mudar, se for o caso, posto aqui pq apesar de não ser o tema, assexualidade teve um papel crucial na minha breve existência e logo terá uma parte relacionada no texto. Como último aviso, os mais novos podem não saber, mas textões são uma especialidade minha e não tenho vergonha disso, aos corajosos q continuarem daqui (se tiver algum kkkk), vcs foram avisados.
Seguindo em ordem cronológica, minha história começa antes mesmo de eu nascer, não é nenhum conto épico (muito embora pareça com esse início de texto kkkkk), mas teve seus altos e baixos. Antes de eu nascer, meus pais eram pessoas relativamente normais, meu pai tinha 20 anos, tinha largado a escola no segundo ano do médio, trabalhava informalmente por um salário mínimo e morava com a mãe, já minha mãe tinha 14 anos, morava com a mãe e o padrasto, tinha largado a escola no nono ano do fundamental e estava começando a trabalhar. O detalhe é q a família da minha mãe era de traficantes e ladrões, seu pai foi morto a tiros quando ainda era criança e posteriormente seriam mortos seu padrasto e um de seus dois irmãos, o último desapareceu e disseram boatos q foi esquartejado, mas nada confirmado (obs: esse histórico não é incomum, vivendo no Rio de Janeiro, o mais diferente é ela não ter acabado no meio, assassinada de algum jeito ou presa). Ambos não tinham muito dinheiro, e apenas alguns meses depois de se conhecerem, minha mãe já estava grávida.
Meu pai faz o tipo homem cis hetero, q gosta de futebol e só não bebe cerveja pq literalmente não gosta do sabor, tanto q a primeira coisa q ele fez qnd soube q meu DNA era XY foi comprar uma bola, q por sinal tenho até hj, é mais velha q eu. Já minha mãe foi mais pro lado da religião, com seu histórico familiar a empurrando mais e mais para esse lado (por sinal, a mãe dela (minha avó) é uma fanática religiosa q nem minha mãe aguenta, e vez ou outra fica paranóica, achando q tem gente seguindo ela e coisa do tipo). Ambos tem mente fechada e são preconceituosos, de jeitos diferentes, mas um pior q o outro.
Eu, desde q nasci, nunca fui normal, tinha emoções fora de controle, explodia com facilidade, chorava, e qq coisa me deixava traumatizada, minha inteligência sempre foi acima da média e nunca gostei de contato social. A princípio eu tinha uma vida relativamente feliz, muito embora tenha lembranças ruins (como meu pai esfregando o focinho de um gato em uma gaiola de ferro pra ele não comer passarinhos, até hj tenho raiva dele por isso, tanto pelo gato como por prender pássaros silvestres, algo repugnante na minha opinião), sei q era feliz, minha mãe não trabalhava e ficava comigo o dia todo.
Isso durou até meus 3 ou 4 anos de idade, a partir daí, tenho um certo "buraco" na memória, tudo fica embaçado, tenho mais lembranças, mas menos definidas, sem muita ordem do q aconteceu antes e depois, e algumas coisas faltam. Sei q nesse momento nós nos mudamos, sei tbm q foi qnd começou a cobrança para "ser homem" e qnd meu desinteresse social começou a ser notado. Eu não gostava de futebol, tinha medo de atividades físicas, de me machucar, e chorava com facilidade. Me interessava por desenhos, brinquedos e outras coisas "de menina", muito embora eu tbm gostasse de carrinhos e outras coisas. Meu pai, tão suave como uma britadeira, gritava comigo por tudo, perguntava "vc é viado pra gostar de rosa?" e daí pra baixo.
Assustada e acuada, sendo posta contra a parede pelas questões de gênero pela primeira vez, eu cometi um dos maiores erros da minha vida e algo do qual sempre vou me arrepender: reprimi meu "lado feminino". Eu meio que esqueci quem eu realmente era e do q realmente gostava, e "virei homem" como ele tanto queria, ainda não gostava de futebol, mas não assistia coisas femininas, não queria saber de nada q fosse "de menina", odiava rosa e, meu pior crime, odiava meninas. Elas não tinham culpa, eu sei, não fizeram nada comigo, eu sei, mas ainda as odiava. No fundo obscuro, eu tinha inveja, inveja pq elas tinham tudo q eu queria, eu queria ter cabelo comprido, sempre sonhei em ter, desde q sei o que é cabelo, mas o meu não era liso e cabelo cacheado comprido ficaria horrível com a minha aparência masculina, além de q meus pais eram estritamente contra, ao ponto de eu só ter começado a deixar crescer aos fucking 17 anos de idade. Eu gostava das roupas delas, queria poder usar vestido ou saia, mas sabia q além das limitações sociais, existia a física, algo em meu corpo sentiria estranho se usasse uma roupa aberta em baixo. Eu queria andar por aí de rosa, com uma tiara, mas sentia q se o fizesse todos estariam me olhando, rindo e me julgando, mas para elas era tudo tão natural... Eu queria ser como elas, mas não podia, nunca poderia, e além de odiar meu corpo, o qual associei profundamente com a noção de feiura, eu as odiava por terem tudo q eu queria ter desde o nascimento e não darem a mínima.
Passada essa fase, durante meus 6 anos, mais ou menos, a repressão maior foi contra minha natureza instável e explosiva, tanto na escola quanto fora. Naquele ano fui, em termos de comportamento, a pior aluna da turma. Meu hábito era chegar na sala chutando as mochilas alheias, colocadas no chão ao lado das carteiras, usava os materiais alheios como projéteis para acertar outros alunos, e quando a professora tentava me deixar na sala durante o intervalo como castigo, jogava todas as mochilas da sala num canto, chutava, quebrava coisas, outros dias joguei as carteiras pela sala, e em outro molhei o apagador com guaraná, fazendo o q a professora tentava apagar desaparecer por alguns segundos e reaparecer, e etc, até ela desistir. Felizmente não arrumei muitas brigas, todos pareciam ter medo de mim e da minha instabilidade, tudo consequência das minhas emoções naturalmente exageradas e forma de descontar o ódio q sentia por mim e por tudo, ódio q eu nem sabia pq tinha.
Após esse ano, passei mais cinco anos na msm escola, e minha turma quase não mudou. Todos me odiavam, e como resultado, eu odiava todos de volta. Fui sistematicamente excluída, tentaram me transformar em vítima de bullying, mas minha natureza agressiva impediu avanços significativos, mesmo em grupo, tinham receio em se aproximar, e nas poucas vezes q tentaram, não deu certo. Flashback: anos antes, eu já não gostava q tocassem em mim, se adultos colocavam a mão na minha cabeça, eu dava um tapa nela, odiava contato físico. O mesmo se aplicava aos bullies em potencial, podiam falar o que quisessem (a menos que tocassem em algum assunto sensível ou enchessem muuuito meu saco, minha resistência era pequena no começo, mas aumentou gradualmente), mas se me tocassem, a coisa ficava feia, não q eu não soubesse das consequências, sempre soube, mas a questão é q não me importava, estava disposta a bater, espancar, matar se preciso fosse, e isso assustava os outros, a partir de certo ponto eu não tinha mais limites.
Enfim, essa situação foi surpreendentemente confortável para mim, eu não queria contato social, e ninguém queria contato comigo, não fossem alguns idiotas q me enchiam o saco as vezes e alguns outros excluídos sociais q acreditavam q seríamos amigos só por estarmos em uma situação parecida, teria sido relativamente bom. Nesses anos eu me "estabilizei", odiava a humanidade e tudo o que eu queria era explodir o planeta de uma vez, sonhava com isso e me perguntava como seria matar uma pessoa, se um dia eu poderia ser uma serial killer pra descontar todo esse ódio. Meu pai começou a me importunar por eu sempre dizer q odiava meninas e nunca ia casar, parei de dizer, mas o sentimento continuou o mesmo.
Como tudo muda (e esse se tornaria um lema meu), mudei de escola, e minha vida virou de cabeça para baixo. Na minha nova escola, ninguém me conhecia, e foi super estranho todos sendo receptivos em relação à mim (estranho e desagradável, devo dizer). Tive algumas experiências menos negativas com contato social, inclusive com o outro sexo (estava acostumada a meninas q me desprezavam em todos os níveis), e aprendi sobre várias coisas q eu nem imaginava, como feminismo, igualdade de gênero, orientação sexual e etc. (Tive uns professores mais mente aberta, colegas de turma tbm, apesar de ainda não ser tanto) e isso tudo começou a confundir minha cabeça. Nessa época eu já estava começando a entrar naquela fase introspectiva e de autodescoberta q me tornaria um ser completamente diferente, refletia sobre mim, meu passado e meus erros constantemente, e estava caminhando para o ateísmo.
Aos 15 anos, me sentia presa, à rotina, à escola, à família, à sociedade... e mudei de escola mais uma vez. Nesse ano se formariam alguns dos pilares da minha personalidade atual, tive meu primeiro celular (sim, aos 15 anos de idade, em 2014, minha mãe era total e radicalmente contra internet, e meus pais consideravam desnecessário eu ter um celular, também considerei por muito tempo, pra falar a vdd esse veio forçado, eu já tinha recusado antes, digamos q não queria dar motivo pra eles acharem q eu podia andar por aí sozinha, ansiedade brutal), me defini totalmente como ateia, tive o contato com animes q me faria afundar nesse universo, e me arrependi amargamente por tudo q já tinha feito ou pensado contra mulheres em geral. Esse arrependimento já vinha crescendo fazia tempo, mas nesse ano atingiu o ápice, parei de procurar desculpas e admiti para mim mesma tudo q já tinha feito. Fiquei muito tempo me sentindo um monstro, homofobia tbm passou pela minha cabeça, mas foi minha antiga misoginia o q mais doeu, queria morrer por tudo aquilo, e outras condições só pioraram a situação. Já trabalhava e estudava fazia 3 anos, não tinha tempo para absolutamente mais nada, se quisesse usar a internet um pouco, tinha q ficar acordada de madrugada e dormir na escola, o q fazia quase sempre, já q não suportava minha vida nua e crua, e a escola sempre foi um tédio, nada sequer próximo de um desafio jamais surgiu pra mim nesse lugar (por sinal, já aconteceu uma vez de não me verem na sala durante o intervalo, e me trancaram lá, só fui ser acordada na hora da saída, 5 horas e meia depois da entrada kkkkk, e aconteceu várias vezes de ser acordada só pro intervalo e dormir de novo em sequência). Fim de semana era cama o dia todo tbm, ou um misto de cama e internet, muitas vezes dormia direto no sábado e ficava mais na internet no domingo. Meu tédio em relação à escola só crescia, como uma estudante acima da média sem incentivos, a escola sempre foi um pesadelo chato pra mim (assim como os pesadelos de vdd q eu tinha todo dia, sonhava q estava trabalhando e não terminava nunca, nada louco acontecia, só continuava trabalhando e trabalhando... Acordava várias vezes durante a noite, o q somado às outras irregularidades do sono, me deixava sempre cansada e desestimulada, com olheiras, parecendo e me sentindo como um zumbi o tempo todo).
Tudo parecia sem saída, minha família só piorava, minha avó fanática religiosa morava com a gente e transformava tudo num inferno, minha relação com meu irmão estava bem ruim fazia tempo por causa dela (q sempre protegia ele e colocava a culpa de tudo em mim), além dos sermões nonsense de q todo mundo vai pro inferno, exceto ela e meia dúzia de pessoas da igreja dela. A escola era cada vez mais irritante, minha turma era terrível, mais de 50 pessoas e a maior parte não queria saber de nada e enchia o saco o dia todo, nenhum professor aguentava aquela turma, ficou até conhecida como a pior da história do colégio, até colocaram fogo no banheiro uma vez (ok, isso é engraçado kkkkkk Eu tbm já fiz todo mundo sair da sala achando que o ar condicionado estava queimando, mas foi sem querer). Meu ódio cada vez mais se direcionava à mim, e não ao mundo, e me sentia o pior ser da existência, não sabia o q fazer, como viveria sozinha, minha ansiedade estava maior q nunca, não sabia quem eu era e mais perguntas não paravam de aparecer. Tudo à minha volta só me deixava mais e mais estressada, e desabar nunca foi uma opção, chorar de raiva, ter um ataque, meu pai só me reprimiria mais e me faria sentir pior, desde criança só me dizia isso: "vc não tem querer" (me diga essa frase e me deixe inconsciente, caso contrário, se tiver uma faca por perto, vou te esfaquear umas 200 vezes ou até não aguentar mais, acredite, não existe a possibilidade de eu suportar ouvir essa frase denovo), "criança não têm estresse/não fica triste" e por aí vai. Isso só me irritaria mais até ter um surto psicótico e tentar matar minha família, então eu tinha q aguentar tudo calada, sem nunca demonstrar fraqueza, sem nunca demonstrar sentimento. Às vezes chorava no chuveiro, queria bater nas paredes, mas não podia, pra ninguém ouvir, é só ficava pior, era como ter uma câmera me filmando a cada segundo do dia, alguém vigiando, a sensação de prisão ainda pior...
Isso durou e se aprofundou até o ano seguinte, quando finalmente descobri o fórum e a existência da assexualidade. Várias coisas mudaram, minha turma se reduziu pela metade, e quase todos os mais irritantes mudaram de turma ou escola. Minha avó maluca achou um velho doido na igreja dela, se casou e se mudou, e apesar de ainda trabalhar e estudar, isso já não me incomodava tanto, usava o tempo gasto no trabalho pra pensar, refletir, já q apenas meu corpo ficava ocupado. Durante o auge da depressão, criei a ideia de q me matar seria o jeito mais fácil, q acabaria com tudo e era sem dúvida a melhor opção, e a única coisa que me impedia era o maldito instinto de autopreservação. Cheguei até a colocar facas no pescoço, mais de uma vez, mas faltava coragem, ou melhor, desespero. Esse pensamento continuou aqui, mas aos poucos foi se esvaindo, trocado por um sentimento de "eu não quero desistir, não quero perder pra esse mundo horrível". Ainda me sentia um monstro, mas aos poucos meu ódio pela humanidade voltava e se equilibrava mais com meu ódio por mim mesma. Descobrir o fórum foi como ativar uma válvula de escape em algo prestes a explodir, um alívio monumental. Saber q meu desinteresse em sexo (q eu já conhecia fazia tempo, só não sabia que era normal) tinha nome e muita gente na msm situação foi indescritivelmente bom. Entender mais um pedacinho de mim, me sentir mais validada como pessoa e ter com quem compartilhar partes importantes da minha existência para as quais a maioria não dá a mínima foi como descobrir um universo inteiro, e q era parte dele, q o motivo pra todos me dizerem q eu era errada, é q eu não deveria ser certa ali, me encaixava em outro lugar, q não sabia que existia. Nem tenho palavras para descrever o quanto agradeço aos criadores desse fórum, aos q o mantém e à quem me ajudou nesses momentos, cada palavra direcionada à mim, ou mesmo aquelas q eu simplesmente li e me identifiquei, ou apenas me distraí por um tempo, me fizeram um bem sem igual, se me curei da depressão, podem ter certeza q vcs tiveram papel fundamental nisso.
Passado aquele ano, eu estava perdida, a escola estava quase no fim, e não sabia o que fazer depois disso. Avancei em muitos pontos, estava me definindo dentro da assexualidade, lidava melhor com minha visão própria, apesar de ainda me arrepender amargamente, estava começando a aceitar meu corpo e pesquisar sobre questões de gênero. Me descobri como superdotada, algo q de certa forma eu sabia, sabia q era acima da  média, mas sempre me achei inferior, não acreditava q podia ser algo assim, isso tbm me ajudou muito a me entender. Também passei a agir mais independentemente, antes de fazer algo, pesava todos os prós e contras, e então decidia, sem me importar com o q os outros iam pensar, em especial meus pais, e apesar de um certo drama por não querer fazer faculdade a princípio (nada q me interessasse, mais 4 anos de tédio estavam fora de cogitação), acabei me interessando por arquitetura logo no início do ano, e tudo parecia bem. Faltei inúmeras vezes e inúmeras provas, terminei o ano com 4 ou 5 faltas a menos q o necessário para uma reprovação automática, mas passei com tranquilidade, inclusive no Enem e no THE (teste específico para o curso de arquitetura). Financeiramente, minha família não estava bem nesse ano, e eu tbm queria um pouco de paz, por isso decidi começar no ano seguinte (o THE valeria por 3 anos msm), mas o q estava ruim, piorou, até o ponto em q seria simplesmente impossível me manter na faculdade, ou seja, por algo totalmente fora do meu controle, não faria algo q ao longo desse ano havia se tornado um dos meus maiores sonhos. E foi isso, nem as faltas, nem dormir na aula e não saber regra de três até pouco antes do Enem, o q me impediu de ir pra faculdade foi a simples impossibilidade, falta de dinheiro, injustiça social. O ano após o término do médio foi bem monótono, dormia, acordava, comia, ia no banheiro, dormia denovo e por aí vai, quase não saía do quarto, virei reclusa, não queria mais nada, parecia q tudo tinha desabado ao meu redor, todos os meus sonhos, minha vontade de sair da casa dos meus pais e finalmente viver livre, tudo se foi, o mundo ficou cinza. Os dias eram iguais, às vezes tinha crises, mas era raro, na maior parte do tempo era só desânimo, minha vontade de viver tinha ido pro esgoto.
Demorou um ano pra me recuperar, pra querer me levantar e tentar de novo, mas depois de muito anime shonen, até eu fiquei minimamente motivada rsrs. Consegui um emprego, q por problemas com meus malditos documentos q atrasaram ao extremo, perdi 4 meses depois, e me desanimei um pouco. Nesse tempo pesquisei também sobre gênero, e foi uma confusão enorme, pq eu não sabia como me identificar, mudei algumas vezes de classificação, e no fim, como em superdotação, a última coisa que pesquisei foi a verdadeira. Sobre superdotação, passei por uma fase de querer saber quais transtornos psicológicos eu tinha, pq sabia q não era normal, e inclusive minha inteligência, tinha q ter algo a ver com algum problema, pesquisei de tudo, até esgotar as possibilidades, ou quase. Superdotação era algo q eu já tinha ouvido falar, mas não sabia nada sobre, basicamente achava q significava ser mais inteligente q o normal em algum sentido, ter alguma habilidade muito acima da média. Parecia algo q eu nunca poderia ter, pela baixa autoestima, e pesquisei sobre apenas pra esgotar por completo as possibilidades, e o q descobri é q até a fucking baixa autoestima q me fazia achar q não era superdotada é algo comum em superdotados, achei explicações para meu tédio com a escola, minhas emoções intensas, e mais uma pá de coisas sobre mim, resumindo, identifiquei mais um pedaço de mim (um bem grande). Com gênero, foi a msm coisa, mas por um motivo ligeiramente diferente. A sensação de inferioridade, dessa vez, era mais específica. Por aquele arrependimento, sentimentos confusos q eu ainda não tinha resolvido, autoestima aumentando e esse desprezo pelo q fiz ainda lá dentro... Considerar ser transgênero envolveria me resolver quanto à isso, já q eu me sentia inferior às mulheres, mas estaria me definindo como uma delas... Como eu poderia fazer isso? Como poderia querer fazer parte de um grupo q eu mesma menosprezei? Além disso, tinha reprimido isso por tanto tempo, q parecia loucura considerar, e algo q me confundia bastante é o fato de eu me interessar esteticamente e poder me atrair romanticamente apenas por mulheres, ou seja, se eu fosse trans, seria ace, demirromântica, homo e trans!? Não parece um pouco exagerado? Sabe, parece q eu quis me encaixar em todas as minorias possíveis ao msm tempo de propósito. Mas pra esgotar as possibilidades, eu ia ter q encarar, se não me identificasse, o dilema estaria desfeito, mas se me identificasse, teria um nó no cérebro. Assim q descobri sobre disforia e o q ela é, tive uma epifania, lembrei de dúzias de exemplos práticos de disforia q tive na vida: olhar para o espelho com fascinação, me perguntando como eu poderia estar dentro daquilo, apertar os testículos com raiva, desejando q sumissem, ficar manipulando o peito, imaginando como seria ter seios, sentir algo faltando ali, sentir algo sobrando lá... Odiar minha aparência, querer ter mãos e pés menores, falar e cantar com voz aguda escondida, me identificar na maioria esmagadora das vezes com personagens femininas, odiar meu corpo, ter nojo das partes íntimas, me sentir presa nele, ter me sentido mais à vontade do q nunca qnd sonhei q era uma garota, só usar personagens femininas pra me representar, pq os masculinos parecem "errados", ter sentido uma culpa, repulsa por mim mesma e sensação de estar errada colossais na primeira vez que me masturbei, muito embora eu nem soubesse o q é isso, logo não tinha opinião sobre ou idéias internalizadas, etc, etc, etc.
Foi um caos pra colocar todos esses pensamentos e emoções em ordem, e no final, ainda me sinto mal pelo q fiz, mas sei que não foi tudo culpa minha, nasci num ambiente tóxico e péssimo pra ser trans, inclusive minha família não sabe, são preconceituosos demais pra aceitar, e à essa altura já desisti deles, não me importa o q vão pensar, assim q sair da casa deles, quero distância e vou procurar tratamento hormonal. Minhã irmã (de 3 meses) e meu irmão (de 10 anos), são o q me deixa preocupada em sair de casa, meu irmão parece ser normal, e meus pais ficaram bem menos insuportáveis depois de tantos anos, depois de estragar a minha infância... (pois é, a maioria das pessoas lembra dela com nostalgia, eu lembro com alívio, sabendo q passou, odiei enquanto durou e estou feliz por ter acabado, a adolescência foi e está sendo dolorosa, mas teve muitos pontos positivos e me fez evoluir, a infância só me fez mal, me pergunto se essa opinião minha vai mudar algum dia...). Já minha irmã, não sei, não dá pra saber, mas torço pra que ela seja normal, msm q meus pais tenham ficado "menos piores" com o tempo, ser diferente nessa família ainda não é boa ideia... Gostaria de estar aqui pra ajudar caso ela seja diferente em algum sentido e precise de apoio, mas sinceramente, não aguento mais, cada segundo q passa estou mais perto de explodir, preciso me distanciar desse ambiente tóxico, e rápido. Agora estou estudando para um concurso público, se eu passar (e vou passar), terei um bom emprego, dinheiro, e encontrar um lugar pra morar sem meus pais pra encher o saco vai ser só questão de tempo. Ah, e só como curiosidade, estou aprendendo japonês, pq eu realmente odeio legendas kkkkkkkk
Se alguém leu, valeu, foi bem divertido (e tenso em algumas partes) escrever isso, me deu horas de distração e um mix bem grande de sentimentos diferentes, valeu bem a pena e me fez lembrar como o fluxo da minha vida correu, passei por umas partes complicadas, mas apesar dos altos e baixos, o saldo até agora é bem positivo, com certeza estou melhor q qnd nasci rsrs

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Puxa, poucas vezes li algo tão sincero.
Foi corajosa.


"Se você ficar sozinho, pega a solidão e dança" (Três Dias, Marcelo Camelo)


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