Olá, galera!
Sou a Ju, tenho 21 anos e, como muitos aqui, sou iniciante nos termos e definições da assexualidade. Até peço desculpas caso cometa algum equivoco, mas, convenhamos, a diversidade de orientações sexuais pode dar um nó na cabeça.
Me considero iniciante, mas já faz uns dois, três anos, que fui apresentada ao conceito de assexualidade. Na época, mesmo que muitos dos depoimentos traduzissem minhas experiências e percepções pessoais, descartei a ideia para um cantinho escuro da mente. Vez ou outra, quando me deparava com alguns entraves inexplicáveis, lembrava dessa informação e, com um sarcasmo autodirecionado, pensava: Era só o que me faltava!
A verdade é que eu tinha - e ainda tenho - medo de "me descobrir". Acho que sou o contrário de todo mundo que se diz aliviado ao conhecer o universo assexual, porque em vez de me sentir livre por ver mais gente como eu, me vejo aterrorizada por não ser como a grande maioria das pessoas. Entendam:
Enquanto não sabia da existência da assexualidade, eu era apenas uma jovem mulher sem sorte no amor. "É só uma fase, ainda não encontrei a pessoa certa, meus padrões são muito elevados para os caras alcançarem" e todos os outros clichês que se ouvem por aí, eu repetia para mim mesma. Cresci numa família evangélica então nunca tive cobranças por parte deles em relação a namorados - não até um tempo atrás, porque hoje em dia eles já começaram a "desconfiar". Na escola tive muitas paixonites; adorava trocar segredos sussurrados com as amigas, mas, se surgisse a oportunidade de contato direto, físico, com o alvo dessas conversas, eu surtava, pegava um ranço do pobre menino e o evitava como se fosse um leproso. Era bem loco! :P
Aos 16 anos me apaixonei de verdade, acho. Acordava todos os dias com a face do dito cujo na cabeça; ele perseguia meus pensamentos, marcava presença nas minhas conversas e fazia meus olhos brilharem sempre que estava por perto. Eu fui uma típica idiota apaixonada com exceção de um ponto: JAMAIS imaginei ele me beijando, tocando ou fazendo qualquer outra coisa que se espera de um casal "normal". Eu não era consciente disso, só depois de um tempo que fui perceber essa peculiaridade na minha forma de amar... Continuando, o possível relacionamento entre ele e eu não se consumou por diversas razões, uma delas é outra característica minha que só consegui notar após um período de autoavaliação: detesto estar apaixonada!
Nutrir aquele sentimento foi desgastante demais para mim. Mergulhei de cabeça naquilo, mas não conseguia estabelecer uma conexão com o outro. Mesmo o "amando", não via sentido em me declarar ou apenas ficar, pois, bem lá no fundo, não queria estar com ele... Que merda, né?
Hoje em dia, ainda me pergunto o que teria acontecido se tivesse tomado uma iniciativa a favor daquele sentimento. Aliás, a título de curiosidade, o maior contato que mantive com esse rapaz foi um toque rápido e leve de mãos. Ele tinha mãos tão bonitas...
Depois desse pseudoromance intensamente unilateral, eu meio que me fechei para outras tentativas. Houveram alguns rapazes, e até moças, que despertaram um leve interesse, mas, como uma boa sabotadora, eu sempre encontrava neles um defeito, algo que simplesmente não podia suportar, então deixava de lado e seguia minha vida.
Passei os últimos anos concentrada em assuntos alheios à relacionamentos romanticos. Me formei no ensino médio, fiz cursos, entrei na faculdade, consegui meu primeiro emprego... Coisas naturais na vida de qualquer pessoa. Desde 2016, comecei a investir em um hobbie muito prazeiroso: a escrita. Escrevo romances contemporâneos, eróticos, e me sinto super confortável criando enredos em que os protagonistas podem se apaixonar e buscar seu felizes para sempre juntos. Meu coração é feito de água com açúcar.
Só que esses dias me dei conta de um fato que me pareceu surpreendente: faço 22 anos em julho e permaneço irremediavelmente virgem. Isso me levou a reavaliar a minha história de vida. Fiz uma análise dos fatos que considerava isolados e percebi que existia um padrão no meu comportamento. Entre meu seleto e adorado grupo de amigas tenho fama de exigente e crítica, o que rende piadinhas internas sobre meu futuro como a louca dos gatos kkkkk O fato de não querer me casar é de conhecimento geral aqui em casa, meu irmão caçula, que aos 12 anos se apresenta como solteirão convicto, diz que nós dois vamos morar juntos para sempre, pois só ele pra me aturar e vice-versa. Minha mãe e minha irmã mais velha só se preocupam com meu desinteresse em namoros pelo temor que eu seja lésbica. Na vizinhança, já escutei uns cochichos bem indiscretos por esta minha solteirice eterna. De forma geral, nunca me incomodei com nada disso, porque acreditava fielmente que era normal, algo que 'quase' todo mundo sentia.
Porém, uma pesquisa mais aprofundada sobre a assexualidade e suas formas de manifestação trouxe luz àquilo que por anos tentei ocultar de mim mesma. Também trouxe uma pressão estranha na minha barriga, uma tensão que oscila cada vez que leio um depoimento no fórum: às vezes, rio da resistência que me afastou do contato com pessoas que podem me entender; outras vezes, tenho vontade de chorar por não ser aquilo que até pouco tempo achava que era.
Essa transição de identificação parece fácil para vocês, mas eu queria saber se realmente é. Porque, confesso, soa mais cômodo pensar que tenho um problema hormonal ou um bloqueio psicológico do que aceitar que sou assexual. Só que meus exames estão em dia, a saúde anda ótima, e o único trauma que tenho só me gerou um horror a baratas...
Não afirmo com convicção minha sexualidade, o espectro gray-a parece tentador pela flexibilidade da área cinza, mas acho que reinvidicar este rótulo só seria outra forma de dar voz a minha negação. Por mais inventiva que minha mente seja, não consigo me visualizar transando num futuro próximo ou em um relacionamento estável num futuro distante. Posso ser uma ACE romântica ou lithrromantica... sei lá! Acho que o título em si não importa muito, o que importa é conhecer cada elemento que me faz ser quem sou, é essencial "me descobrir" de todas as formas possíveis.
Caraca, isso quase virou uma biografia! Kkkkkkkkk
Estou empenhada a encarar esse novo mundo de descobertas com leveza. Ainda estou assustada, confusa com diversas coisas, por isso quero conversar com outras pessoas e tentar ajudar tanto quanto sou ajudada. Se ainda não notaram, eu tenho muito para falar, então contem com minha presença por aqui! Kkkkkkk
Grande abraço, companheiros de caminhada!
Sou a Ju, tenho 21 anos e, como muitos aqui, sou iniciante nos termos e definições da assexualidade. Até peço desculpas caso cometa algum equivoco, mas, convenhamos, a diversidade de orientações sexuais pode dar um nó na cabeça.
Me considero iniciante, mas já faz uns dois, três anos, que fui apresentada ao conceito de assexualidade. Na época, mesmo que muitos dos depoimentos traduzissem minhas experiências e percepções pessoais, descartei a ideia para um cantinho escuro da mente. Vez ou outra, quando me deparava com alguns entraves inexplicáveis, lembrava dessa informação e, com um sarcasmo autodirecionado, pensava: Era só o que me faltava!
A verdade é que eu tinha - e ainda tenho - medo de "me descobrir". Acho que sou o contrário de todo mundo que se diz aliviado ao conhecer o universo assexual, porque em vez de me sentir livre por ver mais gente como eu, me vejo aterrorizada por não ser como a grande maioria das pessoas. Entendam:
Enquanto não sabia da existência da assexualidade, eu era apenas uma jovem mulher sem sorte no amor. "É só uma fase, ainda não encontrei a pessoa certa, meus padrões são muito elevados para os caras alcançarem" e todos os outros clichês que se ouvem por aí, eu repetia para mim mesma. Cresci numa família evangélica então nunca tive cobranças por parte deles em relação a namorados - não até um tempo atrás, porque hoje em dia eles já começaram a "desconfiar". Na escola tive muitas paixonites; adorava trocar segredos sussurrados com as amigas, mas, se surgisse a oportunidade de contato direto, físico, com o alvo dessas conversas, eu surtava, pegava um ranço do pobre menino e o evitava como se fosse um leproso. Era bem loco! :P
Aos 16 anos me apaixonei de verdade, acho. Acordava todos os dias com a face do dito cujo na cabeça; ele perseguia meus pensamentos, marcava presença nas minhas conversas e fazia meus olhos brilharem sempre que estava por perto. Eu fui uma típica idiota apaixonada com exceção de um ponto: JAMAIS imaginei ele me beijando, tocando ou fazendo qualquer outra coisa que se espera de um casal "normal". Eu não era consciente disso, só depois de um tempo que fui perceber essa peculiaridade na minha forma de amar... Continuando, o possível relacionamento entre ele e eu não se consumou por diversas razões, uma delas é outra característica minha que só consegui notar após um período de autoavaliação: detesto estar apaixonada!
Nutrir aquele sentimento foi desgastante demais para mim. Mergulhei de cabeça naquilo, mas não conseguia estabelecer uma conexão com o outro. Mesmo o "amando", não via sentido em me declarar ou apenas ficar, pois, bem lá no fundo, não queria estar com ele... Que merda, né?
Hoje em dia, ainda me pergunto o que teria acontecido se tivesse tomado uma iniciativa a favor daquele sentimento. Aliás, a título de curiosidade, o maior contato que mantive com esse rapaz foi um toque rápido e leve de mãos. Ele tinha mãos tão bonitas...
Depois desse pseudoromance intensamente unilateral, eu meio que me fechei para outras tentativas. Houveram alguns rapazes, e até moças, que despertaram um leve interesse, mas, como uma boa sabotadora, eu sempre encontrava neles um defeito, algo que simplesmente não podia suportar, então deixava de lado e seguia minha vida.
Passei os últimos anos concentrada em assuntos alheios à relacionamentos romanticos. Me formei no ensino médio, fiz cursos, entrei na faculdade, consegui meu primeiro emprego... Coisas naturais na vida de qualquer pessoa. Desde 2016, comecei a investir em um hobbie muito prazeiroso: a escrita. Escrevo romances contemporâneos, eróticos, e me sinto super confortável criando enredos em que os protagonistas podem se apaixonar e buscar seu felizes para sempre juntos. Meu coração é feito de água com açúcar.
Só que esses dias me dei conta de um fato que me pareceu surpreendente: faço 22 anos em julho e permaneço irremediavelmente virgem. Isso me levou a reavaliar a minha história de vida. Fiz uma análise dos fatos que considerava isolados e percebi que existia um padrão no meu comportamento. Entre meu seleto e adorado grupo de amigas tenho fama de exigente e crítica, o que rende piadinhas internas sobre meu futuro como a louca dos gatos kkkkk O fato de não querer me casar é de conhecimento geral aqui em casa, meu irmão caçula, que aos 12 anos se apresenta como solteirão convicto, diz que nós dois vamos morar juntos para sempre, pois só ele pra me aturar e vice-versa. Minha mãe e minha irmã mais velha só se preocupam com meu desinteresse em namoros pelo temor que eu seja lésbica. Na vizinhança, já escutei uns cochichos bem indiscretos por esta minha solteirice eterna. De forma geral, nunca me incomodei com nada disso, porque acreditava fielmente que era normal, algo que 'quase' todo mundo sentia.
Porém, uma pesquisa mais aprofundada sobre a assexualidade e suas formas de manifestação trouxe luz àquilo que por anos tentei ocultar de mim mesma. Também trouxe uma pressão estranha na minha barriga, uma tensão que oscila cada vez que leio um depoimento no fórum: às vezes, rio da resistência que me afastou do contato com pessoas que podem me entender; outras vezes, tenho vontade de chorar por não ser aquilo que até pouco tempo achava que era.
Essa transição de identificação parece fácil para vocês, mas eu queria saber se realmente é. Porque, confesso, soa mais cômodo pensar que tenho um problema hormonal ou um bloqueio psicológico do que aceitar que sou assexual. Só que meus exames estão em dia, a saúde anda ótima, e o único trauma que tenho só me gerou um horror a baratas...
Não afirmo com convicção minha sexualidade, o espectro gray-a parece tentador pela flexibilidade da área cinza, mas acho que reinvidicar este rótulo só seria outra forma de dar voz a minha negação. Por mais inventiva que minha mente seja, não consigo me visualizar transando num futuro próximo ou em um relacionamento estável num futuro distante. Posso ser uma ACE romântica ou lithrromantica... sei lá! Acho que o título em si não importa muito, o que importa é conhecer cada elemento que me faz ser quem sou, é essencial "me descobrir" de todas as formas possíveis.
Caraca, isso quase virou uma biografia! Kkkkkkkkk
Estou empenhada a encarar esse novo mundo de descobertas com leveza. Ainda estou assustada, confusa com diversas coisas, por isso quero conversar com outras pessoas e tentar ajudar tanto quanto sou ajudada. Se ainda não notaram, eu tenho muito para falar, então contem com minha presença por aqui! Kkkkkkk
Grande abraço, companheiros de caminhada!