Ajudou, sim. Mas não no sentido de um apoio terapêutico dado a mim, especialmente. Pois não venho aqui para buscar ajuda para um problema pessoal, nem com o propósito direto de prestar ajuda a quem quer que seja com seus problemas psicológicos. Venho aqui para dialogar sobre aspectos interessantes de um modo de vida que nos une, que nos co-identifica. Se uso a primeira pessoa do singular para expressar o início dessa tentativa de diálogo é por motivo meramente retórico. Poderia empregar o "nós", mas não me julgo capaz de resumir todas as nossas possíveis diferenças em uma categoria unificada de experiência subjetiva. Poderia empregar o "vocês", mas estaria me excluindo arrogantemente desta categoria de assexuais da qual também faço parte, do meu modo. Poderia também dirigir-me especialmente a "você", referindo-me à autora do depoimento, Ana P., respondendo assertivamente à sua dúvida, assegurando a ela esta ou aquela posição quanto a sua própria sexualidade, ou mesmo indicando, como fez a Cláudia, uma autoanálise com auxílio dos demais testemunhos aqui deste fórum. Mas prefiro colocar-me na posição frágil porém compartilhada de quem tem realmente dúvidas a respeito de quem seja esta pessoa definida como "assexual", de como ela enxerga o mundo e de como ela é percebida socialmente.
Eu não tenho medo de sexo. Não tenho desde há muito tempo. Mas não posso afirmar que nunca tive. Creio que até o mais afeiçoado às artes sexuais teve este medo durante a infância e principalmente na adolescência. Creio até que muitas pessoas heterossexuais, homossexuais, pansexuais, transsexuais, etc, ainda possam de vez em quando sofrer com o medo do sexo. Mas compartilhar as histórias de nossos medos (e de nossas aversões) ao sexo é de pouca ajuda quando se trata de solucionar "dúvidas pessoais". Pelo que narra a amiga Ana P., ela sabe perfeitamente de que ela gosta e o que ela quer: relacionamento romântico e assexual com pessoas adultas do mesmo sexo e mais maduras. Ana P. quer explicações: porquê é assim?
O que posso responder é dizer que suas dúvidas não são pessoais, são dúvidas de todos aqui. Ninguém aqui é sexólogo pois, como assexuais, somos todos inexperientes no assunto e o que sabemos, aprendemos principalmente na teoria estudada e memorizada. Mas poderíamos, se quiséssemos, sermos melhor assexólogos do que os sexólogos pretendem ser, bastando ver as coisas sob a nossa própria perspectiva e permanecermos abertos à livre e ampla discussão da matéria em todos os seus aspectos, evitando esta dicotomia ineficaz e artificial entre "doutores e pacientes".