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descriptionExperiência nos serviços de saúde EmptyExperiência nos serviços de saúde

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Olá a todos, não tenho certeza se estou no tópico certo, já que isso é algo mais pessoal do que uma pesquisa acadêmica em si. Eu sou médica formada e me descobri como assexual e arromantica após o término da minha formação como médica. Durante boa parte da minha vida eu não fazia ideia do que a sigla A do LBGTQIA+ realmente significava, e quando eu descobri a minha identidade eu percebi o quanto minha formação acadêmica também me falhou nesse sentido. Lembro de ter aulas sobre como melhor cuidar e incluir membros da comunidade gay, trans, lésbicas, mas nunca nenhuma menção sobre assexualidade. Esse mês de junho me fez lembrar que tínhamos palestras e congressos LGBTs essa época do ano, mas eu pouco sei sobre o que os assexuais sofrem ao adentrarem os serviços de saúde. Estou tentando me educar melhor, no meu caso tenho muito pouca experiência como "paciente" assim digamos. Caso vocês estejam confortáveis em compartilhar gostaria de saber se em algum momento você se sentiu afetado pela sua assexualidade em um ambiente de saúde, como foi essa experiência e se vocês têm alguma opinião de como esses serviços podem ser melhor adaptados para melhor servir a comunidade. Estou começando a ler um pouco sobre o assunto mas achei que talvez a troca de experiências aqui também me seria muito útil. Caso alguém também conheça algum material no tema que queira compartilhar seria muito bem recebido. Deste já agradeço.

descriptionExperiência nos serviços de saúde EmptyRe: Experiência nos serviços de saúde

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Acho muito louvável sua preocupação com os pacientes, eu tenho um certo trauma de médicos, porque eu nasci com epilepsia e já recebi muita informação e tratamentos errados deles. Especificamente sobre atendimento médico enquanto pessoa assexual eu não consigo pensar em nada muito específico que eu tenha passado, mas eu demorei muito para me aceitar então talvez eu tenho deixado passar algumas coisas.

O que me vem a cabeça nesse momento são perguntas que podem ser invasivas, dependendo do tipo de atendimento médico, principalmente as que dizem respeito a atividade sexual, o que pode fazer algumas pessoas se sentirem mais constrangidas do que o comum (pensando bem isso já aconteceu comigo, porque eu tive medo de ser rotulado como "doente" pelo médico sem noção, que pediu até exame de sífilis para o meu zumbido no ouvido).

Terapias são mais complicadas nesse sentido, porque a minha assexualidade já foi desconsiderada por mais de um psicólogo.

descriptionExperiência nos serviços de saúde EmptyRe: Experiência nos serviços de saúde

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Franc1sc0 escreveu:
Acho muito louvável sua preocupação com os pacientes, eu tenho um certo trauma de médicos, porque eu nasci com epilepsia e já recebi muita informação e tratamentos errados deles. Especificamente sobre atendimento médico enquanto pessoa assexual eu não consigo pensar em nada muito específico que eu tenha passado, mas eu demorei muito para me aceitar então talvez eu tenho deixado passar algumas coisas.

O que me vem a cabeça nesse momento são perguntas que podem ser invasivas, dependendo do tipo de atendimento médico, principalmente as que dizem respeito a atividade sexual, o que pode fazer algumas pessoas se sentirem mais constrangidas do que o comum (pensando bem isso já aconteceu comigo, porque eu tive medo de ser rotulado como "doente" pelo médico sem noção, que pediu até exame de sífilis para o meu zumbido no ouvido).

Terapias são mais complicadas nesse sentido, porque a minha assexualidade já foi desconsiderada por mais de um psicólogo.


Muito obrigada pelo sua resposta, sinto muito que você tenha passado por essas experiências. Certamente como profissionais da saúde acredito que o mínimo que temos que fazer é tentarmos criar um ambiente em que nossos pacientes se sintam mais acolhidos, ainda mais que costumamos lidar com pessoas nos seus momentos de vida mais frágeis. Como parte da comunidade asexual me sinto ainda mais responsável por me educar mais nesse assunto em específico até para talvez no futuro poder ajudar a educar meus colegas. Acredito que se todos fizermos a nossa parte na nossa realidade e dia a dia todos podemos ter um futuro bem melhor envergonhado

descriptionExperiência nos serviços de saúde EmptyRe: Experiência nos serviços de saúde

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Puxa, que legal sua iniciativa! Tenho esse mesmo sentimento de que as diversas áreas da nossa sociedade estão caminhando para incluir mais o mundo LGBT+, mas o foco ainda é somente no comecinho da sigla, o resto é esquecido. Ou talvez não seja propositalmente esquecido, mas os profissionais não sabem como lidar com as pessoas assexuais, não-binárias, interssexuais, etc.

Como sou mulher, vou trazer pontos de vista da perspectiva feminina:

Felizmente nunca tive um tratamento médico traumatizante, mas sei que é só uma questão de tempo. Tenho receio de ser ridicularizada em ginecologistas, por exemplo, ou até tratada como doente. Já vi alguns relatos aqui no fórum de pessoas que tiveram que fazer exames hormonais para ver se estava tudo certo (antes de se descobrirem como assexuais, principalmente). Pensando na sua pergunta, acredito que os médicos não devem questionar a ausência de sexo na vida do paciente de modo intrusivo nem fazer comentários infelizes ou estimular a prática sexual como “solução”, afinal, ninguém nunca adoeceu por não fazer sexo. Quanto ao exame hormonal eu entendo que muitos médicos preferem prevenir, mas seria legal encontrar uma solução que envolvesse apresentar a falta de hormônios e a assexualidade como hipóteses igualmente relevantes.

Além disso, muitas coisas que aprendemos sobre o corpo humano acabam se restringindo ao padrão dos homens e mulheres cis e heterossexuais, deixando a gente e grande parte de outras comunidades no escuro. Felizmente a internet nos ajuda a nos informarmos com menos medo de ser julgado. Acredito que esse é um meio ótimo para os médicos responderem questões íntimas sem que os pacientes (assexuais ou não) passem pelo desconforto de serem ridicularizados.

Também acho que seria interessante profissionais preparados para casais que querem ter filhos fora dos métodos naturais. Eu fui pesquisar clínicas de inseminação para casais LGBTs no google, porque me lembrei de uma matéria sobre um médico que atendia esse público e, para minha surpresa, apareceram vários resultados! Ainda assim, fica o receio de um dia procurar um tratamento desses e ser tratada como uma mulher >heterossexual< e não >assexual heterorromântica<. Voltando ao começo do meu texto, é aquela velha questão de se lembrar que o mundo LGBT+ não se restringe somente a gays, lésbicas e trans, há muito mais pessoas nesse meio
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